Ebooks pararam de crescer. É hora de inventar a publicação digital.
“De agora em diante, mais cigarros e menos Amazon!” recomenda o agente literário Andrew Wylie. Ele pontua sua entrevista com alertas: ler no Kindle dá câncer. Não é piada, tampouco tem qualquer fundamento. O hoax é para atingir a Amazon, um golpe com a sutileza que lhe angariou o apelido de “Chacal” no meio literário. Seduzir escritores de outros agentes e extorquir de editoras adiantamentos milionários são dois de seus métodos introduzidos com escândalo no cerimonioso mercado de copyrights.
Sua acrimônia agora está apontada contra a Amazon, que, além de cancerígena, venderia vexames. Segundo ele, e-readers servem só para o “lixo, livros que você não quer mostrar porque te dariam vergonhosa se te pegassem lendo essas besteiras”. Esse rancor não seria nem um caso de “quem desdenha quer comprar”, porque Wylie já pagou para ver. E, ao que parece, perdeu.
Há quatro anos — que equivalem a um século na história da publicação digital — Wylie assumiu uma relação íntima e direta com os e-books. Sem editoras. Partindo para mais uma briga contra o establishment editorial, fundou a Odissey, para publicar a backlist de seus autores (Nabokov, Rushdie, Thompson etc) somente no digital, e exclusivamente na Amazon. Foi em 2010, quando nascia o iPad e vivíamos a corrida do ouro dos e-books, chacoalhando a cadeia do livro. Andrew Wylie criou a Odissey como um investimento ou, mais provável, um blefe para exigir para autores (e agentes) uma margem maior das editoras. E para isso fez um pacto com Mefistóteles, a Amazon. Conseguiu maiores royalties, mas de um volume menor. Mas não voltou com o rabo entre as pernas. Hoje diz que está com um ânimo “extraordinário”.
“A indústria editorial vai bem, vai sobreviver. Por um tempo teve gente que não estava segura, eu inclusive, mas agora estou convencido de que vai sobreviver e que irá bem”.
O Chacal tem números para endossar seu otimismo. No ano passado, a receita de venda de livros de capa dura subiu uns 10%, revertendo um longo declínio. Por outro lado, a receita de e-books subiu menos de 4%, o que, comparando-se com o crescimento esfuziante dos últimos anos, soa como depressão. Há quem fale que os e-books atingiram um platô, e que os livros impresso (os “de verdade”) vão retomar os 30% do mercado perdidos para o digital.
Os dados mostram, no mínimo, um freio de arrumação. Se há um limite para fatia de mercado dos e-books no mercado geral dos livros, talvez seja melhor a publicação digital partir para seu próprio mercado. A ascensão das bibliotecas digitais e de outros canais de disseminação, nos quais o livro eletrônico não é mais tratado como mera mercadoria, mostra um amadurecimento do produto e um casamento melhor entre o que o digital propicia e as demandas dos leitores que não podem ser satisfeitas pelo livro em papel.
É cedo. Deixemos passar mais um século na história da publicação digital e veremos. Daqui a uns cinco anos.
Julio Silveira é editor, escritor e curador. Fundou a Casa da Palavra em 1996, dirigiu a Nova Fronteira/Agir e hoje dedica-se à Ímã Editorial, no Brasil, e à Motor Editorial, em Portugal. É atual curador do LER, Festival do Leitor.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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