Na Casa PublishNews, curadores lançam manifesto em favor de eventos literários
PublishNews, Redação, 31/07/2018
O documento pede, entre outras coisas, a ampliação dos investimentos governamentais para o setor do Livro e que estatais destinem um percentual de investimento em ações de promoção da leitura no país

Guiomar de Grammont lê manifesto que foi assinado por curadores de importantes eventos literários brasileiros | © Marcelo Marques
Guiomar de Grammont lê manifesto que foi assinado por curadores de importantes eventos literários brasileiros | © Marcelo Marques

Neste ano, dentro da programação da Casa PublishNews em Paraty, curadores de eventos literários lançaram um manifesto em que pedem, entre outras coisas, que os investimentos governamentais para o setor do Livro sejam ampliados e se tornem Lei Orçamentária, estabelecendo, inclusive, um percentual de investimentos das empresas estatais para promoção de atividades de formação de leitores no Brasil. O documento é assinado por nomes como Fabiane Burlamaqui, da Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo; Guiomar de Grammont, do Fórum das Letras de Ouro Preto; Afonso Borges, do Fliaraxá, e Julio Silveira, do Ler – Salão Carioca do Livro.

Leia abaixo a íntegra do manifesto

MANIFESTO DOS ORGANIZADORES DE EVENTOS LITERARIOS DO BRASIL

Os eventos literários não são recentes, existem no Brasil há mais de 70 anos, como mostra a bem consolidada Feira do Livro de Porto Alegre. A partir dos últimos 20 anos, contudo, o país conheceu um boom de criação de eventos literários, em diferentes lugares e dimensões, das grandes cidades às mais recônditas regiões.

Esse boom se deveu a inúmeros fatores, dentre os quais, o mais importante, sem dúvida, foram as Leis de Incentivo, que possibilitaram que as empresas brasileiras trocassem impostos por incentivos culturais. Esses eventos criaram uma eficiente rede, que gerou inúmeros empregos e serviços, dinamizando de forma inédita o setor cultural e, em particular a cadeia produtiva e de circulação do livro no Brasil. Nessa constituição, tiveram importância fundamental, sem dúvida, as Bienais do Livro, que começaram a desenvolver programações literárias para atrair público para seus espaços, e o pioneirismo da Festa Literária Internacional de Parati, evento literário diferenciado, mais pontual, em que o foco principal repousa nos debates literários. Esse formato mais leve permitiu que cidades de todo o Brasil se movimentassem para criar eventos semelhantes, muitas vezes, evidenciando essa origem ao evocar em seus nomes a siga FL, de “Festa” ou “Festival Literário”.

Esse panorama se formou também, porque, sem necessidade de recursos vultuosos, os eventos literários têm expressivo impacto social e envolvimento das populações nas regiões em que se realizam. Eles absorvem em suas programações, autores e agentes culturais locais que ali encontram um espaço para apresentação de suas criações e produtos. O desenvolvimento sustentável promovido por essas iniciativas, e seus resultados, tanto do ponto de vista econômico quanto sócio-educativo, vai além do que revelam todos os indicadores utilizados para medi-los e analisá-los. Sem dúvida, direta ou indiretamente, os eventos literários contribuíram demais para a modificação da paisagem literária e cultural do Brasil, ao criar um mercado para a literatura nacional e estimular os jovens a ler e escrever. Sua distribuição em várias regiões desse país tão extenso permitiu, ainda, a revalorização da diversidade étnica e cultural e a formação de leitores em lugares muitas vezes sem acesso aos bens culturais disponíveis na atualidade.

A partir da crise econômica e política iniciada em 2015, porém, o financiamento dos planos de governo e das estatais, não apenas para esses eventos, mas para todas as ações de promoção dos livros e da leitura, começou a se tornar brutalmente reduzido até alcançar níveis que, hoje, provocaram a extinção ou asfixia de diversas dessas ações, apontando para o aniquilamento de uma das atividades econômicas mais interessantes e eficazes para o desenvolvimento sustentável do Brasil.

Em 2017, uma parcela muito importante dos organizadores de eventos literários do Brasil se reuniu na Casa do PublishNews na FLIP para discutir formas de interação que possibilitassem a otimização de recursos para nossas realizações. Chegou a nascer, naquele momento, a proposta de uma associação de eventos literários para colocar esses organizadores em diálogo de forma federativa e ampla, acolhida com entusiasmo pela Câmara Brasileira do Livro. Essa federação, contudo, foi atropelada por necessidades mais prementes, determinadas pelos rumos tomados pelas políticas de promoção e incentivo para o setor do Livro no Brasil.

Nesse momento, no dia 27 de julho de 2018, nos reunimos novamente para manifestar publicamente a urgência da retomada dos incentivos para o setor do Livro, por parte do Governo, das empresas estatais ou de direito privado e da sociedade civil como um todo. Não precisamos de armas, precisamos de livros! A maioria dos problemas brasileiros da atualidade poderiam ser resolvidos com uma educação de qualidade e para todos, e a formação de leitores é fundamental nesse processo.

Nossas propostas são:

Que os investimentos governamentais para o setor do Livro sejam ampliados e se tornem Lei Orçamentária, de forma a garantir a estabilidade de todas as ações pró-livro e leitura no Brasil.

Retorno dos inúmeros programas de desenvolvimento do livro e da leitura no Brasil;

Esforços conjuntos para implementar e colocar em prática o PNLL, em todas as regiões do país;

Que o governo estabeleça um percentual de investimentos das empresas estatais para promoção de atividades de formação de leitores no Brasil;

Manutenção e aprimoramento das Leis de Incentivo, em especial da Lei Rouanet, tornando-as menos burocráticas e mais eficazes;

Desoneração das atividades de organização de eventos literários, como forma de incentivar a realização e difusão das atividades culturais literárias no Brasil;

Apoio sobretudo a projetos ligados à cadeia criativa (oficinas, prêmios literários, bolsas de criação e residências literárias) e às bibliotecas, importantíssimas para que todos tenham acesso aos livros publicados no Brasil;

Essa é uma carta aberta. As propostas que apresentamos agora podem ser desenvolvidas e acrescidas por sugestões de todos aqueles que almejam um Brasil democrático, com igualdade e equanimidade de condições de acesso aos bens culturais, sem prejuízo do respeito à diversidade étnica e regional, e com mais qualidade de vida e educação para nossas populações.

Fabiane Burlamaqui - Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo

Rogério Robalinho - Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, Semana do Livro de Pernambuco - Bienal Geek de Pernambuco

Afonso Borges - Fliaraxá e Sempre um Papo.

Humberto Paes Leme - Encontro Literário do Cerrado - ELICER

Joubert Amaral - Flid - Festa Literária de Divinópolis

Cibele Teixeira - Salão do Livro Vale do Aço

Julio Silveira - LER - Salão Carioca do Livro

Gisele Corrêa Ferreira - Flipoços

Carlito Lima - Flimar

Ovídio Poli Júnior - Prêmio OFF FLIP

Julio Ludemir - Flup

Suzana Vargas - Estação das Letras

Francisca Rodrigues – FLINKSAMPA

Guiomar de Grammont – Fórum das Letras – Universidade Federal de Ouro Preto

Wanda Cândida – Flig Minas Cristina Sena – Bienal do Livro de Juiz de Fora

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[31/07/2018 08:25:22]