A cartola do mercado editorial
PublishNews, 24/05/2011
Essas recentes possibilidades de publicar são novidades ou conseqüências das posturas tradicionais do mercado?

Todos estamos muito atentos às novidades eletrônicas e ao que elas estão começando a mudar na linha de produção de livros. Autores pensam em novas linguagens para produzir sua arte. Editores já trabalham ‘em rede’ em todas as suas etapas de produção. Livreiros vendem livros por cliques nas telas.

Tudo parece procurar um novo espaço na escala de publicação. Os livros estão em vigília nas ferramentas eletrônicas que atacam os editores a cada instante.

A questão aberta para todos nós é: essas recentes possibilidades de publicar são novidades ou conseqüências das posturas tradicionais do mercado? Cito algumas:

- Autor de primeiro livro precisa se apresentar como as editoras ontem, hoje e amanhã? Desde a semana de arte de 1922, a ideia de que amigos no mercado são a melhor forma de ser escolhido persiste, mas não se sustenta. Ter realmente uma novidade ainda vale? Mas como se define o que pode ser novo ao mercado hoje? Conteúdo do texto? Oportunidade de tema? Etc.

- A ‘tradicional’ porcentagem sobre o preço de capa ou venda do livro varia conforme a quantidade de exemplares comprados ou aposta de venda na obra em edição. Mas com as novas formas de vender na rede, será que autores precisam ficar na faixa de 5 a 12% de direitos autorais de sua obra? Essas novas edições permitem mais ganhos para autores?

- Muitas das obras que hoje são referência em linguagem e informação tiveram seus momentos de total desprezo por editoras. Os autores de hoje precisam do aval de editores e agentes literários para publicar? Muitos já perceberam que não.

- Pressupor que o editor realmente trabalhe sobre cada linha do novo texto é o melhor começo? Agora, com tantos profissionais de texto editando obras por preços acessíveis ou mesmo no risco de conseguir a publicação, ouve-se: para que uma editora?

- Enviar ‘originais’ para editoras e agentes que não conseguem estruturar uma linha editorial que atenda a quantidade ofertada. E, então, qual o propósito que eu, autor iniciante ou já consagrado, devo ter para me submeter a meses ou anos de espera, sabendo que a resposta mais fácil de se conseguir é “não” para publicação ou para agenciamento?

- Os fatos mais impressionantes são de autores que vendem milhares de exemplares e agora migram para os livros eletrônicos com a facilidade de poder negar até adiantamento de meio milhão de dólares como comentado aqui na coluna de Mike Shatzkin.

- Também agentes, cientes da importância das obras que oferecem, já consideram/publicam pelo sistema e-books, cansados das respostas recebidas direto da conta bancária das editoras, isto é: não vale o investimento, pois o retorno não cobrirá os gastos.

Na nossa opinião, essas urgentes mudanças não são o fim do mercado editorial, mas gritam por novas posturas de avaliação, edição, divulgação e venda dos livros. Definição de linhas editoriais, aprimoramento da logística em todo o processo de produção. Este momento parece não permitir que nossos serviços não passem por uma reestruturação técnico-administrativa e, principalmente, cultural. O livro é condutor de cultura e sempre será.

[23/05/2011 21:00:00]