Novos tempos em que todos ensinam e todos aprendem
PublishNews, Ivani Cardoso, 21/11/2014
Saiba como foi a CONTEC, conferência realizada pela Feira do Livro de Frankfurt dentro da programação da Bienal de Minas

Os professores recebem muitas críticas por falta de envolvimento, pelo desinteresse em mudar formatos de aulas e pela falta de motivação para buscar os conhecimentos. Durante a CONTEC Brasil Belo Horizonte, realizada nesta terça (18), dentro da programação da Bienal do Livro de Minas Gerais, foi bom ver como os cerca de 250 participantes, a maioria professores, acompanharam as palestras, perguntaram e muitos saíram de lá imbuídos da vontade de seguir o chamado dos palestrantes para repensarem suas aulas. Outro ponto levantado pelos conferencistas foi a importância de compartilhar experiências com os alunos e aproveitar o conhecimento da tecnologia que eles têm. A CONTEC Belo Horizonte foi organizada pela Feira do Livro de Frankfurt com o patrocínio das editoras Moderna e Salamandra.

Marifé Boix Garcia, vice-presidente da Feira do Livro de Frankfurt, acredita que é importante motivar professores para os desafios da educação no mundo atual. “O professor continua sendo a chave para a educação de hoje na preparação do aluno para o futuro. A questão da leitura, digital ou impressa, sempre tem espaço em nossas conferências. Além dos pais e avós, o professor é a pessoa que pode incentivar o hábito da leitura e a paixão pelos livros. E não importa que a leitura seja em papel, em um tablet, em um celular ou nas revistas em quadrinhos. O principal é revelar o caminho para que a vontade de ler encontre seu espaço”.

Walcyr Carrasco, escritor, autor premiado no teatro, com mais de 30 livros infantojuvenis e autor de várias novelas de sucesso, provocou risos e muita reflexão em sua fala. Contou como Monteiro Lobato foi importante para sua formação e todo o encanto que sentiu ao descobrir o incrível mundo do Sítio do Picapau Amarelo. A partir da leitura, ele nunca mais foi o mesmo. Sua mãe ficou tão preocupada com a transformação que resolveu também ler Monteiro Lobato. Então descobriu, disse Carrasco, provocando o riso na plateia, que o filho tinha se transformado em um grande contestador como a boneca Emília, das histórias de Lobato. Para falar do seu tema, Literatura e Educação, ele relembrou que todas as fábulas trazem uma moral, mas que o mais importante é pensar a leitura como algo que pode ser um crescimento pessoal para o leitor.

Sobre a literatura infantojuvenil adotada nas escolas do Brasil, Carrasco comentou que ela passa pelos crivos da editora, do Governo que faz a compra, repassa pelo crivo dos professores e até dos pais. O escritor disse que estamos vivendo em uma sociedade onde a questão do prazer é muito mal vista, tem uma conotação de pecado até quando se fala no prazer da leitura: “Educar para a literatura é proporcionar àquela pessoa que você está ensinando uma chance de um crescimento, a descoberta de um prazer que vai acompanhá-la a vida toda, seja tecnológica ou do livro de papel, desde que ela possa crescer como ser humano. Como temos essa necessidade de ter um motivo justo para fazer as coisas, procuramos livros que tenham esse motivo justo.”

Para Walcyr, há uma preocupação exagerada atualmente em evitar temas perigosos na literatura e na TV, o que é uma incoerência: “Esses temas perigosos são os que mais atraem as crianças porque eles estão na realidade em que elas vivem. Há um certo autismo entre o que escrevemos, a nossa sala de aula, e o que está lá fora. Na escola, vocês professores ficam preocupados com a mensagem e transformam o livro quase em um trabalho de matemática. Livro não é remédio que você tem que engolir à força, não tem que ser uma coisa amarga e obrigada a engolir, tem que entrar na sua vida e passa a fazer parte dela. A única resposta para isso é compartilhar experiência pessoal e tem que haver democracia na escolha. Se de repente surgir um aluno com outra alternativa que ele escolheu para ler, por que não? Vocês professores devem estar abertos a outras maneiras de os livros chegarem”, sugeriu.

O designer e educador colombiano Pablo Arrieta questionou com os professores a proibição do uso do celular na sala de aula: “Não se esqueçam que para esses meninos o celular é uma extensão do corpo. Parte do que precisamos fazer é tentar entender essas novidades que parecem esquisitas mas que estão cheias de vantagens. Nós, professores, temos que mudar nossos comportamentos. Um jovem sabe usar todos os aparelhos, mas ele também precisa do mestre. Só que o talento do mestre não pode ser o talento de um ditador, mas sim de um líder para orientar, para ajudar a fazer com que as coisas aconteçam. É uma aliança que precisamos fazer, um jovem e um mestre precisam aprender um com o outro. A tecnologia é um instrumento que permite voar”.

A professora Carla Viana Coscarelli, da Faculdade de Letras da UFMG, em Belo Horizonte, disse que saber navegar é saber ler e que as duas coisas estão ligadas: Não adianta só saber ler. Fizemos pesquisa colocando jovens para ler no impresso e no digital, e muitas vezes eles não sabem navegar no jornal impresso. Queremos leitores e navegadores, com as duas habilidades desenvolvidas. Hoje há informações demais para consultar, inúmeras fontes, é uma biblioteca digital, tem que ser um curador para ensinar o que realmente é bom. O professor precisa fazer a sua curadoria, mostrar como se integra informações. Muitos alunos leem, recontam, mas na hora que fazemos perguntas eles não percebiam que os dois textos eram contraditórios”.

Games na educação foi o tema do consultor e cofundador da plataforma Kiduca, Jorge Proença. Ele ressaltou que game não deve ser entendido como um joguinho, uma brincadeira para crianças e sim uma ferramenta muito interessante em várias áreas. “Ultimamente o game entrou no aplicativo, no smartphone, é uma tendência com assuntos variados e conectados nos aplicativos no celular. Há muitos benefícios na utilização dos games como maior concentração, alívio do estresse, mais recursos na aprendizagem e ainda a possibilidade de trabalhar valores morais com a troca de experiências. Dizem que quem ensina aprende duas vezes, posso dizer que quem cria games aprende três vezes. Está provado que os games fazem bem para a saúde, para a visão, para a boa forma, para a coordenação, para o equilíbrio”. No entanto, como tudo na vida, também os games apresentam o lado negativo quando usados com exagero, trazendo comprometimentos para a saúde como problemas de postura, sedentarismo, alimentação inadequada, uma vez que alguns participantes até esquecem de se alimentar, ele alertou.

[21/11/2014 01:00:00]