Agência literária publica e-books!
PublishNews, 27/07/2010
Na coluna desta semana, Marisa Moura comenta sobre a atitude da Wylie Agency de cuidar sozinha dos e-books de seus autores

Todos nós já vimos autor virar editor, editor virar autor, mas agente virar editor era novidade... Não é mais!

The Wylie Agency[1] fechou negócio com a Amazon[2] e, agora, você pode saborear as “kindle-letras” de autores como: Saul Bellow, Jorge Luis Borges, William S. Burroughs, John Cheever, Ralph Ellison, Louise Erdrich, Norman Mailer, Vladimir Nabokov, V.S. Naipaul, Orhan Pamuk, Philip Roth, Salman Rushdie, Oliver Sacks, Hunter S. Thompson, John Updike, Evelyn Waugh entre outros que virão, claro.

O fato novo é que não iremos refletir sobre uma agência qualquer, com quaisquer autores. O nome da empresa é The Wylie Agency[3], a qual tem negócios com editoras de porte, como Random House[4], Macmillan[5] e muitas mais. Se você está pensando que isto parece “briga de cachorro grande”, saiba que não parece, é mesmo. A decisão básica da The Wylie em abrir a empresa Odyssey Editions[6]para publicar os e-books de seus autores gerou reações nada simpáticas, bem como reflexões sobre os papéis dos profissionais no mercado editorial[7].

As considerações revêem os contratos já firmados para língua inglesa pela agência, sua nova posição de “concorrente” das editoras com as quais trabalha, sua postura de aumentar as porcentagens de direitos autorais para seus autores, além de questionar a exclusividade com o Kindle como nada interessante para o leitor. E não param por aí, até porque nem todas as questões esgotaram-se. A internet só está começando a questionar os modelos de negócios das publicações. Vamos pensar a respeito:

1. Contratos via agentes: não é comum agentes cederem direitos para vários tipos de publicação e de uso de uma obra a uma editora. As ofertas em dinheiro, para conseguir os direitos de uma obra, ajudam muito a ampliar ou reduzir os meios para publicar nos acordos entre editoras-agentes-autores. Logo, até aqui, The Wylie não criou nada de novo nessas relações comerciais.

2. Agência-editora: a pergunta que se faz agora com a internet é – Com quem você está negociando direitos autorais? Com editoras, distribuidoras ou livrarias? Um portal ou site[8] na internet é uma editora, distribuidora ou livraria? Concordo, com quem está lembrando, que o Kindle é entendido mais como uma distribuidora do que uma editora. Porém, pense comigo, uma obra só de texto que entra em formato digital pré-determinado, precisa de um novo processo editorial? A abertura da empresa Odyssey Editions, realmente, pode ser entendida que a Wylie “virou concorrente das editoras”, ou é apenas uma formalização administrativa exigida para negociar suas obras em e-books? Será que a novidade é a agência[9] atualizar-se com a nova maneira de negociar direitos autorais...?

3. Porcentagens maiores de direitos autorais: agentes literários começaram a negociar no final dos anos 1800, na Inglaterra. Temos aqui, mais ou menos, 200 anos de história desse tipo de negócio e suas necessidades. Quem defende a ideia que as novas formas de publicações com custos diferentes não iriam modificar os antigos modelos das porcentagens de direitos autorais, pode começar a repensar seus argumentos...

4. O kindle é o limitador até 2012[10]: como leitora, até hoje, já com mais de 200 páginas de leitura na internet sobre os modelos que recebem os e-books, confesso que não consegui me decidir entre qual comprar. Acredito que irei ficar assim até que editoras, distribuidoras, plataformas físicas de e-books, agora agências, consigam lembrar que nós, leitores, não colecionaremos instrumentos eletrônicos para as palavras digitais. Queremos apenas ler! No meu caso, sonho com o dia em que um livro de 700 páginas irá pesar tanto em minhas mãos quanto outro de 100 páginas.



[26/07/2010 21:00:00]