Os bárbaros à nossa porta
PublishNews, 20/06/2012
Os bárbaros à nossa porta

Estou sentado dentro de um Starbucks na Avenida Paulista, escrevendo no meu MacBook e bebendo meio litro de café. Super gringo, não?

Ao ver que a venda de e-books acaba de ultrapassar a venda de livros de capa dura nos Estados Unidos, alguém poderia dizer que e-books são tão americanos quanto o baseball, o hambúrguer e o Starbucks. Mas, afinal, eles são um movimento global ou apenas um passatempo de gringo?

Depois de conversas com dezenas de editoras no Brasil, poderia ser dito que elas estão fadadas ao fracasso. Poucas incluíram os e-books em sua linha de produtos e têm direitos para publicação digital acertados com autores, e a simples menção da Amazon evoca a imagem de bárbaros empunhando tochas às portas da cidade prestes a incendiá-la.

Mas, do ponto de vista do consumidor, o Brasil parece ser o próximo mercado de e-books que vai decolar. De todos os principais mercados no mundo, os brasileiros são os mais interessados em comprar um e-book. Veja os resultados de uma pesquisa recente da RR Bowker:

Fonte da imagem: Arawass

*Em azul: porcentagem de consumidores que muito provavelmente comprarão e-books

*Em vermelho: porcentagem de pessoas que provavelmente comprarão e-books

Uma ressalva que ouço com frequência é que os e-readers são muito caros no Brasil. Leitores, editoras e varejistas, todos citam a inexistência de uma plataforma de leitura a um preço acessível como sendo o grande obstáculo ao mercado de e-books. Quando chega mesmo aquele Kindle de R$ 199?

Talvez ainda não tenhamos nos dado conta de que, na verdade, estamos carregando um e-reader aonde quer que a gente vá. E que temos um à nossa frente cada vez que sentamos à mesa no escritório. Um deles até vai para a cama com a gente. Com tantos smartphones, PCs e tablets de baixo custo, temos uma plataforma de leitura em qualquer lugar e sempre que queremos acessar (ou, melhor ainda, compra) literatura. A utilização da internet está chegando a 50% e, diante de tantas soluções de leitura baseada em HTML, céticas quanto ao uso de aparelhos específicos, eu diria que mais brasileiros “poderiam” acessar livros digitais do que livros impressos.

Agora que já existe um público faminto por e-books e acesso a plataformas de leitura digital, o que falta? Conteúdo.

Talvez a gente descubra que, ao invés de construir muros mais altos em volta da cidade, o melhor jeito de impedir os bárbaros de destruí-la seja deixá-los entrar, com bom conteúdo e um pedido gentil para que deixem as tochas do lado de fora da porta.

[19/06/2012 21:00:00]