Entrevistados torcem o nariz, mas depois gostam do leitor
PublishNews, Maria Fernanda Rodrigues, 01/04/2010
Pesquisa qualitativa mostra que o leitor brasileiro já ouviu falar em livro digital e é simpático ao leitor, mas não gosta de ler no computador

Ao serem apresentados a um e-reader, jovens e adultos ouvidos na pesquisa qualitativa “Os leitores brasileiros e o livro digital” torceram o nariz num primeiro momento, mas depois já estavam dizendo que se ganhassem na Mega-Sena a primeira coisa que comprariam seria um daqueles. Isso porque não fazem ideia do valor do e-reader. Paulistas, por exemplo, chutaram que os aparelhos valem entre R$ 3 e R$ 5 mil, mas disseram que não pagariam mais do que R$ 1.500. O Cool-er, na Gato Sabido, custa R$ 750. A maioria dos entrevistados disse, entretanto, que para ele ser disseminado não deveria ultrapassar os R$ 300.

Nenhum dos participantes (divididos em oito grupos de oito a dez pessoas em cada um) tinha visto um leitor na frente e, curiosamente, passaram o dedo na tela esperando que algo acontecesse. Dos oito grupos, dois já tinham experimentado o livro digital no computador. Apesar da boa receptividade do e-reader, afirmaram que não pretendem aderir à tecnologia agora principalmente porque sabem que logo aquele modelo será superado.

Os entrevistados disseram também que o preço será aceitável se ficar em 25% do valor de capa de um livro impresso. Mas um deles disse que só se for de graça, usará. Caso contrário, “a editora que busque mais atrativos para me convencer.” A pesquisa foi idealizada pela Câmara Brasileira do Livro e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, realizada pelo Observatório do Livro e da Leitura em quatro capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre) e apresentada ontem no 1º Congresso Internacional do Livro Digital por Galeno Amorim, diretor do Observatório do Livro e da Leitura, e Maurício Garcia, diretor do Centro de Estudos e Pesquisas do Observatório do Livro e da Leitura.

O levantamento constatou que o livro impresso tem um valor muito grande para a sociedade brasileira. Para os entrevistados, ele representa o saber, o conhecimento. Um passeio por uma livraria ainda é melhor do que a leitura de um capítulo do Google. Por sua vez, o livro digital é visto como mais ecológico, mais barato ou até mesmo gratuito. É considerado também como um produto simples, com boa luminosidade, boa capacidade de armazenamento, prático e leve. No entando, querem mais do que um PDF ali dentro.

De acordo com Maurício Garcia, o conceito do livro digital está claro na mente dos entrevistados e é sempre associado ao computador e à internet. A rejeição inicial acontece pela dificuldade de ler na tela, porque o manuseio é difícil (não se leva um computador à cama) e também pela afeição que sentem pelo livro impresso. O fato de não poderem fazer anotações nele e o conflito com outras ferramentas de comunicação – MSN, Facebook, Orkut, Skype - também são obstáculos para uma leitura concentrada.

Eles não se sentem incomodados por baixar músicas de forma ilegal na internet, mas não vêem com bons olhos a pirataria de livros. Chegam a sentir até certa culpa pelo destino que o livro impresso pode ter.

A pesquisa mostrou, ainda, que o leitor brasileiro não tem pressa porque viveu uma situação semelhante com os telefones celulares e sabe que as primeiras gerações de novos produtos são mais caras.

Para a tradicional pergunta “o livro de papel irá acabar”, as respostas garantem que tão cedo isso não acontecerá. Os mais apegados ao suporte papel têm a certeza que o livro impresso nunca acabará. Outros acreditam que é uma questão de tempo, décadas ou mesmo anos. Por enquanto os brasileiros preferem os livros impressos e a tendência é uma convivência pacífica com a chegada dos e-readers.

De acordo com Galeno Amorim, o Brasil já publicou 32 milhões de livros. Destes, apenas 10% está disponível. São 95 milhões de leitores no País e outros 77 milhões que não lêem. Em 2008, 4,6 milhões de brasileiros assumiram que lêem livros digitais (entendidos aqui como leitura no computador) e 7 milhões baixam livros gratuitamente pela internet.

“Ouça mais constantemente o seu consumidor, reflita sempre sobre os novos modelos de negócios, amplie a interação e a comunicação com seus consumidores e interprete as pistas dadas pela pesquisa”, sugere Galeno.
[01/04/2010 00:00:00]