Publicidade
Publicidade
Conversas! Conversas! Conversas!
PublishNews, 18/06/2012
Conversas! Conversas! Conversas!

Impossível escrever sobre outro assunto logo depois de ter mergulhado, por dois dias intensos, nos seminários do Conversas ao Pé da Página 2012. O Conversas é um ciclo de encontros e debates sobre temas relacionados a leitura, literatura, formação de leitores e livros para crianças e jovens.

O propósito da iniciativa é promover um intercâmbio de reflexões e experiências entre especialistas e figuras de destaque nacional e internacional de diferentes áreas. A ideia é constituir, progressivamente, foros de discussão e troca que, por meio da criação de redes, se espalhem pelos mais diversos espaços onde a leitura e a formação de leitores estiverem em pauta. Difusão e compartilhamento, como base para a formação de redes que se ampliam e se alimentam, estão na origem e constituem a vocação do Conversas ao Pé da Página (organizado por Patrícia Pereira Leite e por mim, e com realização do Sesc).

O Conversas 2012, dividido em três blocos, cada um com dois dias de oficinas e seminários, tem como propósito refletir sobre quem são as crianças e os jovens e quem são os leitores do século XXI. Na última sexta-feira, 15 de junho, terminou a programação do Bloco II com um total de 30 convidados (15 estrangeiros). Dedicadas ao tema “Leituras e jovens leitores”, as conversas avançaram na discussão, enriqueceram as referências e emocionaram uma plateia de aproximadamente 500 pessoas, totalmente compenetrada.

No primeiro dia, María Teresa Andruetto, prêmio Andersen 2012, e Emília Gallego, uma das maiores intelectuais de Cuba, presidente da seção do IBBY cubano, conversaram sobre “leituras no século XXI”. Equilibrando delicadeza, firmeza e radicalidade, ambas deixaram clara a impossibilidade de se falar e pensar a juventude de uma forma abstrata, assim como uma “literatura” dirigida a ela. Defensoras de uma “literatura sem adjetivos”, ambas, por caminhos diversos, defenderam a leitura como um confronto ou um encontro consigo mesmo. Uma leitura incômoda que resulta de um comprometimento, ou, como disse María Teresa ao falar de sua escrita, “que seja uma batalha contra os preconceitos”. Afinal, para ela o atos de “escrever ou ler” têm sentido como forma de “ver com os olhos dos outros”. Emilia Gallego retomou a ideia da “hospitalidade da leitura”, emprestada de Goldin, a partir da qual os livros e a leitura assumem um lugar de acolhimento e identificação na vida dos leitores.

Na sequência, Inês Bogeá, Marie Ange Bordas e Paulo Lins discutiram como o contato com diversas manifestações artísticas são portas para muitos jovens que encontram seu lugar e afirmam seus espaços de sociabilidade. Marie Ange Bordas relatou experiências com crianças e jovens de várias partes do mundo, dos campos de refugiados até comunidades tradicionais no Brasil e na Colômbia, que se transformam em exposições e livros em suas mãos. Também entrou em pauta a experiência das Fábricas de Cultura, onde mais de três mil crianças e jovens realizaram um trabalho durante 10 meses, sob a coordenação, entre outros, de Inês Bogéa. Já Paulo levantou a importância dos relatos orais na formação de leitores e o papel da oralidade principalmente para quem não tem acesso aos livros.

Se no primeiro dia a abordagem foi mais geral, no segundo a primeira mesa, composta por Cecília Bajour, Geneviève Patte e Daniel Goldin, tocou fundo na questão da mediação e dos jovens e a leitura. A colocação de Geneviève situa bem por onde a discussão andou: "Os jovens só leem realmente o que têm vontade. A primeira qualidade de um mediador para a formação de um leitor é respeitar sua liberdade." Num ping-pong complementar e desafiador, todos discutiram os dilemas do mediador hoje, pondo em relevo a necessidade de se escutar o leitor e de aproveitar esse canal de aprendizado que tanto enriquece não só o próprio trabalho, como o universo pessoal.

Respeitar o leitor, o jovem, se relacionar para conhecer e aprender, não perder de vista a sua diversidade, os seus interesses, desenvolver a escuta, como garantia de estabelecimento de uma cumplicidade e confiança entre o mediador e o leitor, foram pontos enfatizados nessa primeira mesa, que passou de raspão pelo mercado e pelo papel dos editores como primeiros mediadores. Contra os mitos da juventude eterna, foram ressaltadas as grandes dificuldades da passagem à idade adulta. Longe do que se pinta, a adolescência e a juventude são épocas de afirmação, conquistas duras e difíceis.

Se até aqui as discussões foram se complementando e conectando, a chave de ouro veio com o encontro de Rappin’Hood e Márcio Vidal, da Cooperifa. Músico e poeta abriram as portas e trouxeram para dentro do Conversas as vozes de jovens brasileiros. Marcaram presença e fincaram o pé no chão no trabalho em sala de aula e nos espaços da periferia.

Com a autoridade de quem fala como sujeitos de duros e longos processos de afirmação de identidade, Rappin’Hood e Márcio Vidal trouxeram o testemunho de uma práxis comprometida com o ponto de vista de uma grande maioria dos jovens: saraus, espaços criados e conquistados – em vista da inexistência de outros – onde escrita, leitura, literatura, música e dança de fato congregam e criam referencias de identidade e afirmação decisivas – e salvam.

A presença de ambos, a conversa casada e as falas cheias de consistência e reflexão por si só teriam valido a pena. Mas o gancho entre essas duas falas, genuínas e porta-vozes de um processo de luta pela visibilidade, com as Conversas anteriores deu vitalidade e força, comovendo e emocionando a todos. Márcio e Rappin’Hood deram uma aula de escuta, de mediação, de trabalho em sala de aula, de referência para os mais jovens.

Como disse Cecília Bajour, “a leitura cria vínculos, afasta a solidão, promove encontros”. Essas conversas confirmaram isso. Valeu!

Em tempo: Do dia 8/7 ao dia 29/7 estarão abertas as inscrições para o Bloco III, o último do Conversas 2012. O tema é “O livro hoje e amanhã”. Confira a programação: www.conversapepagina.com.br.

Dolores Prades é editora, gestora e consultora na área editorial de literatura para crianças e jovens. É membro do júri do Prêmio Hans Christian Andersen e curadora da FLUPP. É também coordenadora do projeto Conversas ao Pé da Página - Seminários sobre Leitura, e da área de literatura para crianças e jovens da Revista Eletrônica Emília. Sua coluna pretende discutir temas relacionados à edição e ao mercado da literatura para crianças e jovens, promover a crítica da produção nacional e internacional deste segmento editorial e refletir sobre fundamentos e práticas em torno da leitura e da formação de leitores. Seu LinkedIn pode ser acessado aqui.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

Publicidade

A Alta Novel é um selo novo que transita entre vários segmentos e busca unir diferentes gêneros com publicações que inspirem leitores de diferentes idades, mostrando um compromisso com qualidade e diversidade. Conheça nossos livros clicando aqui!

Leia também
Uma visita a qualquer livraria importante, mostra a convivência dos livros ilustrados junto às inúmeras séries juvenis de sucess
Os temas transversais foram incorporados aos parâmetros curriculares nacionais com o intuito de introduzir e garantir a discussão de temas sociais na escola
A importância dos livros sem idade reside precisamente no fato deles ultrapassarem seus destinatários naturais e ampliarem seu escopo de leitores, graças a suas qualidades tanto formais como de conteú
O interesse por este tema tem sido também recorrente entre as solicitações de leitores da Revista Emília
Vários são os fatores responsáveis pelo crescimento do segmento de mercado dedicado a livros para bebês: o reconhecimento da importância da leitura para o futuro
Publicidade

Mais de 13 mil pessoas recebem todos os dias a newsletter do PublishNews em suas caixas postais. Desta forma, elas estão sempre atualizadas com as últimas notícias do mercado editorial. Disparamos o informativo sempre antes do meio-dia e, graças ao nosso trabalho de edição e curadoria, você não precisa mais do que 10 minutos para ficar por dentro das novidades. E o melhor: É gratuito! Não perca tempo, clique aqui e assine agora mesmo a newsletter do PublishNews.

Outras colunas
Seção publieditorial do PublishNews traz obras lançadas pela Ases da Literatura e seus selos
Em 'A cartinha de Deus', a autora leva os leitores em uma jornada íntima e inspiradora, mostrando como aprendeu a lidar com os desafios impostos pela distonia
Em 'Alena Existe', publicada pela Ases da Literatura, o autor Roger Dörl desvenda os segredos do universo numa trama repleta de ficção científica, aventura e mistério
Conheça a jornada de Nick, o gatinho amoroso que ensina sobre presença e ausência no livro da autora Maurilene Bacelar, lançamento da Editora Asinha
No episódio, nossa equipe conversou com pesquisador do mercado editorial sobre o segmento da autopublicação, seu histórico, crescimento, nuances e importância; além de saber mais sobre a própria carreira de Müller
O que precisamos agora, entre outras coisas, é de cartas de amor aos livros.
Luiz Schwarcz
CEO do Grupo Companhia das Letras
Publicidade

Você está buscando um emprego no mercado editorial? O PublishNews oferece um banco de vagas abertas em diversas empresas da cadeia do livro. E se você quiser anunciar uma vaga em sua empresa, entre em contato.

Procurar

Precisando de um capista, de um diagramador ou de uma gráfica? Ou de um conversor de e-books? Seja o que for, você poderá encontrar no nosso Guia de Fornecedores. E para anunciar sua empresa, entre em contato.

Procurar

O PublishNews nasceu como uma newsletter. E esta continua sendo nossa principal ferramenta de comunicação. Quer receber diariamente todas as notícias do mundo do livro resumidas em um parágrafo?

Assinar