Verdade: procura-se o dono
PublishNews, 30/03/2011
Verdade: procura-se o dono

Esta coluna apareceu quando li no Twitter: “Eu não sou o dono da verdade: vendi pela melhor oferta. @edsonaran”. Nessa área editorial, onde a leitura “cria verdades” sobre as obras e autores, como agência literária relembramos de uma venda vivida na agência de um texto. Nada tão famoso como o bestseller de J. K. Rowling e nem tão pitoresco como o caso Gustave Flaubert com a obra Madame Bovary.

Tínhamos em mãos uma novela de autor iniciante e inédito (isto é, nunca publicado, nem na internet). Pequena, simples, clara no seu objetivo de comentar os costumes e descobertas de época.

Não apenas isso, mas junto à obra estavam opiniões de literatos, críticos e editores autônomos, enfim, como se ouve muito: obra com potencial de venda, pois trazia em si todos os emocionantes momentos da narrativa.

Após análise criteriosa do leitor dessa novela, fomos a algumas editoras apresentar e defender a ideia. Todos sabem que depois dessa etapa vem a avaliação do editor. Até que esperamos pouco tempo dado que o autor era iniciante. Senão nos falha a memória, algo por volta de quatro meses. Vieram três respostas que nos deixaram atônitos.

A primeira resposta foi a mais singular. O editor exigiu reunião com o autor e a agência. Reunião longa e sem ponto final, saímos do encontro sem entender nada do que o editor queria da obra, do autor e muito menos se desejava o básico, i.e. publicar a obra. Essa experiência levou o autor a solicitar que o livro não fosse publicado por aquela editora.

Semanas depois, a “coisa” ficaria ainda mais difícil de entender.

Os dois outros editores com os quais temos muita intimidade revelaram a leitura crítica da obra em todos os seus detalhes. Normalmente, os editores nunca mostram a leitura crítica para evitar inúmeras “saias justas”.

Veio então a segunda resposta: negativa. Muito atencioso, o editor mandou todas as explicações listadas, relacionando personagens, trama, título e como o resultado poderia causar problemas, também muito bem fundamentados, na publicação e venda do livro. O autor, já conformado, estava decidido a não publicar mais. Partir para outra ideia etc. etc.

Logo em seguida, chegou o sim da terceira editora. Aí, a “casa caiu” na minha capacidade de compreensão. A resposta veio da mesma forma que a primeira, tudo corretamente relatado, muito consistente e garantindo que seria excelente livro e desejavam muito publicá-lo.

Depois da primeira reunião, o autor quase implorou para que nunca mais falássemos das avaliações com ele. A experiência tinha sido tão desagradável que não desejava mais saber de opiniões de editores.

E assim, guardamos por anos, duas avaliações meticulosamente iguais em todos os seus detalhes, só que uma leva ao veredito de não publicar e outra de publicar.

O livro saiu, venceu a barreira da primeira edição e outras até.


Pena que milhões de razões pessoais não deixaram que esse escritor continuasse a escrever como autor.

[29/03/2011 21:00:00]