O fim do peso do livro
PublishNews, Paulo Tedesco, 12/04/2017
Em sua coluna, Paulo Tedesco fala sobre a impressão por demanda e seus impactos na autopublicação

O anúncio feito pelo Carlo Carrenho recentemente, subverteu minha agenda dos temas para esse nosso querido espaço de opinião no PublishNews. E a chegada, ou a retomada, da impressão por demanda (POD) no mercado brasileiro foi de relevância tamanha que surpreendeu o silêncio da notícia e me fez acreditar que o assunto mereceria mais.

Pois parece que muitos ainda não absorveram o impacto do tal POD. E que, sem rodeios, podemos já apontar, diretamente, o das vendas de impressões gráficas em tiragens pequenas como alvos primeiros, e que, por sua vez, modificarão todo o sistema de distribuição do Brasil e toda existência de livrarias e distribuidoras de livros em papel.

Essa impressão por demanda significa que uma vez lançado um título e este tendo diagramação e capa prontas, além dos registros legais e autorais devidos, sua venda no suporte papel não mais pedirá uma impressão mínima e primeira. Salvo para o autor ou editora que acredita no retorno dos primeiros eventos de autógrafos, o restante da venda, com o advento impressão por demanda, passará para um livro impresso unitariamente num lugar remoto, que em seguida será enviado para o endereço do leitor.

Os tradicionais aluguéis de depósitos empoeirados e as dores nas costas, fruto da distribuição com títulos de venda incerta, porém de presença fundamental num catálogo, desaparecerão totalmente e recolocarão no centro das atenções e investimentos a produção editorial de bons livros, e não do resto como até pouco muito se fez.

Nessa altura, o autor que se autopublica e o editor podem até parecer se equivaler como nunca antes visto, pois, afinal, os custos de infraestrutura serão realmente reduzidos, e com isso nos passar a falsa impressão de que uma vez mudado o peso do livro na distribuição tudo estará resolvido. Esse, porém, será um redondo engano. O editor verdadeiro, que estuda e se envolve com seus títulos, terá ainda mais tempo e energia para transformar o texto em livro, e também poderá envidar esforços para que a obra tenha a posição merecida num mercado editorial cada vez mais ágil, multiconectado e preso a inovações tecnológicas cada mais vez mais surpreendentes.

O que nos leva a pensar também nas vendas internacionais para qualquer conteúdo. Vejamos: um bom livro, se bem elaborado, que em seguida encontrar um tradutor e um adaptador à língua de chegada, pode vir a ter vida prolongada mundo afora e sem depender da pesada e dispendiosa logística de até então. E se isso era o que o livro em formato e-book prometia e não cumpria por não conseguir superar o valor intrínseco do livro em papel, agora, de repente, se vê materializado.

Diante de tanta mudança é de se pensar porque até o momento não houve maiores repercussões sobre a chegada ou retomada da impressão por demanda. Talvez, como apontou o Carrenho, porque os projetos anteriores em POD e seus fracassos nos façam olhar mais para os pés ao invés da perspectiva. Sim, tudo é possível, mas o que não mais se permite é seguir pensando no livro como um produto cultural preso a modelos do século passado. Sabe, não dá, não há mais como, definitivamente.

[12/04/2017 08:00:00]