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Os brasileiros no exterior e a Biblioteca Susana Ventura em Osaka
PublishNews, Felipe Lindoso, 04/04/2019
Em sua coluna, Felipe Lindoso conta os bastidores que possibilitaram a inauguração de uma biblioteca infantil dedicada à língua portuguesa no Japão

Equipe que preparou a inauguração da Biblioteca Susana Ventura, em Osaka, Japão | © Marina Suzuki / Redes sociais de Luiza Tanaka
Equipe que preparou a inauguração da Biblioteca Susana Ventura, em Osaka, Japão | © Marina Suzuki / Redes sociais de Luiza Tanaka
O Projeto Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira busca levantar sistematicamente a expansão dos estudos e pesquisas sobre nossa literatura no exterior. Já temos 347 professores, pesquisadores e tradutores no banco de dados, espalhados por 42 países e vinculados a 166 instituições. Já deu para que se pense em várias questões a partir desses dados.

Alguns dos obstáculos para que a nossa literatura seja melhor difundida já foram constatados. A distribuição é um deles. O Brazilian Publishers, programa promovido pela Apex/CBL, tem focado mais na venda de direitos autorais, com apoio na participação em feiras internacionais. A exportação de livros é relegada a um segundo plano e as possibilidades de aproveitamento dos formatos digitais são pouco exploradas. O resultado é que as poucas livrarias que vendem livros em português no resto do mundo têm mais facilidades – principalmente na Europa – de conseguir livros importados de Portugal. O frete encarece demais o livro brasileiro.

Outra questão importante são as comunidades de brasileiros que vivem no exterior. O Itamaraty calcula que cerca de três milhões de brasileiros vivem fora do país, e as maiores colônias são nos EUA, no Paraguai e no Japão, onde aproximadamente moram 170 mil brasileiros.

Os dados são precários, já que não existe controle efetivo disso e, principalmente nos EUA, existem muitos clandestinos submergidos nos dados tanto dos EUA quanto dos consulados brasileiros.

Além dos brasileiros – nascidos aqui e emigrados – as colônias obviamente têm filhos nascidos no exterior. O estatuto dessas crianças depende de cada país (se a nacionalidade é outorgada pelo local de nascimento ou pela origem étnica, ou pelos dois casos). Os filhos de brasileiros que nascem no exterior, por exemplo, podem ser registrados nos consulados e considerados como brasileiros natos, mesmo que mantenham outra nacionalidade. Isso é possível desde que foi outorgada a Constituição de 1988.

De qualquer forma, esse mercado potencial é muito pouco explorado, principalmente no que diz respeito ao ensino do português como língua de herança, seja com o apoio à formação bilíngue ou com a disponibilização de livros para essa multidão de expatriados. O Itamaraty mantém um programa de certificação de livros para o ensino do português como língua estrangeira, e existe uma articulação das comunidades de brasileiros no exterior, embora seja débil.

Existem igualmente algumas articulações de escritores brasileiros no exterior, inclusive com a organização de encontros. São escritores emigrados, ou emigrados que se tornaram escritores quando no exílio, que publicam blogs e às vezes livros autopublicados.

Por isso mesmo, quando se tem notícia da inauguração de uma biblioteca infantojuvenil em Osaka, no Japão, há motivo para comemorar.

Luzia Tanaka é formada em Educação Artística e Pedagogia aqui no Brasil, pelo convênio firmado entre Brasil e Japão em 2008, com a Federal do Mato Grosso e a Universidade Tokai. Há dez anos, ela fundou a Artel - Oficina de Arte Educação e Letramento, para ensinar português como língua de herança, para crianças de cinco aos 18 anos. Embora o Japão tenha o maior número de escolas brasileiras no exterior, segundo Luzia, não há nenhuma em Osaka.

Segundo ela, são duas as motivações que estimulam as ações de ensino do português como língua de herança. “Os pais têm esperança de um dia voltar ao Brasil. Já os educadores e intérpretes de língua japonesa em escolas japonesa entendem que trabalhar o português como língua de herança é fundamental na formação e fortalecimento das crianças e jovens para que possam se tornar pessoas capazes de serem o que desejam em qualquer lugar do mundo em que vivam”.

Além das aulas, a iniciativa da Artel mantém uma pequena biblioteca de livros infantis, e pretendia estabelecer um serviço de difusão, com o envio de livros pelo correio. Entretanto, o pequeno acervo de aproximadamente 400 títulos não permitia isso. Luzia, então, conheceu a professora e autora de livros infantis, Susana Ventura, através do International Institute of Education and Culture (IIEC), entidade japonesa que apoia as crianças estrangeiras que estudam em escolas japonesas e têm dificuldades no acompanhamento escolar. Apoia também o ensino do Português, e organiza Simpósios do Português como Língua de Herança em Hamamatsu, com apoio do Consulado Brasileiro. Hamamatsu, é a província com maior número de brasileiros no Japão. A duas se conheceram por ocasião do III Simpósio, que aconteceu em Nova Iorque em 2016. Luzia participou via teleconferência e Suzana estava presente.

De volta ao Brasil, Suzana Ventura usou seus contatos com escritores e editores da área, para ajudar no projeto de Luzia Tanaka: “Em 2017 e 2018 realizei curadoria para ampliação do acervo. Não tínhamos dinheiro e, portanto, o acervo atual, que conta com 1.500 livros (há 600 viajando neste momento para Osaka) - foi montado com doações motivadas por cartas minhas a autores, ilustradores, editores. Também recebemos uma doação do Pró-Saber (Paraisópolis), que nos deu duplicatas, e outra do Colégio Hugo Sarmento (que contribuiu com livros mais antigos, já usados, mas importantes para documentar a literatura brasileira para crianças e jovens)”.

Luzia Tanaka resolveu homenagear Suzana pelo apoio, dando seu nome à biblioteca, que foi inaugurada recentemente, no dia 21 de março.

Os livros foram transportados ao Japão gratuitamente pela empresa Susan Mudanças, com apoio do Consulado do Brasil em Nagoya. Portugal, através do Instituto Camões e de articulações com instituições como a Caritas e o Conselho Mundial de Igrejas, têm ações sistemáticas de ensino do português como língua de origem e apoio aos emigrados, principalmente na Europa.

Felipe Lindoso é jornalista, tradutor, editor e consultor de políticas públicas para o livro e leitura. Foi sócio da Editora Marco Zero, diretor da Câmara Brasileira do Livro e consultor do CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe, órgão da UNESCO. Publicou, em 2004, O Brasil pode ser um país de leitores? Política para a cultura, política para o livro, pela Summus Editorial. Mantêm o blog www.oxisdoproblema.com.br. Em sua coluna, Lindoso traz reflexões sobre as peculiaridades e dificuldades da vida editorial nesse nosso país de dimensões continentais, sem bibliotecas e com uma rede de livrarias muito precária. Sob uma visão sociológica, ele analisa, entre outras coisas, as razões que impedem belos e substanciosos livros de chegarem às mãos dos leitores brasileiros na quantidade e preço que merecem.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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