De tanto plantar bananeiras, ganhou o Prêmio de Contribuição ao Mercado Editorial
PublishNews, Leonardo Neto, 13/03/2018
Alfredo Weiszflog, que começou a sua história no livro de cabeça para baixo, receberá o Prêmio Especial Avena PublishNews de Contribuição ao Mercado Editorial na próxima segunda-feira (19), em SP

Alfredo Weiszflog receberá o Troféu do Prêmio Especial Avena PublishNews de Contribuição ao Mercado Editorial | © Divulgação / CBL
Alfredo Weiszflog receberá o Troféu do Prêmio Especial Avena PublishNews de Contribuição ao Mercado Editorial | © Divulgação / CBL

Quem trabalha na indústria do livro costuma culpar um certo “bichinho” pelo amor que essas pessoas desenvolvem por aquilo que produzem. É comum ouvir “o bichinho do livro me picou”. Mas essa história não começa com nenhum bichinho e sim com uma árvore. Uma bananeira. Alfredo Weiszflog, eleito para receber o Prêmio Especial Avena PublishNews de Contribuição ao Mercado Editorial em 2017, se apaixonou pelo livro depois de plantar uma bananeira. Não literalmente, mas, depois de ficar de ponta cabeça mesmo.

Ele já tinha se graduado em jornalismo e trabalhado por 11 anos – desde os 13 – na indústria de papeis do Grupo Melhoramentos, empresa fundada em 1890 da qual o avô foi sócio depois de aportar no Brasil vindo da Alemanha. Foi aí que ele resolveu fazer o caminho inverso e foi estagiar na Rowohlt, uma gráfica especializada na publicação de livros de bolso. “Foi onde aprendi muito”, conta.

“O dono desta empresa era um sujeito sui generis”, lembra com um sorriso maroto no rosto. “Ele tinha uma jukebox na sala e só contratava estagiários que soubessem plantar bananeira”, conta. Alfredo completa a frase já alertando que o seu dom de ficar de ponta cabeça ficou no passado e não adianta pedir que ele repita a cena. Foi ali que ele era “picado pelo bichinho do livro”.

O mistério do busto

De volta ao Brasil, no início dos anos 1970, Alfredo volta a trabalhar na Melhoramentos, mas, não mais na área de papeis e sim no braço editorial do grupo. Passou por quase todos os departamentos da casa até que, em 1977, morre Arnaldo Giácomo, então diretor da Editora. Aqui um parêntesis: o nome – ou a figura de Giácomo – é ligado a um grande mistério da indústria do livro. Um busto em bronze foi feito em homenagem ao editor e até hoje está na Sala de Reuniões da Câmara Brasileira do Livro (CBL), mas poucas pessoas sabem contar quem foi Giácomo, já que na placa colada na base da escultura traz apenas seu nome. Ele nasceu em Ribeirão Preto e mudou-se para São Paulo onde se graduou em Filosofia e foi professor de Língua Portuguesa e História do Brasil. Na Melhoramentos, foi o responsável por começar o catálogo de livros para jovens. Politicamente, atuou na elaboração da primeira Lei do Livro, na década de 1970.

Com a morte de Giácomo, Alfredo tomou a decisão de assumir a editora onde permaneceu até 1984 como diretor executivo. Depois disso, passou a integrar o conselho da casa. Em 1978, entra para a CBL onde chega a presidente em 1985. Sob seu comando, começa o processo de profissionalização da Bienal e foi aí que o evento começou a ter a cara que tem hoje. “Nessa época, a CBL mantinha um estoque de tábuas armazenado no prédio da [Fundação] Bienal [no Parque do Ibirapuera, em São Paulo]. A cada dois anos, era com essas tábuas que eram montados os estandes da Bienal”, lembra Alfredo. Foi por iniciativa de Weiszflog que a Bienal passou a ter um regimento e as tábuas foram aposentadas de uma vez por todas. Nessa época, o editor foi eleito presidente do Grupo Interamericano de Editores (GIE), integrou o conselho da International Publishers Association (IPA) e passou a dirigir a Fundação Dorina Nowill para Cegos, que merece um capítulo à parte.

Dorina Nowill e a gênese do livro digital no Brasil

Durante 25 anos, Weiszflog exerceu cargos de liderança na Fundação Dorina Nowill onde foi presidente e posteriormente passou a integrar o conselho da casa. “Foi um período muito gratificante não só por conta do trabalho com os deficientes visuais, mas também por ter participado do nascedouro do livro digital no Brasil”, conta. Em 2006, sob a batuta do editor, a Fundação chamou três engenheiros que desenvolveram os primeiros livros digitais publicados no Brasil. Os primeiros livros começam a ser publicados em 2007, no mesmo ano em que a Amazon lançava o seu Kindle, nos EUA.

Brazil com z

Weiszflog, além disso tudo, construiu ao longo desses mais de 50 anos de carreira um sólido nome no mercado global do livro. Não só pela sua atuação no GIE e na IPA, mas também pela sua quase onipresença em Frankfurt. Desde 1967 e até 2017, só faltou a duas Feiras do Livro de Frankfurt, ou seja, esteve em 48 edições e se prepara para a 49ª. Em 1994, quando o Brasil foi homenageado pela primeira vez na feira, Weiszflog exerceu papel de liderança. Dessa época, ele conta da grande dificuldade em se levantar a homenagem. Durante os preparativos para levar o Brazil com z para Frankfurt, teve cinco trocas de ministros na pasta da Cultura. "Toda hora tinha que reapresentar o projeto em Brasília", lembra. Luiz Roberto Nascimento Silva era o ministro da Cultura na época da homenagem. Na véspera, o ministro barrou um aporte prometido pela Petrobras no valor de R$ 2 milhões (moeda que tinha acado de ser criada). Apesar de todos os revezes, Weiszflog lembra que foi uma homenagem bonita, com treze exposições nos principais museus de Frankfurt e a edição de uma coletânea de catálogos que foi batizada de Brasiliana de Frankfurt.

Essa trajetória de mais de 50 anos no livro garantiu a Alfredo Weiszflog as credenciais para conquistar o Prêmio Especial Avena PublishNews de Contribuição ao Mercado Editorial. Na próxima segunda-feira (19), ele receberá o troféu das mãos de Paulo Rocco, ganhador da categoria no ano passado.

O prêmio, correalizado pelo PublishNews e pela International Paper, fabricante dos papéis Chambril Avena para o segmento editorial, será entregue no dia 19 de março, a partir das 19h, na Unibes Cultural (Rua Oscar Freire, 2.500 - São Paulo / SP).

[13/03/2018 12:26:00]