Foi épico?
PublishNews, Luiz Machanoscki - Jesus*, 12/12/2018
Luiz Machanoscki, o Jesus Livreiro (e sereio nas horas vagas), escreve sobre o que viu na CCXP e faz reflexões sobre o mercado editorial mais tradicional

'Criativos e transgressores': Jesus Livreiro faz cosplay de serio na CCXP
'Criativos e transgressores': Jesus Livreiro faz cosplay de serio na CCXP
Findou-se a CCXP 2018 de forma épica como era esperado pelo apaixonado e imenso público que compareceu aos cinco dias do evento. Havia também uma plena satisfação dos profissionais responsáveis pelo show, esses que não se cansam de procurar o que e quem encanta seu consumidor.

Dessa vez, longe das responsabilidade e restrições de representar profissionalmente uma empresa, estive integralmente na Artists’ Alley. Setor onde novos, independentes e já consagrados artistas, quadrinistas e roteiristas expõem suas obras diretamente ao público. São romances, quadrinhos, ilustrações e uma série de produtos autorais.

Citando o release oficial:

"O papel permite tudo, e é essa liberdade que proporciona o surgimento de grandes ideias. Antes de chegarem nos quadrinhos, nos livros ou nas telonas, os personagens que nós amamos nasceram dos esboços, das anotações e dos storyboards de vários artistas...”

Bonito, né? E a realidade é ainda mais bela e cheia de suor.

Colocarei aqui algumas reflexões que podem ser úteis para o mercado editorial mais tradicional, que hora e meia rui em alguma parte e deixa uma estrutura frágil exposta.

Primeiramente, gostaria de deixar claro a gigantesca qualidade da maioria dos artistas presentes. Muitas vezes os autores possuem uma gama monstruosa de habilidades, permeando da concepção a arte final. Sendo eles letristas ou roteiristas. O mais gostoso aqui é que são todos vendedores! Ficando atrás das mesas em contato direto com os fãs e novos consumidores. Essa proximidade permite uma clareza de conteúdo e transparece uma verdade aguda que nenhum texto publicitário pode emular. Não estou sendo contra as práticas que ajudam e muito, a vender livros. Apenas que podemos aprender com diferentes abordagens de negócio e comunicação em meios artísticos.

O evento em sua totalidade foi argumentado para a Artists’ Alley fazer sentido ao lado de lojas de roupas que faturaram milhões nesses poucos dias, por exemplo. Tudo foi concebido coerentemente pelos desejos do público. Jovens que podem dormir nas filas, comprar pantufas e vestir literalmente a camisa da marca, do próprio evento ou se fantasiar todo para ser seu personagem favorito. Aliás, os cosplayers são uma atração fundamental para o sucesso da programação. E eles são incríveis.

Vi também muitos autores de crowdfunding passando os limites do contato on-line. Como foi bonito presenciar autores recebendo e retribuindo o carinho dos apoiadores! Apagando assim linhas que impediam essas manifestações. Essa possibilidade atraiu muitos consumidores que veem essa etapa como uma experiência única e essencial.

Falando nisso, numa outra ocasião, uma amiga me perguntou “Afinal, o que é essa experiência de compra?” Nesse caso é descobrir que palavras de admiração nas redes sociais são tão verdadeiras quanto abraços e choros emocionados.

Nos lançamentos dessa CCXP, vi títulos muito criativos e transgressores, não alinhados com nosso mercado mais regrado e atualmente temeroso pelo futuro das livrarias. A questão de distribuição, venda e mesmo edição não deve ser vista como um conflito de modelos. Tenho esperança em trabalhos cuidadosos e junções de mentes criativas contra a crise. Conheço muitos profissionais já trabalhando em soluções criativas para deixar o livro mais acessível. Se o trabalho do marketing editorial não é exatamente lapidar joias brutas e os expor da melhor forma, não sei qual é. Lembrando que não acredito apenas em um ou outro modo apenas. As joias brilharão da mesma forma.

Não é uma luz no fim do túnel. Talvez seja uma chama de esperança para guiar aqueles contrários a viver na escuridão. É mais uma questão de aprendizado mútuo.

Me deu vontade de editar todo mundo ali. Não era uma necessidade, mas acredito que histórias podem atingir mais pessoas e serem melhor propagadas com um trabalho conjunto.

Vi também algumas editoras geniais ali no meio, apoiando seus autores e achando o máximo a liberdade de criação não ser atropelada por contratos. Casas que tem fidelidade de princípios editoriais, criatividade e tato para dialogar com seus profissionais, tanto quanto esses criadores têm para interagir com seu público.

Senti falta de algumas editoras tradicionalmente vinculadas a esses tipos de eventos. Pudera! Ter a crise como justificativa é lógico e cauteloso. E apesar de não ter visto algumas das minhas publicadoras favoritas, encontrei verdadeiras personalidades no modo de pensar o livro como negócio. Fiquei lisonjeado por poder apertar mãos calejadas nos meios editoriais.

Trabalhos originais e sucesso podem começar em Frankfurt, no Catarse ou naquela feirinha tradicional que bateu recorde de público. Todo artista tem de ir aonde o povo está. E seu trabalho também.

Presenciei o épico. Numa jornada protagonizada por heróis empunhando seus pincéis e movendo uma legião em busca de boas histórias. A indústria Pop ajuda o mundo livreiro a encontrar um espaço mais idílico para receber esses famintos novos leitores.

Parabenizo esses artistas talentosos e agradeço a cada contato. Tenho certeza que surgirão bons projetos e novas amizades.


* Luiz Machanoscki, também conhecido por Jesus, foi promotor editorial da DarkSide. É livreiro há mais de 10 anos, tentando utilizar os conhecimentos de Marketing e Pedagogia para o bem maior do leitor e dos profissionais do ramo. E Luiz – ou Jesus – tem certeza que essas pessoas lhe ensinam diariamente muito mais do que poderia esperar.

Tags: CCXP 2018, Jesus
[12/12/2018 09:00:00]