Deixar de cuidar de uma árvore para olhar para o bosque
PublishNews, Leonardo Neto, 25/04/2018
Em Buenos Aires, PublishNews conversa com Trini Vergara que fala sobre seus planos para a Escuela de Editores, que será lançada na tarde desta quarta-feira (25)

Trini Vergara carrega no seu sangue o DNA do livro. Não é para menos. A editora é filha do histórico editor chileno Javier Vergara – primeiro editor em espanhol de grandes nomes da literatura mundial como Stephen King, Richard Bach e Morris West. Já virou uma tradição. Desde 2014, quando passei a acompanhar as Jornadas Profissionais que antecedem a abertura oficial da Feira do Livro de Buenos Aires, marco uma “charla” com Trini.

Trini Vergara, a editora que traz no sangue o DNA do livro, agora é diretora da Escuola de Editores da Argentina | Leonardo Neto
Trini Vergara, a editora que traz no sangue o DNA do livro, agora é diretora da Escuola de Editores da Argentina | Leonardo Neto

Dessa vez, queríamos falar sobre o seu novo projeto, a Escuela de Editores, que será lançada oficialmente na tarde desta quarta-feira (25). O nascimento da escola vem junto com o anúncio oficial da sua saída do dia a dia da Vergara & Riba, fundada por ela e Lidia María Riba, morta em 2011. Em documento assinado conjuntamente por María Inés Redoni, CEO da empresa, e Sevani Oliveira, diretora da editora no Brasil, a V&R informa que Trini passa a desempenhar exclusivamente sua função como membro do diretório e como acionista.

Na conversa, esse assunto até rondou a mesa, mas diante do entusiasmo com o novo projeto, deixou de ter importância. Trini se anima quando pergunto sobre a Escola. Lembra que em 1986, já formada em Economia, queria seguir os passos do pai, mas precisava se formar editora. Foi aí que embarcou para a Inglaterra onde participou de uma série de cursos na área. Ela conta que eram cursos breves, que iam direto ao ponto, 100% práticos e conduzidos por profissionais atuantes do mercado. E é esse o modelo da sua nova empreitada, que começa com 16 professores, todos muito experimentados pelo mercado argentino.

Além do seu trabalho à frente da V&R, Trini foi presidente da Câmara Argentina de Publicações (CAP). “A minha passagem pela presidência da Câmara me deixou com uma sensação muito direta e palpável do mercado. Foi como sair de um caso particular e ir para o bosque, olhar para a indústria como um todo”, conta.

Além disso, as viagens para acompanhar feiras em outros países deram à editora uma percepção de que a Argentina tinha ficado para trás. “Fui testemunha de uma Argentina que liderava o mundo da edição de livros em castelhano. Quando comecei, nos anos 1980, com meus pais, a Argentina ia a Frankfurt e comprava os direitos mundiais, antes mesmo da Espanha. A seguir, vimos o fenômeno da consolidação, que é na verdade, um eufemismo para concentração. Grandes grupos compraram as editoras argentinas que passaram a ser apenas editoras distribuidoras. Então, toda essa era de concentração fez que a Argentina saísse desse lugar de protagonista”, resume. O que Trini quer é preparar a nova geração de editores para retomar parte desse protagonismo.

A Universidade de Buenos Aires (UBA) oferece um curso de editoração muito conceituado e que é composto por um corpo de cerca de 500 alunos. “O curso tem mais alunos do que todos os outros cursos da faculdade: mais do que Letras, História, por exemplo. Em eventos de que participei lá, perguntei à plateia quantos ali queriam abrir sua própria editora, e mais de 90% levantou a mão. Há um interesse enorme!”, diz entusiasmada.

Os cursos da Escuela de Editores são conduzidos por nomes importantes da cena editorial argentina, como Javier Lopes Llovet (Penguin Random House), Ignacio Iraola (Planeta), Gloria López Llovet de Rodrigué (Edhasa), Florencia Tomac (ex-V&R) e Guido Indij (La Marca).

Os cursos são oferecidos na modalidade presencial, mas, para 2019, o plano é ampliar isso para cursos na modalidade de Educação a Distância.

[25/04/2018 11:51:00]