O plano da Amazon: Vender milhões de Kindles no Brasil’
PublishNews, Carlo Carrenho, 07/12/2012
David Naggar, executivo da gigante de Seattle, vai trabalhar duro para trazer preços promocionais e a níveis mais baixos no Brasil

Para o lançamento da loja da Amazon no Brasil, na madrugada da última quinta-feira, 6/12, a Amazon preferiu manter seu poliglota executivo peruano Pedro Huerta, responsável pelas operações do Kindle na América Latina, em sua sede em Seattle. Em vez de enviá-lo para mais uma missão por aqui, a megaempresa preferiu mandar seu chefe, David Naggar, que supervisiona os conteúdos para Kindle no mundo inteiro. Nova-iorquino e nascido praticamente dentro do mercado editorial, pois sua mãe é a conhecida agente literária Jean Naggar, David já havia vindo ao Brasil antes. Na Bienal do Livro do Rio de Janeiro de 2011, por exemplo, o executivo proferiu uma palestra sobre a Amazon e ainda aproveitou para saborear quitutes árabes à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, assistindo ao belo por do sol carioca. Desta vez, no entanto, não houve tempo para tais prazeres e entre uma entrevista e outra com os mais diversos órgãos de imprensa, David Naggar recebeu o PublishNews para uma conversa, digamos, ao pé do Kindle.

PublishNews -A Amazon está trazendo apenas um dos modelos do Kindle. E quanto aos outros aparelhos? Qual você acha que será o papel do e-reader dedicado no Brasil?
David Naggar - O objetivo é trazer todos eles ao Brasil rapidamente. Queremos todos os nossos aparelhos aqui. O que temos visto em outros países até agora é que quando as pessoas começam a ler livros digitais no ecossistema do Kindle, nos aplicativos ou aparelhos, elas passam a ler mais, em média quatro vez mais livros que antes. E como as pessoas começam a ler mais, adquirir um aparelho criado com o propósito específico da leitura se torna uma ideia interessante. Existe uma grande quantidade de tablets e smartphones no Brasil, mas acreditamos que um e-reader dedicado por R$ 299 é uma ótima oportunidade. Nossa filosofia é produzir aparelhos de alta qualidade, os melhores do mercado, mas vendê-los a preços acessíveis. Tentamos apenas recuperar nossos custos na venda dos Kindles, o objetivo é que as pessoas comprem mais conteúdo. Neste momento, aliás, este é o melhor preço para o melhor leitor que conseguimos trazer ao Brasil.

PN - E quanto ao governo brasileiro? Ele é um cliente em potencial também?
DN - Não revelamos planos futuros, mas posso dizer que estou muito impressionado com a dedicação do governo brasileiro à alfabetização e leitura do povo brasileiro. É um dos grandes focos do governo. E quanto ao mercado educacional, eu tenho cinco filhos, e quando os vejo indo para a escola com mochilas com 300 quilos de livros nas costas, eu percebo que existe uma solução digital para isto. Não temos muito o que dizer agora, mas isto é definitivamente algo que tem chamado nossa atenção.

PN - Se os leitores dedicados forem isentos de impostos no Brasil, como já se discute no congresso, qual seria o efeito no preço do Kindle?
DN - Vendemos os aparelhos a um preço próximo ao custo, portanto repassaremos aos consumidores qualquer redução de custos.

PN - Existe um programa em Gana, executado pela ONG Worldreader, que distribui Kindles gratuitamente para estudantes carentes. É algo que pode ser feito no Brasil?
DN - É um programa fantástico, é uma grande organização administrada por um ex-funcionário da Amazon. E temos ajudado na obtenção de conteúdo dos editores e com a doação de Kindles também. Uma coisa interessante sobre a leitura digital, particularmente em um país como o Brasil, onde dezenas de milhões de pessoas demorariam mais de duas horas para ir à livraria mais próxima, é que ter um aparelho no bolso que é uma livraria é algo bastante útil. É bom para a alfabetização, para a leitura e para criar o gosto por ela, algo que tem que começar cedo.

PN - Qual a importância da plataforma de self-publishing KDP (KindleDirect Publishing) no modelo de negócios de vocês?
DN - Nossa plataforma de KDP tem sido fundamental em todos os países em que estamos presentes. O que esta plataforma faz é permitir que qualquer proprietário de conteúdo, autor ou editor, consiga colocar seu livro em nossa loja do lado de um best-seller. Muitos editores brasileiros já usavam o KDP para disponibilizar seus catálogos nos EUA antes mesmo do nosso lançamento no Brasil.

PN - Vocês esperam que o Kindle alcance as massas ou seja apenas um produto para a elite econômica brasileira?
DN -
Esperamos vender milhões de Kindles no Brasil. Entre o leitor de R$ 299 e os aplicativos gratuitos, acreditamos que temos uma loja fantástica e bastante acessível.

PN - E o preço dos e-books? Já há reclamações que estão alto? Eles devem baixar no futuro?
DN - A coisa mais importante é manter a diferença entre o preço do livro impresso e o do livro digital. Há duas coisas que não fazem nenhum sentido para o consumidor quando ele opta pela leitura digital. A primeira é o livro digital não estar disponível quando o livro impresso é lançado. Os editores fazem todo seu marketing no lançamento do livro e o consumidor digital diz: “Que legal, este novo lançamento chegou!” E então percebe que o livro não está disponível em e-book , fica p. da vida, e não compra. Nenhum editor que eu conheça faz mais ações de marketing quando o livro digital é lançado depois. Portanto, lançar os dois ao mesmo tempo faz todo sentido comercial porque o número de consumidores alcançados será maximizado. A segunda coisa que irrita o consumidor é quando o livro digital é mais caro ou tem o mesmo preço que o livro físico, é incoerente. Os clientes sabem que há custos de papel, de impressão, de frete, e nós recebemos um feedback bem negativo deles quando o livro digital e o impresso têm os mesmos preços.Vamos trabalhar duro para trazer preços promocionais e a níveis mais baixos para os consumidores brasileiros.

PN - A Amazon exige que os livros sejam comercializados com DRM, a proteção anti-pirataria?
DN - Nós oferecemos a possibilidade de se comercializar livros sem DRM neste momento. A editora O’Reilly é uma das poucas que faz isto neste momento nos EUA. A decisão fica a cargo do editor.

PN - Muito já se reclamou da dificuldade de se montar uma empresa no Brasil, especialmente por causa do sistema fiscal. Houve algo que foi mais fácil do que a Amazon esperava?

DN - Não foi tão difícil assim. Nós só lançamos uma loja quando temos a oferta adequada para oferecer ao consumidor, então levamos o tempo que é necessário. Não demorou mais aqui que em outros lugares. As preocupações dos editores não foram inéditas ou diferentes do que já tínhamos ouvido antes. Era uma questão de sentar para discutir e deixar os editores confortáveis com o que pretendíamos fazer no Brasil. Sobre os impostos, foi uma questão de sentirmos conforto sobre como administrar a questão. Vários editores já tinham colocado o conteúdo em nossa loja americana por KDP, então sabíamos que havia conteúdo. Isto foi realmente mais fácil. Muitos editores estavam prontos para o digital e perguntavam quando chegaríamos no Brasil. Havia, portanto, uma abertura para o digital.

[07/12/2012 01:00:00]