Participei esse ano, pela primeira vez, da prestigiada Feira do Livro de Londres, realizada entre os dias 13 e 16 de abril. Belo evento, focado mais na venda de títulos estrangeiros, daí o Brasil não ter tido uma representação oficial do país (já ocorrera grande divulgação da literatura e títulos brasileiros na Feira de Paris, realizada um mês antes), mas sim editores isolados farejando novos sucessos para o mercado nacional.
Chamou muito a atenção o foco na China, como mercado promissor para todo o mundo, ainda mais com a facilidade de difusão de conteúdo digital, muito mais difícil de ser rastreado do que o livro físico, no caso de censura, fato notório naquele país.
Outro ponto foi a atenção para os direitos e atividades do leitor, que passa a ter seus dados analisados mais de perto com os aparelhos digitais de leitura, programados para registrar e armazenar os hábitos de leitura do comprador de livros digitais.
Um formigueiro de editores circulando por três dias entre stands, toneladas de catálogos, palestras, painéis e entrevistas com autores. Não resta dúvida que, no século do conhecimento, uma feira do livro é um dos principais locais de difusão de textos e geração, ou identificação, de tendências.
Mas para além do mundo palpável outra circunstância, casualíssima, me impressionou. Fui visitar a monumental Abadia de Westminster (palco de coroações reais, casamentos e local de sepultamento, dentre outros, de poetas como Charles Dickens e Robert Browning, no Poet´s Corner) e o destino me levou a dois locais de referência, muito próximos e de grande interesse para o mercado editorial, mas que nunca vira associados expressamente.
Numa das capelas laterais, discreta, no chão, uma placa de pedra gravada com a inscrição em baixo relevo “Queen Anne 1714”, um pouco gasta pelo tempo e pelos passos dados sobre ela, indica o túmulo da Rainha Anna, em cujo reinado surgiu a primeira lei de direito autoral no Mundo, citada em todas as resenhas históricas sobre o tema. O “Statute of Queen Annne” de 1710, assegurava aos editores o privilégio de editar os livros a eles confiados por 14 anos, evitando assim as incertezas de se montar um livro com a dificuldade de composição dos tipos gráficos da época e o autor transferir os direitos de edição para outro editor no dia seguinte.
Já na parede externa da Abadia, a poucos metros do local do túmulo da Rainha, encontra-se na parede uma placa de pedra registrando que ali perto William Caxton estabeleceu a primeira tipografia, ou impressora, na Inglaterra (“first printing press in England”), William Caxton foi um comerciante, estudioso e depois diplomata inglês, que aprendeu em Colônia, na Alemanha, a arte da impressão de livros e fundou uma tipografia em Bruges, junto com Colard Mansion, renomado calígrafo belga (flemish). Posteriormente criou a primeira tipografia na Inglaterra, em 1476, que funcionava justamente no entorno da abadia de Westminster, tendo atuado também, como tradutor e editor, destacando-se dentre os 100 livros publicados, os Contos de Canterbury, de Chaucer.
O destino me fez esbarrar, com diferença de minutos, nesses dois marcos referenciais do mundo editorial, situados muito próximos na Abadia de Westminster, e isso no período da London Book Fair. Embora distantes 250 anos no tempo, e localizados a 50 metros um do outro no espaço atual, eles tem toda a ligação com a Feira de Londres, afinal, o comércio de livros impressos no início da era Gutenberg se intensificava, nas feiras realizadas nas cidades.
Hoje, seja em papel, digital, globalizado ou oriental, o mercado editorial está mais forte que nunca. As universidades abrindo seus campi para cursos internacionais, presenciais e on line, alunos do mundo inteiro circulando nas instituições, os intercâmbios de professores e alunos proliferando. Livros, livros, livros em profusão, o instrumento básico de difusão de conhecimento, valorizadíssimo.
Já tivemos as gerações baby-boomers, hippies, yupiies, e outros rótulos de gerações globalizadas, que migraram do meio analógico e físico para o digital e imaterial. A nova geração digital, os post millennials, ou geração Z, nascidos já no século 21, são hoje adolescentes e os primeiros nativos verdadeiros da tribo digital. Antes deles tivemos a chamada Geração Y, nascida entre 1980 e 2000, que viveu entre o walkman e a fundação do Google, como demonstra essa matéria do The Telegraph.
O fato é que embora, relativamente, anos luz separem William Caxton e o Estatuto da Rainha Anna dos dias de hoje, paradoxalmente essa distância se encurta com a maior disponibilidade e pesquisa de material de época encontrado on line. Passado e presente se entrelaçando e eu compartilhando essa trouvaille.
Gustavo Martins de Almeida é carioca, advogado e professor. Tem mestrado em Direito pela UGF. Atua na área cível e de direito autoral. É também advogado do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e conselheiro do MAM-RIO. Em sua coluna, Gustavo Martins de Almeida aborda os reflexos jurídicos das novas formas e hábitos de transmissão de informações e de conhecimento. De forma coloquial, pretende esclarecer o mercado editorial acerca dos direitos que o afetam e expor a repercussão decorrente das sucessivas e relevantes inovações tecnológicas e de comportamento. Seu e-mail é gmapublish@gmail.com.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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