Google e Kobo mostram as garras
PublishNews, Carlo Carrenho, de Frankfurt, 05/10/2010
Em evento sobre o livro digital, empresas apresentam uma realidade que ainda faz parte do futuro do livro no Brasil

A Feira de Frankfurt só começa amanhã, mas nesta terça-feira (5) vários profissionais do livro já se encontravam à beira do rio Main para participar do Tools of Change Frankfurt (TOC), evento organizado pela O’Reilly em parceria com a própria Feira de Frankfurt. A agenda era monotemática: o futuro digital do livro. As palestras gerais do início da manhã foram bastante conceituais e filosóficas. Mas conforme o dia se desenrolava, algumas abordagens mais práticas foram apresentadas pelos palestrantes na área de conferência do Hotel Marriott.

Google

Um destes palestrantes foi Abraham Murray, da Google. Em sua conferência “Books in the Cloud - Google’s Perspective”, ele apresentou um panorama do que a empresa californiana já desenvolveu dentro da indústria editorial, mas o enfoque não podia deixar de ser o programa Google Editions. Segundo Murray, o programa será lançado ainda este ano nos EUA, oferecendo um catálogo de 400 mil títulos à venda. Para justificar a operação Murray apresentou dados do International Digital Publishing Forum que apontam que os e-books terão uma fatia de 10% do mercado americano no fim de 2010.

O Google Editions prevê parcerias com o varejo de livros, de forma que o consumidor poderá comprar os e-books em uma livraria virtual, ainda que o controle tecnológico e os arquivos digitais em si sejam controlados pela Google. “Qualquer varejista deveria ser capaz de vender e-books que funcionem em qualquer leitor”, afirmou Murray defendendo a filosofia da Google. “Nossa plataforma é aberta e pode suportar qualquer leitor digital”, continuou, “mas os livros da Google Editions não estarão disponíveis para Kindle em seu lançamento”. Ainda que discreta, a mensagem nas entrelinhas era que a Amazon não parecia disposta a trabalhar com o Google Editions.

O Google Editions trabalhará com a plataforma da Adobe Digital Editions para a implementação do polêmico DRM (Digital Rights Control). Murray ainda aproveitou para ressaltar a segurança do projeto googliano: “No projeto Google Books nós desenvolvemos profundos conhecimento e capacidade para evitar hackers e ter um alto padrão de segurança.”

Em um primeiro momento alguns recursos não estarão disponíveis, mas estão na agenda da Google para o futuro. Entre eles estão uma plataforma de mídia social, capacidade de se fazer anotações e leitura offline em telefones e na web (no início, apenas e-readers permitirão a leitura offline ao baixarem os livros no formato ePub).

Nos EUA, a Google irá operar com modelo agência, que permite aos editores determinar o preço de venda. Em relação a outros mercados, Murray afirmou que “a Google pretende satisfazer as necessidades de cada mercado”. Quanto à divisão de receitas, Murray informou que “nos EUA, os editores ficarão com mais de 50% da margem”. A impressão por demanda não faz parte dos planos da Google para o projeto Google Editions.

Entre os brasileiros que acompanharam a palestra da Google, estava Karine Pansa, da editora Girassol, e candidata à presidência da Câmara Brasileira do Livro nas próximas eleições da associação. “O Google Editions estará disponível em vários devices; isto é positivo porque você precisa ir ao encontro do que o consumidor quer. Se o consumidor tem vários acessos, é preciso alcançá-los aonde estiverem”, afirmou a editora. A questão da segurança, no entanto, a preocupa. “Não tenho certeza se a segurança que o Google anuncia é verdadeira, mas se for é algo muito bom.”

Kobo

Outra palestra que chamou a atenção por seu caráter mais prático foi a proferida por Michael Tamblyn, vice-presidente da Kobo, uma e-bookstore canadense. Com o lema de “Toda sua vida de leitura sempre com você”, a Kobo possui aplicativos para praticamente todas as plataformas de smartphones, para iPad, para a web e até um e-reader próprio.

Depois de apresentar alguns números interessantes como “nossos clientes compram dois livros por mês em média enquanto os clientes de livrarias físicas compram metade disso” e outros curiosos “domingo é o dia da semana que mais vendemos online”, Tamblyn passou a discutir quais atributos um varejista de e-books tem que ter para sobreviver.

Para o canadense, há cinco qualidades fundamentais para o sucesso de uma loja de livros digitais:

1) Mentoria: “É preciso guiar o leitor neste novo mundo digital. Dar toda a assessoria necessária neste momento de transição.”

2) Internacionalização: “Para sobreviver, o varejista de e-books terá de atuar globalmente.”

3) Capacidade de custódia: “O varejista tem de ser o guardião da biblioteca dos leitores. Terá de oferecer um serviço de custódia.”

4) Curadoria: “As livrarias de e-books terão de oferecer ao seu cliente uma curadoria sobre o conteúdo.

5) Conectividade: “É fundamental que a loja de e-books permita que os usuários se conectem.

No aspecto internacional, Tanblyn observou que 5% das vendas da Kobo já são para países de língua não-inglesa e que em um dia típico vendem para mais de 150 países. Outras estatísticas da Kobo mostram que 90% dos leitores possuem apenas um device, mas que a parcela dos 10% restantes está crescendo. Outro número interessante é que metade dos compradores de e-books da Kobo lê em celulares ou tablets.

De forma geral, chama a atenção o tamanho do catálogo digital de empresas como a Kobo, com quase 2 milhões de títulos, e a Google, que já começa com 400 mil livros. Enquanto isso, nenhuma loja de e-books nacional tem mais de 2 mil livros digitais em português. Isto também chamou a atenção de Karine Pansa. “Sinto-me empurrada para fazer algo o mais rápido possível. Empresas como Google e Kobo vão chegar e não podemos ficar parados. Essa é a conclusão que chego aqui no TOC Frankfurt.”

Karine também observou a velocidade das mudanças. “Está tudo muito rápido. Ano passado, por exemplo, nessa mesma data, a gente não tinha o iPad. Hoje todo mundo já está com um aqui em Frankfurt.” Sobre o Brasil, Karine acredita que possamos nos tornar competitivos rapidamente. “Talvez no ano que vem, quando estivermos aqui novamente, já sejamos competitivos. Isso se aceitarmos esse empurrão e fizermos a nossa parte. Já estou vendo as editoras no Brasil se movimentando. Essa quantidade de brasileiros aqui demonstra esse interesse e preocupação com o mercado.”

Havia cerca de 10 profissionais brasileiros no evento, e a Livraria Saraiva era representada por cinco pessoas.

A cobertura da Feira do Livro de Frankfurt pelo PublishNews tem o apoio da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
[05/10/2010 00:00:00]