Assim foi o mercado editorial em 2018
PublishNews, Redação, 21/12/2018
Nossa redação releu as quase 3 mil matérias produzidas ao longo do ano e pinçou de lá aquilo que foi mais relevante para explicar o comportamento do mercado editorial e livreiro ao longo de 2018

Essa é a última edição do PublishNews em 2018, então, chega aquela hora de passar a régua e lembrar os momentos mais marcantes do período. Considerado por muitos como um dos mais – se não o mais – desafiador de toda a história da indústria editorial brasileira, 2018 foi recheado de grandes emoções (nem sempre boas emoções). Nossa equipe releu todas as quase três mil matérias e notas que produziu ao longo de 2018 em busca daquilo que pudesse resumir o ano.

Entre falência e recuperações judiciais

Um dos assuntos mais palpitantes do ano foi a crise que afetou – e feriu gravemente – as duas principais redes de varejo de livros no País: Saraiva e Cultura. A crise foi tão importante que muita gente até se esqueceu da falência da Laselva decretada em março ou que uma das mais relevantes distribuidoras do país, a Bookpartners, também pediu recuperação judicial em 2018.

Mas vamos lá tentar entender minimamente o que aconteceu com Saraiva e Cultura. Um fato ocorrido no finalzinho de 2017 – depois que a nossa redação já tinha colocado um ponto final na retrospectiva daquele ano – deixou muita gente com cara de interrogação. Já com dívidas em atraso com fornecedores e já tendo anunciado a “aquisição” da Fnac, a Livraria Cultura anunciou, no dia 26 de dezembro do ano passado, que estava comprando a Estante Virtual, maior marketplace de livros usados do país. A medida, explicava a varejista na ocasião, fazia parte da estratégia de transformar a Cultura em uma empresa digital. De lá para cá, a crise da varejista foi só ficando mais grave. Os sucessivos fechamentos de lojas da Fnac davam sinais claros de que a coisa não estava tomando o curso desejado. Em abril, fechou a icônica loja de Pinheiros, em maio, mais quatro. Com os cortes, a direção da rede dizia que ficaria no final com “poucas e boas” e que as lojas físicas cumpririam o papel de fortalecimento da marca. Por fim, em outubro, a Fnac saiu completamente do Brasil. Nesse contexto, a varejista pediu, ainda em outubro, a sua recuperação judicial, com uma dívida de R$ 285 milhões.

Com a Saraiva, o processo foi igualmente doloroso. Desde o começo do ano, a varejista vinha atrasando pagamentos até que entre março e abril, quando chegou a hora de pagar os acertos das vendas de Natal de 2017 e de volta às aulas – períodos fundamentais para o faturamento de livrarias e editoras –, chamou os editores e disse que reescalonaria os pagamentos. A situação já era tão grave em junho que o presidente da República recebeu representantes da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) para debaterem possíveis soluções para o setor. Mas a crise ainda estava longe de ser resolvida. Em agosto, a Folha fez as contas e concluiu que Saraiva demoraria 12 anos para pagar a sua dívida líquida, naquela época calculada em R$ 284 milhões. Mesmo assim, a varejista anunciava orgulhosa a abertura de um novo centro de distribuição em MG para movimentar seus produtos de tecnologia e telefonia, segmento que, no mês seguinte, abandonou, dada a baixa rentabilidade desses produtos, conforme a varejista evidenciou no gráfico abaixo publicado em relatório enviado aos seus acionistas.

Muitos editores estavam ansiosos para ver setembro chegar. Era o mês que a Saraiva começaria a pagar os débitos renegociados lá no começo do ano. Setembro chegou, mas o pagamento, não. No início de novembro, a Saraiva chegou com a proposta de recuperação extrajudicial, mas como gato escaldado tem medo de água fria, os editores não aceitaram e o único caminho possível seria a recuperação judicial pedida no dia 23 daquele mesmo mês. A dívida informada à Justiça foi de R$ 675 milhões.

Durante o período de recuperação judicial, ficam suspensos todas as ações ou execuções contra as empresas que terão que apresentar relatórios mensais à Justiça demonstrando o cumprimento do plano estabelecido.

Entre compras, aquisições, fusões, o mercado ficou mais consolidado em 2018

É um movimento global. Para ganhar força e fazer frente a todas as adversidades do mundo lá fora, as empresas se unem por meio de aquisições ou fusões. No mercado editorial isso não é diferente. Dois desses movimentos foram muito relevantes para o mercado brasileiro. Primeiro, a Kroton, gigante do segmento de educação superior, comprou a Somos, igualmente gigante na educação básica, o que elevou a Kroton a maior grupo de Educação Privada do país. O outro momento importante neste sentido foi quando a Penguin Random House assumiu o controle da Companhia das Letras em outubro. Outras movimentações neste sentido chamaram a atenção, como a aquisição do catálogo de idiomas do Grupo Gen e dos ativos editoriais da HSM pela Alta Books; o acordo entre o Ibep, em recuperação judicial, e a FTD e a união entre Callis e Girassol.

O mundo segundo os brasileiros

O ano que está chegando ao fim foi especialmente bom para editores, autores, bibliotecas e plataformas de leitura brasileiros no exterior. Alguns exemplos: Roger Mello teve um dos seus livros figurados na lista da Associação Americana de Bibliotecas; Cristino Wapichana e Graça Lima ganham prêmio na Suécia; Marcelo D´Salete venceu o Eisner; cinco brasileiros concorreram aos prêmios da Feira do Livro de Londres e a TAG venceu um deles, e a Biblioteca Villa-Lobos (SP) foi eleita uma das melhores bibliotecas do mundo pela Federação Internacional de Associações de Bibliotecas (IFLA).

Livros para ouvir

No ano em que os cientistas provaram que os audiolivros são mais envolventes do que cinema ou TV e em que a Feira do Livro de Frankfurt dedicou programação especial a eles, duas plataformas internacionais anunciaram o seu desembarque no Brasil. Primeiro chegou o Google com serviço a la carte e em parceria com Ubook e Tocalivros e, mais recentemente, a sueca Storytel, que montou um time de brasileiros para começar as operações em 2019.

O livro em Brasília

Um dos momentos mais importantes e festejados pelo povo do livro foi a assinatura do presidente Temer na Lei que estabelece a Política Nacional de Leitura e Escrita, apelidada como Lei Castilho. A lei estabelece estratégias para promoção do livro, a literatura, a escrita e as bibliotecas no Brasil, mas carece de regulamentação, que ainda não saiu. Outro momento importante em Brasília foi a criação do Grupo de Trabalho (GT) que buscou debater a crise do varejo de livros no Brasil. Encabeçado pelo Ministério da Cultura (MinC), o GT elaborou uma proposta de Medida Provisória encaminhada à Casa Civil na qual está uma possível Política Nacional de Regulação do Comércio de Livros. No entanto, até o fechamento desta edição, a Casa Civil não deu encaminhamento, indicando que o trabalho foi em vão.

Para finalizar 2018, lembramos que Carlo Carrenho, fundador do PublishNews, escreveu uma mensagem de fim de ano, em que relaciona o início do inverno no Hemisfério Norte com a atual situação do mercado editorial para concluir: “há duas maneiras de encarar o solstício de inverno deste dia 21 de dezembro. A primeira é lamentar, de forma pessimista, que será o dia mais curto do ano. A segunda é comemorar, de forma otimista, que a partir de hoje cada dia será melhor”.

[21/12/2018 09:20:00]