Diários de Abu Dhabi: Negócios e mais negócios
PublishNews, Paula Cajaty*, 03/05/2018
No quarto dia em Abu Dhabi, Paula conheceu mais pessoas interessadas na compra e venda de direitos editoriais e ainda conseguiu um tempo para visitar a Grande Mesquita de Zayed

Aos poucos estamos conseguindo entender as práticas comerciais e prioridades da organização da Feira de Abu Dhabi. Aqui é a capital dos Emirados, a sede da Universidade de Zayed e das Faculdades de Alta Tecnologia. Há uma população relativamente pequena e jovem, bem como um dos maiores PIB per capita do mundo. Abu Dhabi reúne, só ela, 9% das reservas de todo o petróleo e gás do planeta. Com todo esse dinheiro entrando só por causa da produção de petróleo e gás, os governantes sabem que precisam diversificar seus planos econômicos. Por isso, investem mais de 1 trilhão de dólares anuais na indústria, nos setores imobiliário, de turismo e de varejo, e também na zona franca, a fim de reduzir no longo prazo sua dependência aos humores do preço do petróleo no mercado internacional.

Isso tudo é para explicar que, ao pensar na criação de uma Feira Internacional de conteúdo literário e cultural, este emirado buscou a consultoria da Feira de Frankfurt e, para que não fosse uma feira sem atrativo algum (já que todos os mercados editoriais já estabelecidos poderiam igualmente fechar seus negócios em outros eventos idênticos na Europa), o departamento de Turismo é quem concede o apoio financeiro a qualquer compra e venda de direitos editoriais realizada aqui. A única obrigatoriedade: o expositor deverá fechar o contrato presencialmente, durante a Feira de Abu Dhabi, na frente da autoridade responsável pela concessão do apoio.

O movimento, entretanto, é mais de venda do que de compra (atenção editores!). De todo modo, é uma barganha justa: um editor brasileiro será capaz de reservar um estande nesta Feira e comprar tantos livros quanto queira, por si próprio e em representação eventual de outros editores interessados, e cada compra de direitos autorais será paga pela autoridade de turismo de Abu Dhabi, no limite de US$ 2 mil / contrato.

Por este motivo, há agentes literários, autores e editores bastante apreensivos para fechar contratos, uma vez que vieram aqui exatamente para receber esse apoio.

Uma das primeiras reuniões da manhã foi exatamente com uma agente, a Silvia Vassena Milano, que fazia dois negócios ao mesmo tempo: vendia seus serviços customizados de representar editores em feiras internacionais, e vendia os direitos de uma dúzia de livros que trazia na sacola (afinal, qualquer direito que ela vender serão dois mil dólares no caixa da editora que o comprar).

Diante dos livros apresentados por ela, sugerimos as casas editoriais que poderiam se interessar por cada perfil e guardamos os contatos dela, para editores que precisarem no futuro de um profissional para essa atividade.

E para a compra de livros árabes? Bem, há aqui uma enormidade de oferta: autoajuda, religião (para quem se interessar), livros técnicos, biografias e livros sobre o Alcorão e o Sheik Zayed (esse segmento é só de best-sellers!!). Há também uma enormidade de didáticos (especialmente no segmento de ensino da língua árabe para crianças), guias gerais sobre o Islã e muitos livros infantis realmente bonitos vindos do Iraque, Irã, Egito e Síria.

No entanto, que não se esperem livros polêmicos ou politicamente incorretos: com muito dinheiro (pessoas e empresas não são tributados aqui - sim, é tipo 0% de imposto), uma população pequena e bastante fiscalização, o melhor é mesmo andar na linha. Até por isso, o único best-seller em árabe de nosso estande fez sucesso: além de algumas mulheres árabes que paravam para perguntar, veio um rapaz de Dubai, que viajou 1h30 por orientação de um amigo, somente para encontrar o livro da Editora Sundermann que estava conosco!

Entre uma coisa e outra, depois de assistirmos à palestra da autora alemã Ute Krause, recebemos o jornal do dia (issue 4) pelas mãos do Dr. Nabeel. Mariana Warth era a notícia principal da parte internacional: um destaque de página inteira escrito pelo Dr. Chip Rossetti com o resumo de sua apresentação no Business Club. Ela também recebeu os efusivos parabéns dos coordenadores da Feira que, por seus discretos sorrisos de canto de boca, indicavam que estavam extremamente felizes com o desempenho das brasileiras em Abu Dhabi.

Nossa última reunião do dia foi com a editora Samar Haddad, da editora Atlas, com base em Damasco (Síria) e Beirute (Líbano). Ela também faz parte de associações e segmentos que objetivam a difusão da cultura árabe.

Discutimos intensamente com ela sobre o interesse específico da LIBRE em poder convidar autores e editores da região do "mundo árabe", em conhecer melhor os programas de apoio a edições e traduções existentes para divulgá-los no Brasil, e sobre o que poderemos fazer a partir daqui, para que a iniciativa de virmos aos Emirados Árabes Unidos possa frutificar e permitir novas relações editoriais e culturais entre brasileiros e árabes.

Alinhamos algumas ações nesta "tempestade de ideias" e logo já chegava o fim da tarde. Hoje era o dia em que combinamos uma visita à Grande Mesquita de Zayed, e o melhor horário da visita é exatamente ao final do dia.

Partimos de táxi para lá e, ao chegar, a entrada para homens e mulheres é separada, claro. De nossa parte, tivemos que usar as abayas disponíveis. Mariana escolheu um "vestido" cinza-petróleo e eu fiquei com um azul. A Mesquita era absolutamente sensacional: de proporções monumentais, toda feita em mármore, com desenhos de mosaico no chão, em colunas e no teto, andamos pelos corredores até a parte interna permitida para visitantes.

Na parte interna, é assustador o tamanho dos tapetes, dos lustres e da decoração no teto. A estética alegórica e bastante colorida chama a atenção, pois é algo bastante incomum para as religiões judaico-cristãs. Em uma pequena flor-relógio, é possível saber os horários para rezar na hora certa do dia: Faja, Shordo, Dhuha, Asr, Haqrib e Isha.

Terminamos o dia assim: eu, Mariana e o André Letria, enquanto compartilhávamos alguns biscoitos amanteigados e duas pequenas garrafas d'água, contemplando o pôr-do-sol, os cantos entoados em árabe e o acender das luzes no ambiente desértico dessa cidade exótica.

Veja abaixo alguns cliques de Paula em Abu Dhabi.

Mariana Warth
Mariana Warth


* Paula Cajaty é editora da brasileira Jaguatirica e da portuguesa Gato Bravo, escritora e Diretora de Comunicação da Libre. Junto com Mariana Warth, Paula participa da Feira Internacional de Abu Dhabi à convite da organização da Feira, com apoio da Nuvem de livros.

[03/05/2018 08:00:00]