Indústria editorial tem pior queda de faturamento desde 2002
PublishNews, Carlo Carrenho, 30/07/2013
Segundo os dados da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, o faturamento das editoras em 2012 encolheu 2,64% em termos reais afetado pela queda das compras governamentais

A Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, divulgada hoje pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) com dados de 2012 não traz boas notícias. Segundo os dados apurados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), responsável pela elaboração do estudo, as editoras brasileiras faturaram R$ 4,985 bilhões no ano passado, um aumento nominal de apenas 3,04% em relação a 2011, quando o faturamento foi de R$ 4,837 bilhões. Considerando-se a inflação de 5,84% medida pelo IPCA em 2012, o mercado encolheu 2,64% no ano passado. Trata-se da pior queda em valores reais do mercado editorial brasileiro desde 2002, quando o faturamento das editoras caiu 14,51% em grande parte devido à alta inflação de 12,53% naquele ano (IPCA).

As baixas vendas para o governo foram um dos grandes fatores que contribuíram para um péssimo 2012. O governo comprou R$ 1,316 bilhão no ano passado, contra R$ 1,388 bilhão em 2011. Trata-se de uma queda nominal de 5,20% e de uma queda real de 10,4%. As vendas para o mercado tiveram crescimento tanto nominal quanto real, mas não foram o suficientes para compensar a queda das compras governamentais em valores reais. Em 2012, os editores faturaram R$ 3,669 bilhões em suas vendas privadas contra R$ 3,449 bilhões no ano anterior, o que significa um crescimento nominal de 6,36% e um crescimento real de apenas 0,49%. Vale lembrar que desde 2008 as vendas para o mercado não apresentavam crescimento real, portanto, ainda que baixo, este índice positivo merece comemoração. Com a queda das vendas ao governo e o crescimento das vendas ao mercado, a participação governamental no faturamento das editoras caiu de 28,7% em 2011 para 26,4% em 2012.

Se considerarmos o número de exemplares vendidos, as vendas para o mercado sofreram queda de 5,43% com a venda de 268,6 milhões de livros em 2012 contra 284 milhões em 2011. Para o governo, os editores venderam 166,4 milhões de livros em 2012, o que equivale a 10,31% a menos do que enviaram aos armazéns estatais em 2011, quando o número chegou a 185,5 milhões. No acumulado total, foram vendidos 434,9 milhões de exemplares em 2012, uma queda de 7,36% em relação ao ano anterior.

Existe sempre uma preocupação por parte da indústria editorial em mostrar o comportamento do preço médio do livro, especialmente aqueles praticados para o mercado, já desconsideradas as vendas para o governo. E, neste quesito, a Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro também traz más notícias. Segundo os dados apurados, o preço médio do livro cresceu 12,46% em 2012 considerando apenas as vendas ao mercado. Em termos reais, descontada a inflação pelo IPCA, o preço médio do livro cresceu 6,25% em 2012.

No entanto, vale aqui uma crítica estatística à pesquisa. Ao comparar o preço médio entre diversos anos, o estudo considera estáticas as características do livro médio, ou seja, não considera variações no formato médio nem no número médio de páginas. As variações entre um ano e o anterior com certeza não devem ser tão substanciais, mas quando se utiliza dados comparando o preço médio de 2012 com o de 2004, como a pesquisa aponta, é no mínimo perigoso ignorar as variações no livro médio. Neste período – escolhido pela pesquisa possivelmente para tentar medir o efeito da desoneração de PIS e Cofins ocorrida em 2004 –, o livro médio pode ter sofrido variações consideráveis em consequência de tendências do período, tais como o crescimento e retração do porta-a-porta, o aumento do consumo da classe C etc. A FIPE reconhece a fragilidade do preço médio do livro como um dado estatístico. “Não se trata de um índice de preços ou de inflação, é apenas o faturamento dividido pelo número de livros vendidos”, enfatizou o pesquisador Leonardo Müller, coordenador do projeto. “O que dá para dizer é que as editoras estão oferecendo livros mais baratos, tivemos os pocket books, por exemplo”, complementou referindo-se aos últimos anos. “Não é possível inferir que o preço ao consumidor tenha caído com este dado, embora isto seja bastante possível”, ainda declarou o economista.

Mas, considerações estatísticas à parte, os organizadores da pesquisa apontam que o preço médio do livro teve queda real de 41% desde 2004 em seus preços ao mercado. Mas se compararmos os preços médios da pesquisa de 2012 e daquela publicada em 2004, em termos reais deflacionando-se com o IPCA, observa-se uma queda de 28,3%, um valor ainda considerável, mas abaixo do informado na divulgação da pesquisa. Na realidade, conforme explicou Müller, foram utilizados valores revistos para o ano de 2004 na elaboração do cálculo, os quais foram baseados no ajuste estatístico feito em 2009 por meio de um censo que alterou a relação entre amostra e universo. De qualquer forma, trata-se de uma queda real expressiva, ainda que seja importante saber se houve variação de formato e número de páginas do livro médio.

[30/07/2013 00:00:00]