E se você tem leitor?
PublishNews, 24/08/2010
Na coluna desta semana, Marisa Moura mostra a autores que vale cuidar de seus leitores

Sua resposta pode ser: como assim? Meu sonho é ter "o" leitorado. E as reflexões que sugiro começam no seu primeiro leitor. De qualquer forma, seja um ou inúmeros, o seu leitoril não é um elemento móvel apto a receber livro de forma inclinada, para facilitar a leitura. O leitor é uma pessoa com impressões próprias. Vamos lá, caso a caso:

1. Seu primeiro leitor, você nunca esquece ou deve esquecer...

Essa experiência está relacionada ou àquelas observações chatas a tudo que você imaginou ter escrito ou ao comentário que lhe reconheceu como autor “profissional”. Tanto em uma situação como na outra, se você foi livre para escrever o que desejou, entregue ao outro a mesma independência. Deixe seu leitor viver as experiências dele com sua obra, apesar de todas as controvérsias.

2. Escrevo para mim...

Uma fala muitas vezes declarada nas mesas de debates. Quando ouvimos isso, observamos a nossa volta e encontramos olhares, transbordando brilho de admiração para o autor do livro recém-começado ou recém-terminado. O que significa que ou as palavras escritas ainda estão conquistando ou deixaram tão estonteados de sensações os leitores presentes. São presenças ali, ouvindo você - autor, porque não basta mais saber de sua escrita, tem de procurar outras facetas suas para se identificar e se deslumbrar mais e mais. Será que o depoimento deveria ser: escrevo para você leitor...

3. Por favor, um autógrafo? Leio tudo que você escreve....

Isso é usual em eventos, onde autores circulam com seus agentes, editores, produtores ou colegas. Você, ali de passagem ou passeando e pronto: cai um pedido desse nos seus ouvidos. A sua maneira, volta-se para a pessoa e o que acontece? Aparece um papelzinho para guardar sua letra, uma fotocópia do seu último livro, acompanhada da caneta que receberá seu toque, ou a sua glória – seu livro para ser assinado. Não discordo que o contato do leitor aqui gera mais dúvidas do que satisfação de se relacionar... Mas e se for tudo verdade? Sua gratidão a essa suposta “verdade” pode levá-lo a viver das vendas de seus livros, palestras e afins.

4. Falem bem ou falem mal, mas falem de mim...

Seja a imprensa, as redes sociais, alunos... seja quem souber de você e de sua obra. Conforme o veículo ou grupo de pessoas que esteja comentando a seu respeito, muitas vezes nem direito a defesa terá, mas vale a pergunta: como tudo isso começou? Na sua impossibilidade de atender a todos, na sua própria personalidade, na sua mais recente obra, nas suas opiniões, enfim como o amanhã com o hoje repleto de rejeições será? Você pode fazer mais sucesso e até enricar. Você pode desaparecer na indiferença ou na negação — tipo: nem vem que não falo e nem escrevo sobre aquele autor.

5. Palestras e eventos sempre atrapalham minha criação; sou escritor, gosto do meu canto e das minhas histórias...

Bom, se você já se pensou assim: optar pelo leitor ou pela criação, então, já não é só você que quer saber de suas histórias. Era você que me garantiu lá em cima que queria “o leitorado”? Pondere agora como vai atendê-lo... Vão pagar para te ver de longe (porque não conseguirão te ouvir de perto)? Só vai a determinados eventos e a outros nem pensar? E se naquele exato local em que não deseja ir nem recebendo nem pagando estiver lhe esperando o comprador da primeira edição inteira de seu livro ou apenas um agente ou editor internacional com a oferta dos seus sonhos ou o repórter do melhor jornal de livros do mundo?

Você tem certeza que deseja leitores?

[23/08/2010 21:00:00]