Terminado o momento gastronômico, trabalhei um pouco com as dificuldades de habilitar o VPN em conexão com o wi-fi do Hotel (pois os dois caíam o tempo todo) para atualizar as caixas de mensagens antes de seguir para o trem.
Logo que chegamos à estação, tomaríamos o trem de alta velocidade: uma breve viagem de duas horas até cidade de Tai’an. No meio tempo, na primeira classe do charmoso trem, definitivamente desisti de instalar o WeChat. E, depois, fiz algumas pesquisas sobre o mercado editorial chinês e o crescimento da importação de livros de conteúdo brasileiro a partir das indústrias gráficas chinesas.
Nos últimos anos, as gráficas brasileiras perderam muito de sua produção devido ao baixo custo da produção na China. Mais tarde a Yolanda Liu, da China Renmin University Press, me informaria que muitas gráficas, públicas e privadas, foram fechadas e expulsas de Pequim para outras províncias menores, devido à grande poluição, que se tornou um problema muito sério de saúde na capital chinesa. De fato, em Beijing, bastava abrir a janela do táxi, e parecia que o ar de fora era o de um restaurante mal ventilado feito para fumantes: os efeitos da poluição aqui são visíveis e sensíveis ao olfato. Somente agora as autoridades estão a compreender a relevância da consciência com o meio ambiente, e trabalham com esses novos padrões para construir a cidade de Tai’an como um espaço novo e privilegiado para criar uma Cidade de Gráficas e Publicações, a “Taishan Press Publishing Town”.
Ainda no trem, nas pesquisas que fiz pelo celular (bendito VPN) pude ler também que o controle pessoal e de conteúdo é uma verdadeira obsessão aqui, e afinal tem seus motivos, já que, sem controle, com mais de um bilhão de pessoas, talvez fosse mesmo impossível levar um país tão desafiador no caminho do crescimento.
Os resultados perceptíveis do controle foram os seguintes: pediram meu passaporte para a autorização de compra da viagem interna de trem e, ao chegar no hotel, cada recepcionista mantinha uma tela com identificação facial - enquanto eu falava com a gentil chinesa, dava nervoso ver o meu rosto na tela sendo perseguido por um retângulo amarelo flutuante. Quase como o Facebook e o Instagram marcando as carinhas nas fotos e vídeos, só que de um jeito menos amigável e mais intimidador. Afinal, Facebook e Instagram fingem que não usam os nossos dados, mas os chineses não fazem questão de esconder o que estão fazendo.
Chegou então o momento do primeiro compromisso da Conferência: o Jantar de Boas-vindas!
Meu assento estava na mesa quatro, com o vice-diretor da Zona de Desenvolvimento Econômico de Tai’an, entre outras autoridades locais, convidados internacionais e acompanhantes dos estrangeiros. Trocamos cartões e pude falar brevemente com o mr. Richard Baensch, norte-americano super gente boa e já habituado aos chineses, com o sr. Francisco Requena, espanhol que gerencia uma empresa de e-learning com atuação no Santander do Brasil, e com a gentil Yolanda Liu. Durante a refeição era suposto comer e conversar com os convivas e vieram vários editores para conhecer os convidados internacionais. Afinal, todos já tinham lido minha apresentação e vinham com o dever de casa feito, com muitas perguntas e desejando saber mais do Brasil.
A parte de interação foi, no fim das contas, muito mais fácil do que a gastronomia do belo jantar. Descobri, do pior jeito, que chineses adoram pimenta forte. Porém, enquanto eu ventilava discretamente para aliviar a ardência, o líder da mesa, muito animado, puxava o ‘Ganbei!’ e todos interrompiam as conversas paralelas e saudavam-se entre si. Bem engraçado.
Zài Jiàn!
Veja abaixo alguns cliques que a Paula fez no seu segundo dia de China
*Paula Cajaty é editora da brasileira Jaguatirica e da portuguesa Gato Bravo, escritora e Diretora de Comunicação da Libre.