Setor editorial brasileiro fecha em queda pelo quinto ano consecutivo, aponta Fipe
PublishNews, Redação, 29/04/2019
Compras governamentais crescem, mas não o suficiente para repor perdas e indústria do livro fecha 2018 em queda real de 4,5%

Marcos Pereira (SNEL), Vitor Tavares (CBL), Leda Paulani (Fipe) e Mariana Bueno (Fipe) durante a apresentação dos resultados da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro | © Carlo Carrenho
Marcos Pereira (SNEL), Vitor Tavares (CBL), Leda Paulani (Fipe) e Mariana Bueno (Fipe) durante a apresentação dos resultados da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro | © Carlo Carrenho
Todos os anos, as pessoas que trabalham com livros no Brasil ficam ansiosas para receber os resultados da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro encomendada à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). É a chance de ver, em números, aquilo que era só uma sensação. Em anos bons, hora de se certificar de que nadou a favor da maré. Em anos ruins, confirmar que o mar não estava para peixes. Nesse ano, a espera foi abreviada e, pela primeira vez, os resultados foram apresentados em abril. O que se viu foi uma queda real (considerando a inflação) de 4,5% e o tombo só não foi maior porque o governo aumentou as suas compras. Aqui vale salientar que o crescimento nas compras governamentais é natural. É que em 2017, ano-base de comparação, a compra tenderia a ser menor já que foram comprados livros apenas para o Ensino Médio e, no ano passado, para os alunos da Educação Infantil e para o Ensino Fundamental 1. Considerando apenas as vendas a mercado (aquelas que não são a governo), a queda foi de 10,1% já levando em conta a inflação no período. É interessante destacar que 2018 foi o quinto ano consecutivo que a pesquisa demonstra queda real no faturamento da indústria.

No ano passado, as editoras brasileiras colocaram no mercado 14.639 novos ISBNs e reimprimiram outros 32.189. De todos eles, foram produzidos 349,9 milhões de exemplares. Em relação ao ano anterior, isso representa queda de 11,03% no número de cópias produzidas. Foram vendidos 352 milhões de exemplares (-0,82% a menos do que em 2017), sendo 202,7 milhões (-8,84) para o mercado e 149,3 milhões (+12,62%) para o governo. Dessas vendas, se resultou faturamento total de R$ 5,11 bilhões.

Em termos reais, todos os subsetores apresentaram queda nas vendas. O que menos sofreu foi o de Religiosos que apresentou crescimento nominal de 1,07%, mas quando se considera a inflação, a queda foi de 2,6%. Agora, o subsetor que continua com a corda no pescoço é o de livros científicos, técnicos e profissionais (CTP), que caiu nominalmente 17,33% (20,3% se considerar a inflação). No ano passado, a Fipe já chamava a atenção para esse subsetor que já tinha acumulado perdas de 17% entre 2015 e 2017 e com essa queda de agora, as perdas de 2015 para cá já somam 44,9%. O subsetor de Didáticos apresentou queda nominal de 5,6% (9,1% real) e o subsetor Obras Gerais apresentou queda nominal de 3,3% (6,8% real). "Confesso que assusta no subsetor de Obras Gerais termos 10 milhões a menos de livros vendidos”, comentou Mariana Zahar, vice-presidente do SNEL.

Marcos Pereira, presidente do SNEL: “Uma armadilha perigosa é olhar os números e dizer ‘Que difícil!’, quando o grande aprendizado aqui é olhar e ver o que podemos fazer para reverter”
Marcos Pereira, presidente do SNEL: “Uma armadilha perigosa é olhar os números e dizer ‘Que difícil!’, quando o grande aprendizado aqui é olhar e ver o que podemos fazer para reverter”
Marcos Pereira, presidente do SNEL, ressaltou no evento de apresentação dos resultados da pesquisa na manhã desta segunda-feira (29), que o livro digital não está contemplado na pesquisa. “De 2016 a 2018, não temos dados dos livros digitais, e quando vejo a queda das vendas, me pergunto até que ponto houve uma substituição pelo formato digital. É difícil especular com precisão sobre isso, mas precisamos ter esta questão em mente”, disse. Mesmo em CTP, Pereira acha a questão relevante. “No caso do CTP, há portais [de conteúdo digital] e venda de conteúdo fracionado, e não estamos contemplando o digital, que é muito forte”, salientou. “Uma armadilha perigosa é olhar os números e dizer ‘Que difícil!’, quando o grande aprendizado aqui é olhar e ver o que podemos fazer para reverter como indústria e Estado, lembrando que o Estado somos nós”, completou.

O preço médio dos livros cresceu acima da inflação em quase todos os subsetores, menos, no de Religiosos. Neste sentido, destaque para o de Obras Gerais que saltou de R$ 10,83 para R$ 11,60, crescimento de 7,07%, acima portanto do IPCA que foi de 3,75% .

O impacto da crise nos números

Os prognósticos apresentados no início do ano passado davam conta de um ano difícil. Muito por conta de Copa do Mundo e de eleições, dois períodos em que, normalmente, o varejo de livros cai no País. E no meio do ano ainda veio a greve dos caminhoneiros que não era prevista, mas impactou negativamente a venda e a distribuição de livros no País. Mas nenhum desses fatores sazonais teve tanto impacto quanto a crise que deu seus primeiros sinais em abril passado, quando Saraiva e Cultura começaram a atrasar pagamentos e culminou com os respectivos pedidos de recuperação judicial entre outubro e novembro. O efeito desses movimentos das duas maiores redes de livrarias do país pode ser visto em números. As livrarias continuam sendo o principal canal de vendas de livros. Dos 202,7 milhões de exemplares vendidos, 93,7 milhões, ou 46,25%, foram comercializados nesses ambientes. Mas, em comparação com 2017, houve uma variação negativa de 20,6%.

Ainda olhando para os canais de distribuição, chama a atenção a performance das livrarias exclusivamente virtuais (onde a Amazon se enquadra). A participação desse canal pode até ser pequena ainda, totalizando 3,41% do faturamento total da indústria, mas, entre 2017 e 2018, houve crescimento de 25,20% do faturamento nesses canais, que saltou de R$ 100,3 milhões para R$ 125,6 milhões. Crescimento importante também do canal Distribuidores, o que pode indicar uma movimentação nas livrarias independentes. As editoras responderam que as vendas para esse canal cresceram 27,29% em relação a 2017. Uma novidade na pesquisa é o número de livros comercializados através de Clubes de Assinatura, que apesar de representar em 2018 somente 1,08% das vendas, indica um novo canal para as editoras.

Metodologia

A pesquisa é feita com base em questionários respondidos pelos editores. Nesse ano, foram ouvidas 202 editoras, sendo 185 emparelhadas ao ano anterior. Segundo o instituto de pesquisas, isso representa 68% do setor editorial em termos de faturamento. Os 32% restantes são inferidos estatisticamente.

Clique aqui para baixar a apresentação da pesquisa.

[29/04/2019 11:00:00]