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O voo é livre! Pertenço a todos os lugares
PublishNews, Volnei Canônica, 22/03/2018
Volnei Canônica esteve na abertura da exposição 'Migrations' que reúne 350 cartões postais de ilustradores de todo o mundo. Seis brasileiros participam da mostra.

A instalação Migrations reuniu 350 cartões postais feitos por artistas de várias partes do mundo. São imagens de aves migratórias, aves que não restringem o seu voo a nenhuma parte do planeta. Uma iniciativa do ilustrador sul-africano Piet Grobler, exibida na cidade de Stellenbosch, África do Sul. Depois, a exposição segue para a Ilha de Nami, na Coréia do Sul e Worcester, na Inglaterra. O Centro de Leitura Quindim já está em tratativas para a exposição migrar para o Brasil.

Piet Grobler (ao meio) com Roger Mello e Volnei Canônica
Piet Grobler (ao meio) com Roger Mello e Volnei Canônica

Para as aves migratórias o voo é livre! O direito de ir e vir está garantido. Não exige passaporte e muito menos visto. Não é obrigado passar pelas cabines das polícias federais de nenhum país e nem declarar os pertences na Alfandega.

Os ilustradores brasileiros, André Neves, Marcelo Pimentel, Marilda Castanha, Renata Bueno, Roger Mello e Terezinha Escobar participam da instalação. São trabalhos totalmente diferentes e cada artista revela a sua leitura sobre o tema.

Reprodução do cartão postal da Terezinha Escobar
Reprodução do cartão postal da Terezinha Escobar


O premiado ilustrador Shaun Tan fez o prefácio para a instalação Migrations: “Uma exposição como essa não é apenas uma exposição. É mais do que uma coleção de mensagens poéticas, um chamado à consciência, uma celebração de valores humanistas, uma contemplação de sentimentos complexos sobre os quais é lançada à luz brilhante da imaginação”.

Shaun Tan ressalta ainda o papel fundamental que os artistas têm ao se manifestarem sobre o tema: “Os artistas podem não ser capazes de mudar regimes, influenciar os governos ou salvar os migrantes, mas podem conscientizar uma realidade que se tornou parte do ambiente sociopolítico contemporâneo. Como narradores e comunicadores visuais, podemos continuar a colocar questões e desafiar a indiferença no trabalho que fazemos, destacando o impacto positivo que a migração de povos, culturas e ideias já teve em todo o mundo.”

A brasileira Renata Bueno, que migrou e vive em Portugal comenta a sua participação na exposição: “Um pássaro meu voou ao encontro de 349 pássaros. Os pássaros postais do mundo juntaram-se para falar de migração. Falar de migração com arte é falar de solidariedade, esperança, diferenças, diálogos, acolhimentos. Num mundo tão complexo como o nosso cabem aos artistas sensibilizar.”

Imagem do cartão postal da Renata Bueno
Imagem do cartão postal da Renata Bueno

O mundo insiste em construir muros, grades ou cercas de arame farpado e elétricas para que as pessoas não possam se locomover tranquilamente pelo planeta obrigando-as a chamarem apenas um pedaço de terra como seu e defender esse espaço para não ser invadido por forasteiros. O ser humano, ao longo dos anos, construiu um conceito de posse que é tão mesquinho e prejudicial para a sua própria sobrevivência.

O tema da migração passou a ser abordado todos os dias pelos veículos de comunicação que trazem um olhar pouco humanista sobre o assunto, reforçando que a migração é um problema para os governos que terão de dar assistência aos migrantes e que caso não consigam empregos passarão a roubar para sobreviver, o que resultará no aumento da insegurança dos cidadãos.

Já os governos, cada dia mais conservadores e autoritários, cerceiam a liberdade de se locomover, desenvolver e pensar.

Mas como um povo, um país, um continente pode fechar as suas fronteiras se do outro lado do muro tem pessoas passando por necessidades? É como se todos os dias você entrasse em casa e batesse a porta na cara de uma criança que está passando fome. Um pouco como a própria passagem bíblica em que as portas se fecharam para José e Maria que necessitavam de ajuda para que ela pudesse dar à luz ao menino Jesus.

Fé, realidade ou ficção, o que vejo é a falta de humanidade e de conhecimento do cidadão sobre as diferentes culturas e sobre esse movimento de migração.

Para Piet Grobler, curador dessa instalação, “o objetivo é chamar a atenção para o esforço e as circunstâncias que obrigam milhares de crianças e seus familiares a migrarem para outro lugar no mundo, em busca de segurança e melhores condições de vida".

Postal que Marilda Castanha mandou para a exposição
Postal que Marilda Castanha mandou para a exposição

A revoada de diferentes pássaros da exposição de postais me fez refletir sobre a não liberdade do ser humano. Sobre como cada um de nós está subjugado a regras estabelecidas pela sociedade, pelo governo, pelo território que ocupamos. O quanto precisamos ser mais nômades, mais viajantes, mais exploradores do conhecimento, para que tenhamos nossos voos garantidos. Precisamos migrar o tempo todo para que possamos estar mais ligados às pessoas e à natureza, e menos ao material. É necessário construirmos muitos ninhos em diferentes lugares. Os pássaros mudam de ninhos. Não se apegam a nenhum lar específico.

Segundo alguns estudiosos, o homem deixou de ser nômade quando passou a enterrar os seus mortos e sentiu a necessidade de prestar homenagem a eles. Assim o homem não pode mais se deslocar e passou a visitar os túmulos. Que tal homenagearmos a vida e não a morte? Que tal darmos valor as pessoas enquanto estão conosco? Que tal conhecermos novas pessoas o tempo todo? Que tal ajudarmos as pessoas a voarem?

Reprodução do postal de Marcelo Pimentel
Reprodução do postal de Marcelo Pimentel

A mostra também chama atenção para o impacto culturalmente positivo que está acontecendo no mundo todo com essa mistura de pessoas, origens e línguas.

Roger Mello estava na abertura da exposição, na África do Sul, e disse que “é uma exposição fantástica! Uma possibilidade de visualizar a diferença como um panorama de vozes e gritos numa instalação como uma 'nuvem' literária. Os selos e carimbos postais do mundo todo geram um diálogo ainda mais gráfico e forte”.

Postal de Roger Mello
Postal de Roger Mello

Vamos olhar para a história: segundo estudos, o humanoide — adoro usar essa palavra porque me vem a imagem de homem e de robô ao mesmo tempo — nasceu no continente africano e com o tempo, começou a se deslocar para os outros continentes. Essa necessidade e também a curiosidade do homem pelo deslocamento permitiu o surgimento das diferentes culturas.

Guerra, terremotos, tsunamis, ciclones, fome, sede, condições precárias de sobrevivência ou qualquer que seja o motivo, as pessoas estão se deslocando no mundo. Não podemos fechar os olhos debaixo de nosso teto, com comida na mesa e água encanada. Todos os povos merecem e necessitam viver em condições aceitáveis. O que são condições aceitáveis? Pergunte a você mesmo quais são as condições aceitáveis para você viver e transfira para essas pessoas que estão migrando.

O extermínio de um povo é o extermínio da própria humanidade. Não fique sentado em casa na frente da televisão achando que está seguro. O que sempre garantiu a vida do homem e do animal foi a possibilidade que ele tem de se locomover. Sejamos livres para voar e garantir o voo do outro!

Postal de André Neves
Postal de André Neves

Dicas de seis voos literários:

A chegada (SM), de Shaun Tan

A volta ao mundo em 80 dias (edição ilustrada e comentada) (Zahar), der Júlio Verne, com tradução de André Telles

Migrar (Pallas Mini), de José Manuel Mateo, com ilustrações de Javier Martínez Pedro

Um outro país para Azzi (Pulo do Gato), de Sarah Garland, com tradução de Érico Assis

Para onde vamos (Pulo do Gato), escrito por Jairo Buitrago, com ilustrações de Rafael Yockteng e traduzido por Márcia Leite

A viagem (V&R), de Francesca Sanna, traduzido por Fabrício Valério

Volnei Canônica é formado em Comunicação Social – Relações Públicas pela Universidade de Caxias do Sul, com especialização em Literatura Infantil e Juvenil também pela Universidade de Caxias do Sul, e especialização em Literatura, Arte do Pensamento Contemporâneo pela PUC-RJ. É Presidente do Instituto de Leitura Quindim, Diretor do Clube de Leitura Quindim e ex-diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas, do Ministério da Cultura. Coordenou no Instituto C&A de Desenvolvimento Social o programa Prazer em Ler. Foi assessor na Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Na Secretaria Municipal de Cultura de Caxias do Sul, assessorou a criação do Programa Permanente de Estímulo à Leitura. o Livro Meu. Também foi jurado de vários prêmios literários.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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