Financiamento coletivo
PublishNews, Leonardo Neto, 08/05/2014
Cariocas lançam duas plataformas de crowdfunding especialmente criadas para livros

O PublishNews tem dado, com regularidade, projetos de livros financiados via crowdfunding, ou financiamento coletivo. Mas até pouco tempo, não existia uma plataforma específica para livros. O que se via é autores buscando recursos, com empurrãozinho de amigos e interessados nos temas, em plataformas que servem para financiamento de qualquer outra coisa, além dos livros. Mas os cariocas saíram na frente e do Rio de Janeiro, foram lançadas duas plataformas: a Bookstart, de Bernardo Obadia e Vitor Arteiro e a Bookstorming, encabeçada por Raquel Maldonado.

No ar desde março, a Bookstart já concluiu arrecadação para a publicação do primeiro projeto. Trata-se de Confissões ao mar, de Kadu Lago, que amealhou pouco mais de R$ 8,4 mil que vão custear a quarta edição do livro lançado originalmente pela Copacabana Books. “Montamos uma plataforma robusta e lançamos três autores parceiros que se dispuseram e se comprometeram a dar feedbacks durante todo o processo”, contou Bernardo. O diferencial do Bookstart, batem no peito os idealizadores, está na especificidade para o mercado de livros; a possibilidade de intermediar o contato com editores interessados no projeto e o pacote estatístico que promete dar aos autores informações completas sobre quem está financiando seus projetos. Atualmente, estão no ar cinco campanhas e com sete engatilhadas para os próximos dias. “Queremos criar um modelo capaz de produzir em larga escala, mas que mantenha sempre o foco em qualidade. Formamos uma equipe enxuta, capaz de gerenciar um hub de profissionais terceirizados. Após meses de entrevistas, conseguimos formar uma rede de profissionais confiáveis que estarão on line e prontos para absorver qualquer demanda que o Bookstart entenda relevante”, conta Obadia.

O primeiro projeto encampado pela Bookstorming é o livro Desordem, uma antologia de contos de sete autores que já conquistou 70 leitores. O modelo do Bookstorming é um pouco diferente do que se vê em plataformas de financiamento coletivo. Ao contrário do sistema já consagrado pelos veteranos Catarse ou idea.me, o Bookstorming estipula uma tiragem mínima e os interessados compram os livros (e não cotas como costuma acontecer). Desordem, por exemplo, alcançou 10% dos 700 compradores necessários para o livro chegar à impressão. De acordo com Raquel, além desse, o outro diferencial importante do Bookstorming é a curadoria editorial por trás dos livros que entram no ar. “Queremos fomentar autores e aproxima-los de seus leitores”, comenta. Funciona como uma editora, mas o custeio que antecede a produção efetiva da obra é feito pelos leitores. Para isso, o time por trás do Bookstorming é composto por pessoas que já trabalham no mercado. Raquel, que já teve passagens pela Objetiva, atualmente trabalha no departamento editorial da LeYa. Com ela, estão Breno Barreto, editor assistente da Casa da Palavra; Fabrício Fuzimoto, que teve passagem pela editora Águia Dourada e Arthur Granado, responsável pelo desenvolvimento da plataforma.

Investimentos

Tanto Bookstorming quanto Bookstart contam, por enquanto, apenas com investimentos do próprio bolso dos seus idealizadores, mas já há investidores de olho no negócio deles. De acordo com Bernardo, do Bookstart, a plataforma já foi procurada por investidores interessados em saber um pouco mais sobre como funciona a startup. Além disso, ele contou ao PublishNews que já fecharam contrato com quatro editoras pequenas que poderão publicar as obras financiadas pela plataforma ou até mesmo oferecer projetos para captação via Bookstart. “Estamos em busca pelo real diferencial. Queremos ser o melhor parceiro do autor. Para as editoras queremos ser um grande viabilizador de passivo, sabendo que elas não conseguem absorver tudo que chega, o Bookstart vai se tornar uma forma alternativa e sem nenhum risco financeiro de publicação. Ou seja, nosso momento agora e trazer curadoria e estreitar o relacionamento com investidores”, arremata Bernardo. Já a Bookstorming também atraiu alguns investidores, de acordo com Raquel Maldonado. “Mas queremos provar que o primeiro projeto deu certo, antes de aceitar investimentos externos”, observa a idealizadora.

Do outro lado do balcão

Na outra ponta dessa história, está o autor. Muitos tentam, poucos conseguem publicar o seu livro e o crowdfunding surge como uma alternativa viável, mas muitas vezes pouco certo, é verdade. Daniel Navarro, por exemplo, conseguiu levantar mais do que precisava para levar adiante o seu livro O Capa-Branca, que reúne as memórias de Walter Farias, ex-atendente de enfermagem (e também paciente) do Complexo Psiquiátrico do Juquery, em Franco da Rocha (SP). Pelo idea.me , o livro levantou R$ 5.665, 25% além do que era previsto inicialmente. “Sei muito bem das dificuldades de se fazer um financiamento coletivo. Só fui ter certeza que daria certo nos 48 do segundo tempo”, conta. Agora, ele comemora que, além de financiadores, o livro amealhou também fãs que querem ajudar com algo além de dinheiro. “Jussara Fino, que já trabalhou na Cosac Naify e atualmente está na Editora Globo, se encantou com O Capa-Branca e vai fazer o projeto gráfico de graça”, contou entusiasmado. Além disso, Navarro prova que santo de casa também faz milagre. Depois do sucesso de arrecadação, a Terceiro Nome – onde Daniel é assessor de imprensa – ficou interessada pelo livro e vai editar o título.

As razões de optar pelo financiamento coletivo são meio óbvias: muita oferta para pouca demanda. As editoras fazem uma peneira e, claro, procuram títulos e autores mais vendedores. Esse, aliás, foi uma das razões apontadas por Raquel Maldonado para que encampasse o Bookstorming. “Tem tantos bons autores que ainda não tem o brilho necessário para conquistar uma editora e até entendo, afinal, literatura muitas vezes não sustenta editora”, contou ao PublishNews. Dilema parecido com o que Daniel Navarro se viu envolvido. Ele conta que no ano passado procurou mais de 30 editoras. “A competição no mercado editorial é muito grande. Eu tinha batido na porta de várias editoras. Recebi vários ‘nãos’ e alguns ‘talvez’. Dentro desses ‘talvez’, estava implícito a verba para publicação”, conta Navarro. Por “verba para publicação”, entende-se bancar do próprio bolso ou buscar patrocínio. “Até tentei buscar patrocínio, mas o tema do livro não favorece esse tipo de ação. Imagina uma empresa farmacêutica querer associar sua marca a um livro que fala sobre um hospital psiquiátrico?” se pergunta. “Aí tive a ideia de fazer o crowdfuding para acelerar o processo”, conta.

[08/05/2014 00:00:00]