O ano da virada
PublishNews, 19/01/2012
O ano da virada

Após longa e tenebrosa primavera, eis que finalmente consigo retomar estas cartas do front... Mil desculpas aos leitores, mas mudanças pessoais e profissionais me impediram de atualizar a coluna nos últimos meses.

Uma das novidades desse período foi que deixei de ser editora executiva na Moderna para assumir a gerência de pesquisa e desenvolvimento de conteúdos digitais nas Edições SM, onde estou desde novembro.

Mas agora o verão chegou, assim como 2012, e cá estamos nós, às vésperas de mais um ano letivo.

Na verdade, 2012 pode até ser mais um ano letivo, mas com certeza não será um ano letivo qualquer... ao menos para as editoras escolares.

No mercado escolar, 2012 será o ano em que faremos contato com a educação do futuro, com a educação do século 21.

E o grande “game changer” no cenário brasileiro será, para variar, o governo federal. Como esta coluna adiantou em agosto do ano passado, o MEC anunciou há alguns meses o primeiro edital do Programa Nacional do Livro Didático a incluir conteúdo digital – o PNLD 2014.

O motivo da mudança, segundo Rafael Torino, diretor de ações educacionais do FNDE, é que “os conteúdos multimídia oferecem novas possibilidades de trabalho aos professores e de aprendizado aos alunos” (veja o texto no site do governo e a matéria do PublishNews).

Destinado aos anos finais (6º a 9º) do ensino fundamental na rede pública, o edital dá às editoras a opção de produzir conteúdo digital associado aos livros. Cada volume poderá ter de 10 a 100 objetos educacionais digitais complementares a ele, a serem entregues via DVD-ROMs e via internet.

O resultado dessa iniciativa governamental é que, da noite para o dia, começou uma corrida ao ouro nas editoras didáticas. Iniciativas que até então se restringiam a gigantes como Moderna e Saraiva passaram a fazer parte da rotina de médias e pequenas – e até das grandes que vinham relevando o assunto, como a FTD.

O efeito cascata tem sido torrencial. São novos profissionais, novos fornecedores, novas negociações, novos fluxos e procedimentos a incorporar, em poucos meses, a um cotidiano até então estável.

Como se isso não bastasse, o mercado particular também vem garantindo fortes emoções. Já no segundo semestre de 2011, boa parte das editoras começou a sofrer pressão das maiores escolas de São Paulo para oferecer conteúdo para tablets das plataformas iOS (Apple) e Android (Google).

E o consenso entre os coordenadores de tecnologia educacional dessas escolas é que em 2012 a pressão deve aumentar...

A correria não é à toa. Afinal, se o governo vai dar tablets, kits multimídia e conteúdo digital para a rede pública em 2014, como ficarão as escolas particulares que não fizerem a mesma transição ao longo de 2012 e 2013?

E é assim que, em questão de poucos anos, um inocente edital pode vir a mudar profundamente todo um segmento do mercado editorial brasileiro – um segmento que, em 2010, foi responsável por 32% dos títulos editados e 47% do faturamento do setor.

Pedagogia “da marquetagem”?

Mas não é só o governo que contribui para esse cenário. Há a demanda de pais e alunos por uma escola mais sintonizada com os dias de hoje. E há o consenso, cada vez mais amplo, de que a tecnologia educacional tem ao menos uma vantagem clara: o aumento no envolvimento dos alunos.

Segundo um estudo do final de 2010 feito pela Cengage, editora do segmento universitário, 58% dos professores concordam com essa afirmação – e 71% dos que têm alunos altamente motivados veem grandes benefícios em usar as TICs (tecnologias da informação e comunicação) na sala de aula.

Só que não basta a motivação aumentar: para que o investimento no digital se justifique, o desempenho dos alunos também precisa melhorar. Do contrário, ficaremos sempre reféns do estigma da “pedagogia da marquetagem”, nas palavras do colunista Elio Gaspari.

Mas isso já foi papo de outra coluna...

Até a próxima,.

@gabidias

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[18/01/2012 22:00:00]