Os jovens talentos de 2018
PublishNews, Redação, 31/08/2018
Conheça os cinco profissionais ganhadores do Prêmio Jovens Talentos da Indústria do Livro de 2018

Qualquer indústria demanda renovação. Com a do livro – pautada na sua essência pela criatividade, pelo apreço ao novo e pelo dinamismo -, claro, isso não poderia ser diferente. Foi pensando nisso que o PublishNews lançou, em 2015, o Prêmio Jovens Talentos da Indústria do Livro, que procura entre os profissionais do mercado editorial brasileiro aqueles que tenham contribuído de forma relevante e notável para o crescimento da indústria. Agora, em 2018, quando o prêmio chega a sua quarta edição, isso não poderia deixar de ser diferente. Uma mescla de competências caracteriza os cinco ganhadores que acabam de ser escolhidos pelo júri formado por Carlo Carrenho (PublishNews); Marifé Boix García (Feira do Livro de Frankfurt) e Gustavo Lembert (TAG), último vencedor do prêmio.

Juntos, eles decidiram que Cecília Arbolave (Lote 42), Diana Passy (Companhia das Letras), Gil Sales (Editora do Brasil), Raíssa Pena (Catarse) e Renata Nakano (Clube de Leitura Quindim) são os ganhadores desta quarta edição do prêmio realizado pelo PublishNews, com patrocínio do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e apoio da Feira do Livro de Frankfurt.

A quarta edição do Jovens Talentos recebeu 36 inscrições, vindas de diversas partes do Brasil. "A qualidade dos inscritos me surpreendeu positivamente este ano. Normalmente, a distância dos ganhadores da média dos concorrentes é grande, mas neste ano havia muitos candidatos muito capacitados, o que deu um trabalho extra ao júri", comentou Carrenho. "Como sempre, procuramos identificar talentos que não apenas fazem bem seu trabalho e sua função, mas as extrapolam de forma criativa e inovadora. E isto é inegável nos trabalhos dos cinco vencedores. Como três quartos da força de trabalho em editoras no mundo ocidental é feminina, eu fico muito feliz de ver quatro jovens mulheres mostrando um talento fora do comum entre os vencedores", completou.

Os cinco já ganharam ingressos VIP para o Business Club, a área exclusiva da Feira de Frankfurt. O Prêmio Especial, que dará ao vencedor uma viagem com as despesas de passagens, hospedagem e ajuda de custo de 500 euros, será anunciado até o próximo dia 5 em uma live na página do PublishNews no Facebook.

Conheça um pouco cada um dos ganhadores desta edição (por ordem alfabética):

Independente e defensora do "slow publishing"

A argentina radicada no Brasil defende, à frente da Lote 42, o modelo de slow publishing, em que cada obra é trabalhada sem pressa, pensando no formato mais adequado para que o livro enquanto objeto acrescente camadas de sentido à história. Na casa dirigida por ela e por seu sócio João Varella, Cecília é responsável desde o processo de editoração, passando pela concepção do projeto gráfico e pela divulgação. É, além disso, uma das criadoras da Feira Miolo(s), Tinta Fresca, Arruaça e Pátio 42, todas elas voltadas para a divulgação e promoção do livro independente. É também co-criadora da Banca Tatuí, primeira banca dedicada totalmente à produção de editoras independentes no Brasil. Em 2015, foi eleita uma das “30 mulheres com menos de 30 anos para ficar de olho” pelo portal M de Mulher e esteve no Invitation Programme da Feira do Livro de Frankfurt no ano passado. Estela Vilela, presidente da Associação Brasileira de Encadernação e Restauro, foi uma das madrinhas de Cecília no prêmio. Em seu depoimento, ela diz que Cecília mantém uma “incansável atenção aos detalhes” e que os livros que editados pela profissional “dão esperança ao futuro editorial no Brasil”. Outra que endossou a candidatura de Cecília foi Hilde Fogo, gerente de backselling & produtos da Fedrigoni Papeis. Ela diz que o trabalho de Cecília é “ousado” e prova de que “o papel ainda tem muito a dizer”. Cecília recebeu suporte do diplomata Antônio Freitas (Tapera Taperá), do artista uruguaio Gervasio Troche (de quem Cecília organizou uma turnê pelo Brasil), do editor argentino Victor Maulumián (Ediciones Godot) e de Adriane Freitag David, supervisora de Ação Cultural da Biblioteca Mário de Andrade.

A rainha dos millennials

No Grupo Companhia das Letras desde 2009, Diana Passy é hoje analista de Marketing e uma das responsável pela seleção de originais para o selo Seguinte, voltado para a publicação de livros para jovens adultos. Além disso, foi uma das idealizadoras da Flipop, festival literário voltado para esse público que, na sua segunda edição, foi abraçado (com sucesso) por outras editoras além da Companhia. Em sua candidatura, Diana aponta que o seu papel vai além do de selecionar e divulgar livros, mas “também desenvolver e alimentar um mercado que ainda tem muito espaço para crescer. E isso inclui conversar sempre com os leitores, apoiar os autores e unir forças com outras editoras e empresas para criar iniciativas que alimentem e ampliem essa comunidade”. André Conti, ex-colega de Passy na Companhia e hoje editor da Todavia, lembrou na sua indicação que Diana foi também responsável pela criação do Blog da Companhia e as páginas da editora no Twitter e Facebook e que o trabalho da profissional “criou um padrão que acabou sendo o utilizado por praticamente toda a indústria do livro no Brasil. Se hoje é comum que uma editora tenha um blog, por exemplo, é bastante provável que ele siga os modelos e linguagens criados pela Diana”. A candidatura de Diana ganhou reforço ainda das agentes literárias Maria Feltrin Roman (New Leaf LIterary & Media de Nova York), Taissa Reis e Gui Liaga (Agência Página 7); de seus concorrentes (e parceiros no Flipop) Bárbara Bressanin (Planeta), Flávia Lago (V&R) e Raquel Cozer (HarperCollins); da autora Íris Figueiredo e dos ganhadores da primeira edição do JT Daniel Lameira, Jéssica Ferrara (Universo dos Livros) e Veronica Gonzales (Globo Alt).

Homem de uma casa só

Gil Vieira Sales começou a sua carreira na Editora do Brasil em 2007 como estagiário. Onze anos depois, ele é supervisor editorial do segmento de livros infantis e juvenis da editora que acaba de completar 75 anos. Nesse período, ajudou, segundo relatos dos próprios diretores da casa, a renovar e a reposicionar o catálogo da editora no mercado. Para isso, Gil diz que propôs algo aparentemente simples: “diálogo, pés no chão e perspicácia para entender e traduzir o mercado no qual atuamos, respeitando primordialmente nossos leitores (e a diversidade inerente a eles)”. A sua candidatura é endossada pelos diretores da casa. Vicente Tortamano Avanso, diretor geral da Brasil, diz que Gil foi “o principal agente de mudança do posicionamento e do sucesso das nossas obras voltadas para o segmento em que atua”. Felipe Ramos Poletti, diretor editorial, lembra que o profissional entrou como estagiário na Editora e “desde então, ele vem trilhando uma carreira ímpar na empresa e no mercado editorial como um todo” e que a atuação de Gil na internacionalização da marca é “fundamental”. Gil recebeu ainda a indicação dos criadores Anna Claudia Ramos, Rosinha e Manuel Filho para quem o trabalho de Gil tem um atributo especial: ele “não hesita em abraçar temas relevantes da atualidade como homofobia, misoginia e tortura”. Gil recebeu ainda o suporte dos colegas Sérgio Alves, Marcia Leite, Angélica Pizzutto Pozzani, Helana Poças Leitão e dos especialistas na literatura infantil e juvenil Ísis Valéria e Volnei Canônica.

Crowdfunding não é vaquinha

Diretora de Publicações do Catarse, a mineira Raíssa Pena entrou para a indústria do livro pela porta dos autores. Em 2016, juntou algumas fotos e entrevistas que tinha colhido com dois amigos e, juntos, eles organizaram o livro Casa e chão – Arquitetura e Histórias de Belo Horizonte, posto no Catarse, plataforma de financiamento coletivo. O projeto amealhou R$ 56 mil e foram publicados 1.500 exemplares. No ano seguinte, depois de notar um aumento surpreendente no número de campanhas de livros, a equipe do Catarse resolveu chamar Raíssa para assumir o leme dessa categoria. “Passamos então a olhar para o conjunto de editores, autores, leitores e demais profissionais do setor como a ‘comunidade de publicações’”, defendeu na sua candidatura. Dos R$ 84 milhões arrecadados pelo Catarse, R$ 36 milhões eram publicações. Em 2017, primeiro ano de Raíssa na plataforma, foram financiados 726 projetos nessa área. Esse número era 68% maior do que o visto pela empresa no ano anterior. “O uso do crowdfunding como estratégia de negócio para as editoras aconteceu não por acaso em meio à crise do modelo tradicional”, defendeu Raíssa na sua candidatura. “Crowdfunding faz sentido, movimenta dinheiro e alcança uma comunidade organicamente interessada em cada tema. Minha missão tem sido traduzir essa boa nova aos decisores da nossa indústria. Grande parte do meu esforço tem sido também deslocar o conceito de crowdfunding das conotações de amadorismo e trazê-lo para a mesa dos adultos. Financiamento coletivo para livros não é vaquinha: é estratégia de marketing e fonte de receita”, completou. A sua candidatura foi apoiada por Geraldo Aleandro, diretor de comunidade do Catarse.

A rainha dos baixinhos

Renata Nakano começou a sua carreira no livro bem jovem, aos 18 anos, como estagiária da Melhoramentos. Teve passagens pela Larousse e Miró até que foi selecionada pelo programa de bolsas da biblioteca de literatura infantil de Munique, na Alemanha. De volta ao Brasil, começou um mestrado na PUC-Rio e passou a fazer parte da Cátedra Unesco de Leitura. Foi nessa época também que começou a trabalhar na Casa da Palavra onde ajudou a desenvolver a linha de livros infantis da editora que posteriormente foi comprada pela LeYa. Com essa transação, resolveu elaborar um plano de negócios e o apresentou a investidores que resolveram apoiar a criação da Edições de Janeiro. Ingressou no MBA de Gestão de Negócios do Ibmec e como trabalho de conclusão de curso, desenvolveu um modelo de clube de assinaturas de livros infantis com foco na família. Nessa mesma época, Volnei Canônica, que endossou a candidatura de Renata, estava saindo do Ministério da Cultura onde atuava como diretor do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas e, com ele, Nakano montou o Clube de Leitura Quindim, que conquistou 500 assinantes no seu primeiro ano. “Se nosso maior concorrente investiu R$ 800 mil no primeiro ano e o terminou com 500 assinantes, tenho orgulho em dizer investimos 10 vezes menos (R$ 70 mil) e conquistamos os mesmos 500 assinantes em nosso primeiro ano”, defendeu em sua candidatura que recebeu ainda o apoio dos ilustradores Roger Mello, Renato Moriconi, Raquel Matsushita e Graça Lima e da editora Márcia Lígia Guidin.

[31/08/2018 10:18:00]