Amazon ainda não representa ameaça para os principais títulos das grandes editoras
PublishNews, 01/11/2012
Amazon ainda não representa ameaça

Quando Larry Kirshbaum, o chefe da Time Warner Publishing (comprada pela Hachette logo depois que ele saiu em 2007 e que agora se chama Hachette Book Group USA) se uniu à Amazon, muitas pessoas pensaram – eu entre elas – que a Amazon estava a ponto de se tornar uma ameaça às grandes editoras, podendo roubar seus principais títulos e, ao fazer isso, colocar pressão sobre as livrarias concorrentes que, ou teriam que comprar da Amazon, ou ficariam sem os principais livros.

Um artigo da semana passada no The Wall Street Journal mostra como têm sido fúteis os esforços da Amazon até agora para derrubar a Seis Grandes. As duas maiores aquisições – um biografia da celebridade Penny Marshall e o último livro do escritor de best-sellers de não-ficção Tim Ferriss – estão com vendas baixas fora da própria Amazon, de acordo com as medições da BookScan.

Michael Cader fez mais algumas pesquisas para sugerir que não é nos livros de alto perfil que encontraremos os sucessos da Amazon. Eles estão publicando muita ficção de gênero e comprando alguns catálogos.

Mas não consigo acreditar que esta pequena produção tenha a ver com as expectativas originais da Amazon ou de Kirshbaum. Se eles calcularam errado o impacto que poderiam ter, talvez tenha sido pela mesma razão que eu. Houve uma abrupta queda na mudança para e-books mais ou menos no mesmo momento em que começou a era Kirshbaum na Amazon. As grandes editoras estão informando que as vendas de e-books agora estão se aproximado aos 30% da receita, o que significa um aumento de 50% em relação ao ano passado. Isso depois de vários anos nos quais o e-book aumentava cerca de 100% ou mais.

(É importante notar que os números informados são uma porcentagem de toda a receita. Muitos títulos não são “e-bookáveis”: são os livros ilustrados ou livros para crianças pequenas que, mesmo se tiverem um equivalente a e-book, não vendem nem perto daquela porcentagem. Então as vendas digitais de leitura imersiva seriam uma porcentagem um pouco maior do que isso.)

A Amazon é uma editora que possui vantagens e desvantagens em relação aos concorrentes mais tradicionais. Possuem as vantagens do contato direto com o consumidor, que é bom de duas formas. Eles podem mandar um email divulgando um livro como a próxima escolha lógica dependendo do que você acabou de ler; editoras em geral não conseguem fazer isso. E, como editora, eles possuem mais margem tanto para pagar mais ao autor quanto cobrar menos do cliente o que, de todas as formas, aumenta a receita do autor através dos canais online.

Mas as desvantagens também são importantes. Para a maioria dos livros, e especialmente para os de não-ficção (como são os lançamentos que o Wall Street Journal cita), mais da metade das vendas ainda vem de livrarias de tijolos. Apesar da tentativa de assegurar a exposição através de um contrato de licenciamento com a Houghton Harcourt, a resistência à Amazon por parte da Barnes & Noble e de muitas livrarias independentes e dos comércios de massa tem reduzido esta distribuição.

Aparentemente, a Amazon levou algumas pessoas a acreditar, com o sucesso no recente livro de Barry Eisler, que podiam vender mais cópias através de seus próprios canais do que as grandes editoras através de toda a rede. A afirmação de que eles tinham vendido mais que todos os best-sellers anteriores do NY Times foi feita a agentes literários em uma carta que também citava outros grandes sucessos, todos com ficção de gênero. Sem questionar os números de ninguém, eu estava cético sobre o significado das vendas relativas de Eisler porque, me parecia, o que eles puderam fazer por Eisler (que eles publicaram), não poderiam fazer por qualquer outro livro que quisessem, seja publicado por eles ou não. Então, parece ilógico para mim que eles, de alguma forma, conseguiriam vender magicamente mais do que todo o mercado combinado de um livro só porque tinha sido publicado pela Amazon. Parece aparente que a Amazon não está conseguindo persuadir agentes de que o caso Eisler, mesmo como foi mostrado, é replicável.

Vi relatórios com comentários amargos de Tim Ferriss, reclamando sobre o boicote aparentemente eficiente da Barnes & Noble do programa de publicação do concorrente. Talvez ele reclamasse mesmo se a Amazon conseguisse vender mais do que sua antiga editora convencional. Mas eu duvido.

Esta não é uma resposta final. A parte da Amazon no mercado – e-books e impressos vendidos online combinados – ainda está crescendo e não mostra sinais de diminuição. A maioria das editoras ainda informa que a Amazon é a conta que mais cresce.

Mas a erosão no espaço nas prateleiras – uma métrica sem nenhum índice confiável em lugar nenhum – parece ter diminuído. Isso significa que, no momento, temos um mercado editorial mais estável do que tivemos nos últimos cinco anos. É menor, mas é mais estável. Nos EUA, pelo menos, nosso mercado dos três grandes players de e-book (Amazon, B&N, Apple) e upstarts robustas e persistentes (Kobo e Google) ainda está recebendo estreantes, Zola eBooks, prometendo algumas interessantes inovações em merchandising, e Bookish – o esforço repetidamente adiado de três grandes editoras – são esperadas para se unirem à briga em breve. Sony, Copia e Blio ainda estão tentando ganhar impulso, mas também estão aí.

A Amazon definitivamente possui mais vantagens. O ecossistema Kindle ainda é o que melhor funciona, possui mais títulos e se beneficia, de muitas formas, de ter mais leitores e vender mais e-books (e livros, também) do que qualquer outro. O crescimento no número de títulos de gêneros que Cader aponta aumenta a fatia de mercado deles de leitores de gênero, que leem outras coisas também. Eles possuem a maioria dos títulos autopublicados e o melhor ecossistema para que autores autopublicados ganhem dinheiro. E o crescimento de grandes títulos permite que criem capacidades de assinatura como KOLL (Kindle Owners Lending Library) que tiram os clientes de todos os outros players.

Com sua fatia de mercado crescendo – enquanto ela continua a crescer – o argumento deles para convencer os autores vai ficando mais forte.

Mas, por enquanto, parece que a B&N realmente fez a coisa certo ao boicotar os títulos da Amazon. E, por enquanto, parece que a maioria dos autores que a Amazon vai conseguir para sua lista geral será aqueles que estão chateados com a estrutura editorial, como Konrath e Eisler, ou curiosos sobre como trabalhar com uma editora orientada à tecnologia como Ferriss.

Autores que querem exposição em livraria ou maximizar suas vendas totais por todo o universo de venda de livros continuarão difíceis de serem convencidos, por um bom tempo ainda. Mas provavelmente cada vez menos a cada dia que passa.

Tradução: Marcelo Barbão

[31/10/2012 22:00:00]