Na capital do boato
PublishNews, Redação, 05/07/2019
Em ‘Agora serve o coração’, Nei Lopes recria a periferia carioca, desde os tempos coloniais até o século XXI, passando pelos anos de chumbo da ditadura militar

Mestre em entrelaçar ficção e realidade, e profundo conhecedor da história do Rio de Janeiro, Nei Lopes recria em Agora serve o coração (Record, 208 pp, R$ 39,90) a periferia carioca — suas glórias, orgulhos, sombras e mitos — desde os tempos coloniais até o século XXI, passando pelos anos de chumbo da ditadura militar. Na fictícia Marangatu, na Baixada Fluminense, as escolas de samba, os candomblés e a igreja católica não passavam de fantasias: de verdadeiro mesmo, só as organizações criminosas e as centenas de igrejas pentecostais. Marangatu era a capital do boato. Lá, qualquer notícia sem fundamento se espalhava e fazia vítimas. Essas forças teriam sido unificadas, segundo voz corrente, sob a influência da poderosa Iaiá de Marangatu, mulher “importante, majestosa e invejada”; uma Xica da Silva contemporânea. Sobre ela, criou-se o mito de que matava seus desafetos, extraía os corações e os congelava no Instituto de Biologia da universidade local. E essa lenda chegou até o monumental churrasco que ela promoveu um dia, e que ficou conhecido como a Festa dos Corações Ardentes.

Tags: ficção, Record
[05/07/2019 07:00:00]