Diários de Abu Dhabi: Um tour pela cidade
PublishNews, Paula Cajaty*, 04/05/2018
Há quase uma semana em Abu Dhabi, entre palestras e reuniões, Paula saiu pela cidade para conhecer o The Emirates Palace a convite da feira e outros locais turísticos

O ritmo intenso de trabalho começa a cobrar seu preço: são realmente muitos dias de Feira, em um longo horário, e o que salva é a excelente programação. De resto, há uma espécie de cansaço físico e mental por estar ouvindo e falando inglês o tempo inteiro.

Assistimos, pela manhã, a palestra da Alexandra Büchler, representante do "Literature Across Frontiers", que vem comparecendo a esta Feira de forma constante nos últimos dez anos. Depois de falar um pouco sobre o papel de sua organização, discutiu-se sobre a importância da tradução e da formação de novos tradutores nas diversas línguas do mundo árabe, especialmente em um momento histórico em que o mundo testemunha o êxodo massivo de imigrantes sírios e muçulmanos e a interação entre as culturas acaba por se tornar uma realidade.

Após ficarmos mais um pouco no estande atendendo os interessados, decidimos ir almoçar assim que tocou o Adhan, o chamado à oração na altura do meio-dia (Dhur).

Atravessando os diferentes perfumes exóticos dos homens e mulheres árabes, chegamos ao restaurante do hotel. Ainda é estranho e intimidador ver as mulheres árabes - das que utilizam véu sobre o rosto, levantando o pequeno lenço preto para se alimentarem. Estranho imaginar que não riem, não falam, não são reconhecíveis na rua. Soubemos que estas, que usam o véu sobre a boca, fizeram realmente uma escolha religiosa. As outras, ao contrário, usam a abaya como um adereço tradicional, juntamente com uma pesada maquiagem aos moldes árabes, unhas em gel, cabelos escovados, bolsas Chanel, saltos altos ao estilo Louboutin e roupa colorida por baixo deste caríssimo sobretudo negro. Quase poderíamos chamá-las empoderadas, pois são mulheres realmente esclarecidas, com excelente formação universitária e com uma atitude assertiva e autoritária. Mas ainda é estranho vê-las com a roupa negra e imaginar que a opção de usar a abaya seja somente uma questão de moda.

À tarde, após o almoço, fizemos um breve passeio por convite da Feira, ao The Emirates Palace, uma construção de fato sensacional, que é, porém, um hotel de luxo com diárias de suite iniciando nos R$ 5.000,00. Desistimos de tomar o tal café com ouro, afinal, seriam 63 Dirhams para tomarmos algo que poderia ser mesmo um pó de glitter, ou whatever, no estranho café turco, e preferimos apenas tirar algumas fotos de recordação, tanto do palácio, como das famosas Etihad Towers - aquelas onde o Tom Cruise experimenta uma tempestade de areia no filme Missão Impossível.

Já no Marina's Mall também não havia muito a se descobrir, pois o local é bastante turístico e pareceria como um shopping americano, não fossem os árabes de branco dentro das lojas e as mulheres de negro circulando nos cafés.

Comprei alguns frascos pequenos dos perfumes com cheiro de incenso que eles têm aqui, muito embora não saiba bem o que ainda farei com eles. Perto dali fomos à Heritage Village, uma pequena reprodução dos modos de vida dos árabes da região dos Emirados, antes de encontrarem os campos de petróleo. Foi neste ponto que foi possível perceber que talvez o uso intenso das roupas - preta ou branca -, por cima de outras, possa ser devido a este uso tradicional, não tão distante no tempo, em que realmente era necessário cobrir-se do sol intenso, da secura do ar e, eventualmente, das partículas de areia em suspensão. Afinal, sem cremes faciais, protetores solares, produtos de beleza, e outras descobertas da medicina estética do século XX, possivelmente as mulheres mais bonitas eram, realmente, aquelas que mais se mantinham cobertas. Ok, mas isso pode ser apenas uma teoria para explicar a manutenção do uso dessas vestes através das gerações. A propósito, uma abaya no shopping custa algo no valor de R$ 2 mil, mas é possível encontrar descontos por R$ 1,5 mil.

Passamos de carro pela Corniche Beach, porém os "amenos" 46 graus centígrados nesta primavera árabe nos desanimaram de uma caminhada à beira-mar e de molhar os pés nas águas do Golfo Pérsico.

De volta ao nosso estande, tínhamos uma reunião marcada com a autora Isabelita Castilho, a única brasileira, moradora de Dubai há sete anos, que veio nos visitar em nosso estande por ter consultado no diretório da Feira, que haveria uma representação brasileira no evento. Trouxe-nos o seu livro, escrito em inglês e dirigido para estrangeiros, no qual apresenta sua experiência profissional em como conseguir bons empregos em Dubai. Pelo semblante da Isabelita durante a reunião, estava radiante em ter encontrado brasileiras, aqui tão longe. O sotaque carregado denunciava que ela já falava tanto, e há tanto tempo o inglês, que a mudança da linguagem já ia cobrando seu preço.

Ao fim do dia, voltamos ao hotel para trocarmos de roupa, conferirmos e-mails, etc., e depois ainda fomos convidadas para um relax time no terraço do hotel, onde são servidas bebidas alcoólicas e toca uma boa música ambiente - um momento para nos livrarmos do ar-condicionado e sentirmos a brisa fresca da noite, embora ainda estejamos a falar de trabalho, mesmo que de modo transversal. Foi ali que, contemplando a lua cheia e a estrela (que depois descobrimos ser Júpiter brilhando), nos despedimos das simpáticas letonianas e seus maridos, assim como da autora grega e amiga comum Kallia Papadaki.


* Paula Cajaty é editora da brasileira Jaguatirica e da portuguesa Gato Bravo, escritora e Diretora de Comunicação da Libre. Junto com Mariana Warth, Paula participa da Feira Internacional de Abu Dhabi à convite da organização da Feira, com apoio da Nuvem de livros.

[04/05/2018 08:00:00]