O desafio do estoque zero
PublishNews, Leonardo Neto, 30/09/2015
PublishNews fez um retrato da situação atual da Impressão por demanda no Brasil

Youssef Mourad, CEO da iSupply | © Divulgação
Youssef Mourad, CEO da iSupply | © Divulgação
A impressão por demanda (Print on demand – POD, em Inglês) no Brasil sofreu um baque quando a Singular, gráfica ligada à Ediouro, encerrou as suas atividades em dezembro passado. Em janeiro desse ano, frente a essa lacuna, dois distribuidores anunciaram que fariam investimentos para tornar realidade o POD no Brasil: a BookPartners e a iSupply. E agora, nove meses depois, qual o retrato do momento?

A iSupply manteve a sua previsão e iniciou as operações no dia 19 de março. Youssef Mourad, CEO da iSupply, evita citar números, mas garante que o catálogo de títulos disponíveis para POD cresce cerca de 300% ao mês e que a venda de livros nacionais é maior do que a de importados. Já a BookPartners está em fase de testes com seis editoras e prevê para esse ano ainda o início das operações. “Me sinto com o avião na pista, acertando os últimos detalhes da carta de voo”, ilustrou Eduardo Cunha, diretor da BookPartners.

A iSupply e a BookPartners fecharam contrato com a Global Connect, serviço da Ingram que permite o acesso ao catálogo de mais de um milhão de títulos em outras línguas disponíveis para impressão sob demanda. Ainda em comum, as duas empresas criaram dois modelos para comercialização dos livros impressos sob demanda. No primeiro deles, as distribuidoras lançam mão dos seus marketplaces nas varejistas e cuidam, além da impressão, da logística de entrega dos livros comprados nesses ambientes. No outro modelo, os varejistas parceiros da iSupply e da BookPartners recebem os pedidos que são automaticamente encaminhados para o sistema de POD, que gera uma ordem de serviço. Uma vez pronto, o livro é entregue no centro de distribuição do varejista, que cuida de fazê-lo chegar ao consumidor final.

No parque gráfico, no entanto, as duas empresas se diferenciam. A iSupply tem usado as instalações de impressão digital da Prol, que já existiam (algumas das máquinas, inclusive, faziam parte da planta da Singular). A BookPartners conta que comprou o mesmo maquinário maquinário utilizado pela Ingram, que usa a High Speed full color Technology. Como um dos resultados disso, a BookPartners, com uma tecnologia mais moderna, promete entregar livros com miolo colorido e a iSupply ainda não.

A Elsevier é uma das editoras que fecharam contrato com a iSupply e que participa da fase de testes da iSupply. A editora holandesa colocou de cara 60 títulos do seu catálogo na plataforma de POD da iSupply e, de acordo com Marcio Alves, gerente de operações na América Latina da empresa, a previsão é encerrar o ano com 200 títulos. Márcio aponta que o POD já é uma realidade em outros países onde a Elsevier opera. “No resto do mundo, o POD já tem uma participação importante no faturamento da Elsevier”, pontuou. Ele observa que há uma diferença fundamental nesse momento da impressão por demanda no Brasil. “O POD é uma possibilidade de distribuição. Enquanto esse modelo for gerenciado por gráficas, não vai dar certo”, sentenciou. “No Brasil, o POD é ainda muito mal explorado talvez porque os editores veem o livro em estoque um patrimônio. Aqui na Elsevier, sonhamos com um estoque zero”, arremata o executivo.

Outra editora que já está comercializando seus livros pelo POD da iSupply é a Rideel. Mário Amádio, diretor da casa, contou ao PublishNews que está com 234 títulos do seu catálogo em POD e outros 80 títulos jurídicos estão em atualização e passarão a ser oferecidos por demanda. “Conseguimos, com isso, fazer o livro voltar para o mercado em diversas plataformas de venda e não temos que fazer investimentos em gráfica”, aponta Amádio. Por enquanto, os livros da Rideel na plataforma eram aqueles que já estavam esgotados, mas Amádio prevê que lançamentos poderão sair via POD. “O POD funciona também para lançamentos que estamos inseguros de apostar”, disse. O preço de impressão, aponta o diretor, é cerca de 30% mais caro do que o offset. “Mas com POD não deixa faltar. Isso compensa a diminuição da margem”, explica.

Quem concorda com Amádio é Marco Clivati, responsável pela área digital da Europa, que também fechou contrato com a iSupply. “Ninguém ganha com livro parado e ninguém perde com essa operação”, disse ao PublishNews. O catálogo da Europa em POD é muito pequeno ainda. Só 30 títulos está no POD. Marco explica que a maior parte do catálogo da Europa é de livros ilustrados e a iSupply tem a limitação de impressão a cores, o que impossibilita a inclusão destes títulos na plataforma.

A conectividade com o varejo
Tanto a iSupply quanto a BookPartners são unânimes em alertar que o POD, mais do que um modelo de impressão é um modelo de distribuição. Por isso, a conexão com o mercado varejista é fundamental. Youssef disse ao PublishNews que hoje o seu sistema de POD está homologado para atuar em 450 livrarias, incluindo grandes players como Saraiva, Amazon e Submarino. Já Eduardo preferiu não revelar com quais varejistas já conversou, mas garante que as conversas estão adiantadas e que, pelo menos duas redes de livrarias físicas já fecharam com a BookPartners. Sempre bom lembrar que a holding de Eduardo tem um braço varejista, a Cia dos Livros, que acaba de inaugurar a sua 13ª loja.

Eduardo estima que as livrarias com as quais a BookPartners tem negócios perderam R$ 6,5 milhões no ano passado por livros que estão esgotados. “Nesse ano, essa perda já bateu R$ 5 milhões e estamos em setembro ainda. Temos que recuperar essa demanda que já existe”, desabafou.

Clique aqui e leia matéria sobre a Psi7, pioneira da impressão digital e do POD no Brasil.

[30/09/2015 09:58:49]