São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2011

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Depois dos e-books, editoras se arriscam agora nos app-books

Penguin agita mercado ao lançar versão para tablets de 'Pé na Estrada', de Kerouac, cheia de recursos interativos

Mais caros de fazer e com mercado restrito, aplicativos servem mais como experimentação e peças de marketing


JOSÉLIA AGUIAR
COLUNISTA DA FOLHA

O catálogo de e-books da centenária Penguin já reúne 4.000 títulos. Mas o que faz mais barulho há um mês e meio no mercado de livros é sua re-edição de um cult literário, "Pé na Estrada", em formato de aplicativo em tablets como o iPad, da Apple.
A obra de Jack Kerouac é apenas uma das cinco partes do app que comemora o cinquentenário de sua publicação. As outras tratam do autor, da viagem, da geração beat e da trajetória do próprio livro.
A edição é repleta de elementos interativos: áudio, vídeo, mapas, fotografias, trechos do diário de Kerouac, cartas trocadas com amigos e editor, antigas capas.
Outras edições ampliadas de literatura já estão a caminho, afirma à Folha Stephen Morrison, editor responsável pelo app de "Pé na Estrada".
A Penguin não informa quais são os próximos apps literários, que saem no decorrer de 2012. Os números de venda de Kerouac também não são divulgados -o mercado fala de 60 mil downloads num único mês.
Clássicos transformados em apps não são novidade para os leitores que têm acompanhado como as novas tecnologias transformam há um ano e meio aquilo que chamamos de livro.
O começo foi em abril de 2010, quando saiu a adaptação de "Alice", de Lewis Carroll, pela Atomic Antelope.
Em inovação, o auge neste ano ocorrerá em outubro, quando J.K. Rowling estreia seu site interativo Pottermore, em que vai também concentrar as vendas de e-books de sua série Harry Potter.
Mais caros de fazer e com mercado ainda restrito, os apps exigem das editoras equipes de tecnologia, design e audiovisual. O formato serve mais como experimentação e marketing e menos como fonte de receita.
"Arriscaria dizer que os apps representam menos de 1% do faturamento digital das grandes editoras", estima Mike Shatzkin, organizador do Digital Book World, um dos eventos mais importantes no debate do futuro do livro.
"Mais impacto que a adaptação de clássicos literários como 'Pé na Estrada' será o dia em que um grande autor publicar um obra preparada especialmente para o formato", avalia Douglas Hebbard, editor do Talk New Media, influente site do setor.

IMERSÃO OU INTERAÇÃO?
O futuro digital do livro é o centro do debate nos grandes eventos do mercado editorial, como a Feira do Livro de Londres, em abril passado, e a Feira do Livro de Frankfurt, em outubro que vem.
Entre executivos e especialistas, há cada vez mais o consenso de que há livros para ler e outros para interagir.
Os apps seriam mercado em expansão para títulos de educação e entretenimento infantil. Livros que exigem imersão, como grandes obras da literatura, não teriam vocação para virar app, como explica Evan Schnittman, diretor da Bloomsbury.
Ross Wesson, que é consultor de editoras, concorda: livros que vão se tornar apps com mais facilidade nos próximos anos serão guias de viagem, gastronômicos ou séries como a "Dummies".


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