Há pouco mais de oito anos, em março de 2010, aconteceu o I Congresso Internacional do Livro Digital. Uau, o que será que vão falar nesse congresso? Era a pergunta que o marcado editorial e livreiro se fazia com um medo danado de ouvir que o livro físico acabaria. Preocupação desimportante diante dos problemas reais enfrentados pela cultura do livro.
O lugar escolhido foi o hotel Maksoud Plaza, com seu cheiro de couro velho, seus capitonês e seu pomposo bar, em que um expresso custava, na época, R$ 6. Mas era o primeiro congresso, gente do mundo inteiro. Precisava ser num lugar com a cara da classe média paulistana: decadente e ostentador.
Como em todos os eventos do mercado editorial, lá estavam os amigos. O homem do chapéu Panamá, distribuidores, editores, livreiros, autores e babadores de ovos. Mas não era felicidade que eu via nos rostos. Era ansiedade, era medo, era apreensão. Tudo porque estávamos ali para ouvir sobre livros digitais.
Bom, muitos players internacionais depois – falando coisas que não sabiam sobre o Brasil e dando prognósticos apocalípticos sobre o nosso mercado – foi a vez de Jorge Carneiro falar. O dono da Ediouro, com quem trabalhei na minha fase na Nova Fronteira, dirigiu-se à espécie de palco com um ar de derrotado. Quando ele olhou para o público, seu olhar ficou longe, no horizonte, ele demorou longos segundos para começar.
No final do seu discurso, porém, ele fez um pedido que, a mim, pareceu desesperado: “precisamos tomar cuidado com o que vai acontecer com as nossas editoras. O que vai acontecer agora, gente? É o futuro do nosso ganha-pão que está em jogo aqui” (Jorge, não me lembro bem das palavras, mas me marcou).
Isso tudo pode soar como estranho, mas não era. A novidade chegava com ares de devastação. Era a bomba D jogada no mercado. D de digital. Lembro de sair daquele evento cheio de dúvidas. Mas depois houve mais alguns congressos como aquele, participei, aí dúvidas aumentaram.
O tempo passou e no último dia 10 de abril, em Londres, a TAG conquistou o The Quantum Innovation Award. Um clube de assinatura de livros físicos vence um prêmio internacional de inovação, por mais paradoxal que possa parecer.
O livro físico acabou? Não. E o livro digital? Calma, Jorge, tem espaço para todo mundo. Como diz meu amigo Bruno Mendes, leitores não faltam, basta publicar para eles.
Marcio Coelho começou sua carreira como revisor na antiga editora Siciliano, passou por muitas editoras como Saraiva, Nova Fronteira e Ediouro. Trabalhou na TAG – Experiências Literárias, prestou consultoria para clubes de assinaturas de livros, é professor de cursos voltados ao mercado editorial e gerente de projetos especiais do Grupo Editorial Pensamento. Além de viver de livros há mais de duas décadas, é apaixonado por eles.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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