Contec coloca educação e tecnologia em pauta
PublishNews, Iona Teixeira Stevens, 08/08/2012
Evento da feira de Frankfurt abre discussão sobre como criar novos leitores

Ontem foi o primeiro dia da conferência sobre tecnologia, alfabetização, educação e cross media, a Contec, no auditório do Ibirapuera, em São Paulo. Claudio de Moura Castro, do grupo Positivo, participou de um dos debates mais interessantes do dia, sobre a contribuição do mercado literário para a alfabetização mundial. “Eu queria falar aqui de livros e leitores. Infelizmente no Brasil não há nem livros, nem leitores” abriu o palestrante. Ele apresentou em seguida alguns resultados de pesquisas sobre formação de leitores, mostrando, por exemplo, que não apenas a escolaridade, como também a presença de bibliotecas em casa, influe na aquisição do hábito da leitura.

O economista mostrou que, apesar da escassez de estatísticas confiáveis sobre leitura e analfabetismo, os dados disponíveis revelam um panorama muito insatisfatório: apenas 18% dos universitários de São Paulo possuem o hábito da leitura, o Brasil possui apenas 26 milhões de leitores e, talvez o mais assustador, metade dos alunos na quarta série é considerada analfabeto funcional.

Como solucionar esse problema então? Claudio de Moura Castro provocou um “frisson” no auditório quando colocou um slide com as fotos de Paulo Coelho e Harry Potter. Um tem 150 milhões de leitores, o outro é personagem do livro que vendeu 9 milhões de cópias em um dia: “Eles sabem o que fazer para conseguir um leitor” disse Claudio. E sua argumentação seguiu por esse caminho: “importa mais o fato de ler do que ‘o que’ leu” afirmou, “o importante é adquirir o hábito”. Claudio continuou provocando sua plateia com frases de efeito como “A escola tem uma lei inviolável: se não é chato, não é bom para a educação” e “livro é para os ricos, computadores são para os pobres” se referindo ao fato de que um computador novo é mais barato que o total de livros de um ano letivo. Concluiu sua fala fazendo apelo a uma mudança do modelo de negócio, para se adequar a um futuro onde os livros estarão todos no computador. A cética Sônia Machado Jardim, presidente do sindicato nacional dos editores de livros, a SNEL, completou lembrando que esse novo modelo de negócio deve remunerar a cadeia produtiva.

Outro destaque do primeiro dia da Contec foi a apresentação de Brij Kothari, da ONG Planet Read, da Índia, sobre o efeito das “legendas em mesmo idioma” na diminuição do analfabetismo funcional. Os dados apresentados indicam que, não somente há um aumento no hábito de leitura, como também é uma opção vantajosa para os programas de televisão, pois há uma maior ‘retenção’ de espectadores em seus programas. O palestrante ressaltou a viabilidade de implementação do projeto no Brasil, principalmente por causa do baixo custo. Segundo Brij Kothari, na Índia, o custo (por pessoa, por ano) é de US$ 0,0002, enquanto os programas de alfabetização custam US$ 3. Ele usa o exemplo do vídeo musical da Shakira, da Copa do mundo de 2010: “Esse vídeo foi visto por meio bilhão de pessoas no Youtube. Se ela tivesse colocado legenda, 500 milhões de pessoas teriam lido um pouco com ele. Por favor, se alguém conseguir falar com ela, passe o recado” brinca o Sr. Kothari.

A conferência continua hoje, no auditório do Ibirapuera, entrada pelo portão 2.

[08/08/2012 00:00:00]