Brian Murray e o 'País das Maravilhas'
PublishNews, Leonardo Neto, 30/03/2017
CEO global da HarperCollins veio a São Paulo para prestigiar o Prêmio Avena PublishNews e falou, em entrevista, sobre os seus planos para o Brasil

Brian Murray durante a entrega do Prêmio Avena PublishNews
Brian Murray durante a entrega do Prêmio Avena PublishNews

O Prêmio Avena PublishNews, entregue ontem em uma festa animada na Unibes Cultural, deu reconhecimento a profissionais de venda e de marketing que estão por trás dos livros mais vendidos no Brasil durante o ano passado. Um dos destaques da noite foi a presença de Brian Murray, CEO global da HarperCollins Publishers, que veio a São Paulo especialmente para o prêmio. Antes de subir ao palco e falar um pouco sobre os planos da sua empresa no Brasil, Brian respondeu a algumas perguntas do PublishNews. Em 2014, no CEO Talk da Feira do Livro de Frankfurt, Brian chegou a chamar o Brasil de País das Maravilhas, um lugar onde todos queriam estar. Tanto quis que veio. No ano seguinte, a HarperCollins chegava ao País em uma joint venture com a Ediouro. Nos primeiros dias de 2017, a empresa anunciou que iniciaria sua carreira solo. Na entrevista, que pode ser lida na íntegra abaixo, Brian fala sobre como a crise afetou os planos da sua empresa no “País das Maravilhas”, comentou sobre os 200 anos de HarperCollins e sobre o potencial dos livros digitais e dos audiolivros.

PublishNews (PN): Tivemos a grata satisfação de recebê-lo na entrega do primeiro Prêmio Avena PublishNews que reconheceu o trabalho de profissionais por trás dos livros mais vendidos no Brasil. A HarperCollins, já no seu comecinho de vida no País, emplacou cinco livros nas nossas listas. Como você vê o trabalho das suas equipes por aqui?

Brian Murray (BM): Estou muito animado com a equipe aqui. Recentemente começamos a controlar totalmente a HarperCollins Brasil. A Patrícia [Hespanha, diretora executiva da editora no Brasil] está conosco há menos de um ano e está construindo uma excelente equipe e, claro, ficamos muito contentes com a indicação da Daniela [Kfuri, que figurou entre os cinco finalistas da categoria Profissional de Marketing e de Vendas do Ano do Prêmio Avena]. Acho que estamos bem posicionados para melhorar ainda mais nosso catálogo.

PN: Vamos retomar o passado para falar de futuro... Você disse em 2014, durante o CEO Talk de Frankfurt, que o Brasil era o lugar onde todos queriam estar e via aqui crescimento a longo prazo. De 2014 para cá, muita coisa aconteceu: a HarperCollins botou os dois pés no país, conquistou um bom espaço -- finalizou 2016 com cinco livros na lista de mais vendidos e começou 2017 sua carreira solo, independente da Ediouro --, mas ao mesmo tempo, o Brasil mergulhou numa profunda crise política e econômica. Como você vê o futuro das operações no Brasil?

BM: Temos uma estratégia para o Brasil e ela continua igual, apesar da crise política e econômica. Começamos a controlar totalmente a editora e agora temos a estrutura pronta para avançar. Queremos manter o primeiro lugar em livros cristãos, crescer a publicação de nacionais e expandir nosso catálogo. Somos uma editora muito bem posicionada no mercado, mas procuramos aumentar nossa posição e achamos que vamos conseguir isso nos próximos anos.

PN: O ano de 2017 marca os 200 anos da HarperCollins Publishers (e dois anos da HarperCollins Brasil). Uma série de atividades vem sendo desenvolvidas para comemorar isso. Como você vislumbra a HarperCollins daqui a 200 anos?

BM: Olhando para o passado o que se manteve consistente foi que os autores e suas obras estão no centro de tudo que fazemos. Não acho que isso vai mudar. Nosso objetivo é adquirir ótimo conteúdo e assegurar que as obras de nossos autores cheguem ao maior público possível, e vamos continuar a fazer isso. Os meios para conseguir isso vão mudar, mas o objetivo principal não.

Além de sempre ter os autores no centro do que fazemos, temos uma empresa que sempre inovou desde o começo. Então, nos próximos 200 anos continuaremos a fazer isso para trabalhar por nossos autores da melhor maneira possível.

PN: De acordo com os números que temos disponíveis hoje (não considerando aqui as autopublicações e as vendas da Amazon que são um mistério), há uma queda no número de vendas dos livros digitais em mercados mais maduros como o dos EUA e Reino Unido. Nesses países, de acordo com dados a que temos acesso, insisto, houve queda no número de unidades de livros digitais vendidas enquanto que houve crescimento do mercado de livros de papel. O livro digital não era tudo aquilo que a indústria esperava? Na sua opinião, o que aconteceu??

BM: Tanto os EUA quanto o Reino Unido passaram por quedas nas vendas de e-books nos últimos anos. Isso aconteceu por uma mudança no modelo de negócios nos mercados, que resultou em um preço maior dos e-books para o consumidor. Agora que se estabeleceu um novo patamar no mercado, esperamos uma volta do crescimento moderado dos e-books. Ao mesmo tempo, também testemunhamos um crescimento muito saudável no negócio de áudio digital nos dois mercados.

PN: Por falar em audiolivros, na 25ª Conferência anual de mídia e telecomunicações, você já tinha apontado que essa é uma área de crescimento importante da empresa. No Brasil, você vê espaço para crescimento nessa área?

BM: O negócio de áudio está indo realmente muito bem nos EUA e no Reino Unido. Estamos vendo um bom crescimento e acho que existe espaço para isso continuar. Nesse momento no Brasil nosso foco não é tanto no áudio, mas quando for o momento certo, vamos pegar as lições que aprendemos nos outros mercados para termos o mesmo sucesso aqui.

PN: Nessa mesma reunião, você resumiu que a HarperCollins publica em 17 línguas e mantém um programa contínuo de serviços de apoio a escritores nos países onde está instalada. Disse ainda que, até o fim do ano, a HC estima que o mercado de língua estrangeira vai responder por cerca de 10% do faturamento global da empresa, muito acima do 1% que esse mercado representava em 2014. Quais as ações da HC para alcançar esses números?

BM: Historicamente, a HarperCollins sempre foi uma editora em língua inglesa. Publicamos uma quantidade muito pequena em espanhol e alguns poucos títulos em hindi na Índia. Mas, através da compra da Harlequin e parte do catálogo da Ediouro no Brasil, pudemos dar um salto muito rapidamente para novos idiomas. Passamos os dois últimos anos montando as melhores equipes, reposicionando todos os escritórios, adquirindo parcerias em joint venture. Investimos em editorial, vendas e marketing, e começamos processos para tentar aproveitar nossas fortes aquisições para publicação global. Estamos agora no ponto onde cada país pode realmente voltar o foco para suas publicações.

[30/03/2017 09:33:00]