Mike Shatzkin, o conselheiro
PublishNews, Maria Fernanda Rodrigues, 11/08/2010
Mike Shatzkin fez a palestra de abertura do I Fórum do Livro Digital na noite desta terça-feira em São Paulo

Os conselhos de Mike Shatzkin na noite desta terça-feira (10), na abertura do Fórum Internacional do Livro Digital: Seja vertical e saiba quem você quer que seja o seu consumidor; escolha o assunto que quer dominar; comprometa-se com uma comunidade, e não só com o seu conteúdo; se estiver no mercado de livros gerais, pense no que vai fazer quando as livrarias não mais existirem; e publique globalmente. Simples assim. Ele disse que aqueles que forem mais segmentados farão a transição para esse novo modelo de negócio que está sendo desenhado tranquilamente e terão mais sucesso.

Contou a história de uma editora pequena especializada em livros espirituais que organiza convenções capazes de mobilizar um milhão de pessoas. A Random House nunca conseguiria fazer isso, disse. Mas comentou que mesmo romances podem ser verticalizados. Afinal, todos tratam de um tema - divórcio, alcoolismo, família...

Mike Shatzkin tem 48 anos de experiência no mercado editorial, é fundador da Idea Logical, é consultor das maiores editoras e redes de livrarias internacionais, usa leitores digitais desde 1999, não lê livros em papel há três anos e meio, já usou o Kindle e o iPad mas agora prefere o iPhone, e acha que vender conteúdo vai ser mais e mais difícil.

Mike Shatzkin lembrou que tudo mudou com a internet e com a explosão do conteúdo disponível nos últimos 20 anos. Não importa o assunto, você pode sempre se aprofundar nele na internet e é isso o que as pessoas estão fazendo. “É por isso que o mundo está mais vertical. Antes, você tinha que esperar a empresa ter o dinheiro e o interesse em te dar esse conteúdo, agora não precisa mais”.

“Vai ser cada vez mais difícil cobrar por conteúdo como se fazia antes e isso vai mudar a natureza do nosso negócio”, disse. A competição vai aumentar. Deu o exemplo da ESPN, que tem tudo (público, meios) e pode a qualquer momento lançar um livro. Ele comentou que haverá muito conteúdo barato e que editoras devem pensar em outras formas de recompensa além do dinheiro. Deu outro exemplo, o dele: “Não ganho para escrever o meu blog. Se fosse anos atrás, talvez eu cobrasse pelo acesso, mas ganho dinheiro a partir do que escrevo lá”. Dali, saem convites para palestras, novos clientes e mais.

Ele alertou que ao invés de a audiência mudar de formato, ela muda de assunto e que as editoras devem estar atentas a isso. Para ele, vai ganhar quem conseguir manter os consumidores envolvidos. “Nós costumávamos ser os porteiros, mas quem manda agora é quem tem o site sobre o assunto que interessa àquela pessoa. Isso ainda vai durar mais uma década ou duas. O segredo é encontrar o caminho para reter o interesse do leitor naquele assunto.

Hoje, para cada lançamento há uma campanha de marketing. Nada se aproveita do trabalho anterior e o livro que foi lançado há pouco em não ajuda nas vendas do que está chegando agora. De novo, Shatzkin disse que a verticalização resolveria o problema. Para ele, o caminho é lançar um livro sobre determinado assunto, depois outro sobre assunto similar e por aí vai. Com isso, aproveita-se o mailing que foi criado e as relações já estabelecidas com aqueles sites que tratam daquele temas na mídia, por exemplo.

Segundo o consultor, editoras universitárias estão indo bem, mas poderiam se especializar ainda mais já que é difícil ser expert em várias coisas. Sua grande preocupação é com o setor de livros gerais, que precisam de livrarias para chegar ao conhecimento do público. Por causa do fechamento de mais e mais lojas nos Estados Unidos, estão querendo aumentar o preço dos e-books. “O mercado já entendeu que não se trata apenas de ganhar dinheiro, mas sim de manter o ecossistema”. Ninguém sabe como será, mas as livrarias estão se transformando em alguma coisa que não se restringirá à venda de livros, disse.

Lembrou ainda que poucas pessoas sabem qual é a editora que está lançando aquele livro. Hoje, quem tem o poder é o autor. E o autor não está precisando mais das editoras para ser publicado. Segundo ele, duas coisas podem ajudar: mais uma vez, a verticalização, e a transformação da marca da editora em uma grife.

Sobre outras formas de narrativa, disse: “leio romances, não estou interessado em ver filmes no meio do romance”. Comentou também que provavelmente lê mais hoje do que antes, quando não tinha sempre um livro à mão.

Ele disse que ninguém sabe realmente qual é o impacto da pirataria. “Mas para o autor, pior do que a pirataria é a obscuridade. Os grandes autores perdem dinheiro com ela, mas os novatos não têm o que perder e ainda ganham fama com o livro espalhado”.

Mercado americano

Hoje, a venda de e-books de ficção fica em torno de 8-10% dos digitais e o número chegará a 25% em meados de 2012 e mais de 60% até o meio de 2015. Existem hoje 1.500 livrarias nos Estados Unidos. Em 2015, elas não passarão de 750. As vendas on-line de livros impressos ou digitais ficam em 20% hoje. Será mais de 50% em 2012 e mais de 75% em 2015.

Hábitos

Quando ele começou a usar o Nook em 1999, não entendia como mais ninguém aderia à tecnologia. As pessoas mudam os hábitos lentamente, concluiu. “Hoje, você vê kindles em todos os cantos do metro de Nova York e todo mundo conhece alguém que lê em um leitor digital”. Escolher um aparelho tem a ver com sensações físicas e com o que ele oferece. “Não se trata de um artigo de papelaria; é uma escolha pessoal”.

E por fim

Estima-se que 230 milhões de pessoas no mundo falem português. Só nos Estados Unidos, calculam 2 milhões. O livro impresso tem muitas barreiras que o digital deve derrubar. A ideia, de acordo com o consultor, é publicar globalmente.

Ele comentou que a entrada no mundo digital não tem mais volta. “Os livros não vão ser melhores do que já são, foram muitos anos de aperfeiçoamento. Mas as telas e os e-readers vão ficar, sim, cada vez melhores”.

Para ele, o que as editoras devem compreender é que o livro passou a ser o começo de uma conversa com o consumidor, e não o fim como vem sendo tratado até hoje. E colocar o livro no Twitter e no Facebook não é suficiente.

O trabalho do mercado editorial, disse, não é mais sobre conteúdo. “É sobre pró-atividade”.

O Fórum Internacional do Livro Digital está sendo promovido pela Câmara Brasileira do Livro e pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.

Mike Shatzkin é colunista do PublishNews e seus textos são publicados quinzenalmente, sempre às quartas-feiras. Acompanhe pelo site e pela newsletter.

[11/08/2010 00:00:00]