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O editorial digital ou Diagramação e projeto gráfico (2/muitas)
PublishNews, 09/11/2010
Livros interativos para iPad feitos no Brasil

Voltando ao tópico da coluna anterior, apresentarei os trabalhos de outra empresa que está se adaptando ao “editorial digital”: a Tapps, empresa de TI, de São Paulo. Conheci a empresa pelo YouTube, quando estava procurando apresentações de livros para iPad, e achei interessante ver uma empresa que não é do mercado editorial se aventurar a criar e-books sem a ajuda de uma editora (veja aqui o Rapunzel da Tapps. Na verdade, achei isso quase uma afronta, mas eles me mostraram o óbvio: o que se chama “revolução digital” é justamente a perda da definição (que já era capenga) do conceito de “livro” e, por consequência, de quem faz e de como faz o livro. Parece que as figuras que permaneceram em suas posições foram o autor e o leitor (aquele que não é e-reader, lembra?), mas o “como escrever” e o “como ler” também estão sendo profundamente alterados, creio até que como nunca ninguém imaginou que poderia ser.

Estou procurando colocar aqui tudo o que vejo sobre a “tal revolução digital”, principalmente a versão brasileira dela, porque tenho percebido que as informações estão dispersas em milhões de sites no mundo. Além disso, cada profissional que encontro me dá informações diferentes, e vou colocando-as todas aqui, para o leitor montar seu próprio mosaico. Afinal, toda essa mudança no mercado editorial ainda está tão no início que o melhor que posso fazer é expor o que tem sido feito, sem grandes análises. Talvez até venha a analisar algumas mudanças em próximas colunas, mas, por enquanto, o momento é o de ouvir e aprender com quem saiu na frente. Por isso, conversei por e-mail com Felipe Watanabe. Vejam a seguir o resultado.

Como foi o passo a passo para fazer o Rapunzel? Quem teve a ideia, quantas pessoas com quantas e quais funções desenvolveram o aplicativo? Outra coisa: por que só pra iPad?

Felipe Watanabe: Rapunzel surgiu como iniciativa da própria Tapps no momento em que identificamos a oportunidade de explorar o mercado editorial interativo para dispositivos móveis. O livro digital também serviria como forma de chamar a atenção de grandes editoras durante a Bienal do Livro deste ano, expectativa que acabou se concretizando.

A escolha pelo título Rapunzel se deve à grande popularidade da história e também por se tratar de um conto de domínio público, de fácil acesso. O processo de desenvolvimento envolveu dois programadores, um designer gráfico e uma ilustradora trabalhando em tempo integral no projeto. Também contamos com uma revisora ortográfica e uma tradutora para o texto, para que fosse oferecida a versão em inglês do aplicativo.

A escolha pelo iPad foi justificada pelas capacidades de interação e de multimídia do aparelho. Por contar com recursos de imagem, vídeo, toque e movimento (acelerômetro), o iPad promove uma grande imersão do usuário com o aplicativo. Outros aparelhos não são tão capazes quanto o tablet da Apple ao se comparar a capacidade de interação, como é o exemplo do Kindle.

A tradução e a revisão foram feitas no mesmo arquivo? Houve algo impresso durante esse processo? As duas tarefas foram feitas no Word ou utilizou-se epub desde o início? E, se foi epub desde o início, como é o trabalho com o texto nesse formato?

FW: Para este projeto, não fizemos uso do formato epub. Desde o início trabalhamos o texto através de programas tradicionais, como o Word. A tradução e revisão foram feitas num mesmo arquivo, mas um para cada língua: português e inglês. Durante o processo também fizemos impressões da história na íntegra, para checar a consistência do texto, buscando, inclusive, simular a experiência de leitura do texto quando o transferíssemos para o iPad, ao separar os trechos que viriam em cada página durante esta etapa.

E a diagramação do texto, foi feita em que formato?

FW: Já com a definição do que viria em cada página do livro, passamos a inserir os trechos do texto aos arquivos de imagem que também carregam as ilustrações. As ferramentas utilizadas foram os aplicativos InDesign e Photoshop, da suíte Adobe.

E as imagens? Em que momento é inserido o movimento? Há ainda a figura do ilustrador de desenhos estáticos para que depois estes ganhem movimento?

FW: A figura do ilustrador ainda existe e foi fundamental à concepção de Rapunzel. Por conta dos movimentos e das interações que influenciam na dificuldade técnica do aplicativo, o conceito das ilustrações de cada página foi pensado junto à equipe de programação. O arquivo final entregue pela ilustradora precisou ser adaptado: foi necessário trabalhar com camadas durante a criação para que os objetos pudessem mais tarde serem “recortados” do fundo, tornando possíveis todas as animações.

Ao fim do trabalho, houve ainda um revisor no teste de software para que lesse toda a história e conferisse se imagem, movimento e texto estavam funcionando juntos e passando uma só mensagem? Como é o teste de software?

FW: Tivemos várias etapas de revisão ao longo do desenvolvimento do aplicativo. Com a maioria das iterações buscávamos checar a consistência do fluxo de navegação e interação do leitor com o livro digital. Houve também momentos interessantes, como a fase final de testes, em que convidamos crianças entre 6 e 12 anos para interagir e brincar com o livro, simulando a situação de uso real que imaginávamos desde o início.

Como vocês estão percebendo o mercado editorial brasileiro em relação ao livro digital?

FW: Quando decidimos investir neste projeto de livro digital não tínhamos a exata dimensão da receptividade do mercado editorial brasileiro à essa nova mídia. Rapunzel foi muito importante para “sentir” este mercado. O que concluímos agora, algum tempo após o lançamento, é que o livro digital interativo tem sim espaço, mesmo no Brasil.

Quais são os planos futuros da empresa para as editoras? Mais produtos?

FW: Não podemos divulgar todos os detalhes, mas já temos agora novos projetos para o mercado editorial. A previsão é de que os próximos meses sejam marcados por alguns lançamentos pela Tapps em parceria com grandes editoras do mercado.

Cindy Leopoldo é graduada em Letras pela UFRJ e pós-graduada em Gerenciamento de Projetos pela UFF. Em 2015, cursou o Yale Publishing Course e, em 2020, iniciou a especialização em Negócios Digitais, da Unicamp. Trabalha em editoras há uns 15 anos. Na Intrínseca, onde trabalhou por 7 anos, foi criadora e gerente do departamento de edições digitais e editora de livros nacionais. Atualmente, é editora de livros digitais da Globo Livros.

Escreve quinzenalmente, só que não, para o PublishNews. Sua coluna trata de mercado editorial, livros e leituras.

Acesse aqui o LinkedIn da Cindy.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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