O mundo conectado ao livro infantil
PublishNews, Thais Caramico, especial para o PublishNews, 19/03/2012
No TOC em Bolonha, especialistas ressaltam as dificuldades de produzir e-books e aplicativos
Auditório cheio e uma expectativa tremenda dos participantes sobre as possibilidades do livro infantil no mundo digital. Assim começou a segunda edição do Tools of Change for Publishing (TOC) de Bolonha, que discute os rumos da tecnologia na literatura para crianças e jovens. Ontem, 18, um dia antes de a Feira de Bolonha começar, 350 pessoas (100 a mais do que no ano passado) estiveram reunidas a fim de entender melhor esse mercado ainda tão novo. Mas o tom das palestras, apesar de ter sido um ano movimentado, não deixa escapar: o assunto ainda traz mais perguntas do que respostas.

O primeiro a subir ao palco no Palazzo dei Congressi, anexo ao prédio principal da feira, foi o presidente da Disney Publishing, Russel Hampton, que se mostrou bastante satisfeito após ter sido apresentado como o manda-chuva da empresa que mais vende e-books e aplicativos para crianças no mundo. E foi logo dizendo: "a tecnologia vem para somar, jamais para substituir o papel. O que queremos é que a criança possa escolher o quê, onde, como e quando ler". No caso da Disney, a plataforma possibilita inúmeras criações, vídeos e desenhos que se desdobram em comic books, revistas, jogos, aplicativos educativos e adaptações de clássicos – tudo para 85 países, em 75 idiomas.

Se a quantidade de escolhas é ponto forte da Disney, na sequência Dominique Raccah, da Sourcebooks, apresentou uma pesquisa da Bowker Pubtrack sobre venda de e-books em janeiro de 2012. Somente 1% do montante era para crianças. E, numa contrapartida, ela deixou claro que, na verdade, ainda é muito difícil fazer e-books ou aplicativos infantis. Os desafios? "Os arquivos são grandes, é difícil criar uma harmonia proporcional entre ilustrações, textos e animações", disse. E emendou que, apesar de as vendas de tablets e e-readers terem crescido muito, estes ainda não são produtos que a maioria das crianças tem.

Entre auditórios e outras três salas, seguiu-se ao longo do dia um discurso quase sempre igual: os leitores já existem e continuarão a existir. E por isso, todas as editoras que quiserem acompanhar o mercado têm de se adaptar às mudanças – inclusive as empresas menores.

Foi assim com Kate Wilson, que celebrou na palestra "The year of apiness", o sucesso de sua quase nova empresa. Pelo segundo ano no TOC, a marca NosyCrow é referência no formato. E sua fundadora (que esteve no Brasil em 2011 para dois eventos de literatura), acredita que o momento tem dado às editoras novas oportunidades, porque existe uma geração de pequenos leitores digitais que abre um navegador com a maior facilidade.

Nat Sims, do Night and Day Studios, também acredita nessa habilidade quase intuitiva das crianças. A palestra "Building smart digital books for kids" estava lotada e não passou à toa – para o bem ou para o mal. “Por que fazer apps?” Ele mesmo indagava e respondia. "A criança pode ter oito meses e já sabe ‘virar as páginas’ de um tablet.” E, com tom de provocativo, chegou a dizer que acredita que em 20 anos este será o maior – senão exclusivo – meio de comunicação, educação e entretenimento. "Várias tendências estão se combinando para empurrar rapidamente editoras educacionais em novas direções. O futuro da mídia educativa é o digital, e o futuro do digital é ser móvel. As telas de toque serão feitas não apenas para jogos, mas para a educação também. As empresas vão lucrar com isso e as crianças serão educadas assim."

Muitas das mesmas conversas surgiram ao longo do dia. O ePub, por exemplo, tema contínuo do ano passado, foi assunto de uma conversa levada pela Walrus Books, com Jérémie Gisserot e Julien Simon, para mostrar quais os prós e contras do formato para livros infantis – no entanto, um pouco técnica e sem muitos atrativos para o público que buscava entender com os olhos. As complexidades ligadas a direitos digitais e pressões de preços também foram levantadas em algumas mesas, como desafios contínuos do livro digital. E a conclusão parece ser que, por enquanto, o risco só vale a pena ser tomado mesmo pelas grandes editoras.

Além do custo, a falta de pesquisa faz com que ninguém possa dizer ao certo – além da tela que se move – o que a criança quer. Nesse caminho, a única exceção foi o Sesame Workshop, em parceria com a Nokia. Mais voltado à educação, o painel revelou pontos interessantes no auditório principal. Através de aplicativos, conferências de vídeo entre pais e filhos, a marca usou seu personagem mais famoso, o Elmo, para dialogar com as crianças e demonstrar uma nova forma de interação com o livro digital.

A importância das redes sociais foi citada em uma das mesas onde dois jornalistas especialistas em promover os livros infantis acreditam que a boa divulgação vem da relação estabelecida com os blog, já que o assunto não tem a cobertura merecida nos grandes veículos. Mediados por David Maybury, da Inis, os profissionais Julia Eccleshare, do Guardian, e Warren Buckleitner, do Children's Tech Review e colaborador do The New York Times, comentaram que pode ser difícil fazer uma resenha de um livro digital, já que não existe um jeito de os autores enviarem aos jornalistas um exemplar. Faz sentido.

Enquanto isso, em outra sala, a questão da divulgação tornou-se uma aula prática de Hermés Piqué, da Robot Media, sobre como obter sucesso com seu aplicativo. "A parte mais importante é o ícone! Gastamos horas nele para que seja simples no conceito, mas superdetalhado em suas informações. A verdade é que qualquer aplicativo com mais de 50 mega está comprometido, muitas pessoas não vão baixá-lo. O outro fato é que quanto mais indicações ele tiver, melhor. Portanto, é triste dizer, mas peça ajuda aos amigos. Aquela palavrinha ‘rating’ faz ele entrar na lista dos mais procurados, divulgados. Porque, de verdade, a busca da Apple não funciona”, dizia ao público enquanto sua tela de Power Point complementava: “A Apple está para as buscas assim como o Google está para o desenvolvimento de tablets”.

Na penúltima palestra do dia, Junko Yokota, do Center for Teaching through Children's Books, lançou no telão uma coleção de bons livros digitais. O que antecedeu um momento bastante esperado do dia: a divulgação do The Bologna Ragazzi Digital Award, prêmio inédito para o melhor livro digital, no qual Quem soltou o pum, da Cia. das Letrinhas, único brasileiro da lista de 20 títulos, levou o terceiro lugar, atrás de Dans mon rêve, da e-Toiles Editions, e Numberlys, da Moonbot Studios.
[19/03/2012 00:00:00]
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