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e-Book: estamos apenas começando
PublishNews, Gustavo Martins de Almeida, 17/02/2016
O acúmulo de dados dos consumidores e as novas formas de leitura constituem pequenos indícios de que ainda estamos na idade da “tela polida” dos e-books, e que muito, muito mais vem por aí

Consultando o site da legendária fabricante de veículos Mercedes Benz, na parte da história da corporação, constata-se a distância milenar entre os conceitos dos carros inventados por Gottlieb Daimler e Carl Benz em 1908 e os atuais; são anos luz de mudanças, em pouco mais de um século, embora sejam, ainda, essencialmente carros sobre rodas movidos a petróleo (ou, mais recentemente, a eletricidade).

Pode-se usar essa evolução para fazer um paralelo com o estágio de desenvolvimento atual dos e-books, já que, na próxima conferência da International Publishers Association, a se realizar em Londres, no início de abril, haverá, dentre outras palestras (direitos autorais, liberdade de expressão e novos leitores), uma de Arnaud Nourry presidente da poderosíssima e tradicional editora francesa Hachette, intitulada Digital revolution in book publishing: the best is yet to come.

A expectativa de um futuro próximo ainda melhor vem se concretizando e acaba de surgir etapa de forte simbolismo na área do livro eletrônico. Esse passo significativo na “nova” tecnologia de leitura surgiu recentemente com a parceria entre a sociedade Editions at Play, o Google Creative Lab Sydney e a editora focada em design, Visual Editions. O projeto desenvolvido pelas três consiste num livro oposto ao procedimento recente de “livro físico convertido em digital”, mas sim o de “livro que não pode ser impresso”.

Projeto resultante da parceria entre Editions at Play, o Google Creative Lab Sydney e a Visual Editions é um 'livro que não pode ser impresso' | © Reprodução
Projeto resultante da parceria entre Editions at Play, o Google Creative Lab Sydney e a Visual Editions é um 'livro que não pode ser impresso' | © Reprodução

Segundo a explicação das sociedades, o livro começa com a escolha de um dentre vários “lugares desconhecidos” mencionados no índice, que conduzem o “leitor” a um endereço, representado por imagens do Google Street View, que aparecem na tela e mostram determinado ponto desse endereço, como uma marca na porta de uma loja. Nesse lugar começa a história, que se desenvolve e pode levar o leitor a outros lugares, mesclando-se narrativa e interatividade.

No processo de elaboração do livro as sociedades têm estipulado variáveis, de modo que a mesma obra pode ter vários desfechos, dependendo de escolhas possíveis ao longo do seu enredo, feitas por cada leitor, conforme pequena amostra disponível no site. Ainda mais explicativa e instigante é a descrição contida no site do Google Labs, da Austrália, que evidencia o sagaz desejo de cativar novos leitores, acostumados ao ritmo frenético contemporâneo.

Esse experimento representa novo passo, com intensa e explícita utilização de recursos tecnológicos, mas instigando a interação do leitor com o autor e a editora; de fato, o leitor é o personagem que cada vez mais está tendo destaque na cadeia produtiva do livro. Já tive a oportunidade de me referir a essa relação em que a editora também “lê” o leitor e não unicamente o sentido inverso, na coluna aqui publicada em 14/08/2013.

Agora as peças começam a se equilibrar, podendo cada leitor exercer algumas opções no desenrolar da trama, o que não impede que – é minha interpretação – cada escolha feita pelo usuário seja registrada pela editora/distribuidora, para armazenar, nos seus bancos de dados gigantes (os “big data”), mais e mais informações sobre seus consumidores, de modo a “atendê-los” mais diretamente, por meio de remessa de publicidade segmentada, “tailored made”.

O ponto de destaque me parece ser, ao invés da miniaturização dos aparelhos, ou da expansão dos recursos sensoriais externos, como sons, nitidez de imagens etc., o início da participação real do leitor na obra, já que, em última forma, ele interage com os autores e editoras, adquirindo papel criativo/participativo no processo de “leitura” do livro.

Esse conceito vem se desenvolvendo também em plateias de espetáculos, como, em alguns casos, experiências nas quais os expectadores de peças de teatro interagem com os atores, ou até escolhem o final de um filme por meio de votação eletrônica “on time”.

Como disse, Daimler-Benz, Júlio Verne e outros criaram ou previram, para surpresa do público da época, fatos inéditos e surpreendentes, mas que hoje fazem parte do cotidiano. O acúmulo de dados dos consumidores e as novas formas de leitura constituem pequenos indícios de que ainda estamos na idade da “tela polida” dos e-books, e que muito, muito mais vem por aí. Essa experiência é um pequeno passo na longa caminhada dos e-books, dos novos modos de leitura e da formação de novos leitores.

Emblemático ter esse pequeno artigo tantos hyperlinks!

Ps.: Em janeiro de desse ano, no frio de Nova York, não consegui teclar a tela do meu smartphone para obter uma informação, pois o toque da velha luva de couro não era “reconhecido” pela tela do aparelho. Foi aí que meu sobrinho Antonio Martins, de 13 anos, realizou a tarefa facilmente; as luvas de frio da garotada já vêm com as pontas dos dedos de borracha (“typing gloves”), para permitir o acionamento das telas dos smartphones... e funciona perfeitamente!

Gustavo Martins de Almeida é carioca, advogado e professor. Tem mestrado em Direito pela UGF. Atua na área cível e de direito autoral. É também advogado do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e conselheiro do MAM-RIO. Em sua coluna, Gustavo Martins de Almeida aborda os reflexos jurídicos das novas formas e hábitos de transmissão de informações e de conhecimento. De forma coloquial, pretende esclarecer o mercado editorial acerca dos direitos que o afetam e expor a repercussão decorrente das sucessivas e relevantes inovações tecnológicas e de comportamento. Seu e-mail é gmapublish@gmail.com.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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