Como NÃO cadastrar seu livro
PublishNews, Ricardo Costa*, 30/11/2017
Em seu artigo, Ricardo Costa fala sobre a influência de um bom cadastramento na venda de livros e da dicas sobre como fazer isso dar certo

Há uns dois meses, a Raquel Menezes, presidente da Libre, me convidou para falar no Dia do Editor, lá no Rio de Janeiro. Sobre este tema; mas, para além disso, eu estava proibido de usar a palavra Metadados! Como é que o CEO da Metabooks não fala em metadados? Vou dizer: foi divertido. Tive a colaboração do meu “colega de palco”, Bruno Mendes, que fez da palestra um papo. E hoje quero dividir com quem não esteve por lá (e lembrar quem esteve), os principais pontos desta nossa conversa.

Antes de mais nada, quero mencionar aqui duas pesquisas da Nielsen — nos Estados Unidos e no Reino Unido — sobre a influência do “bom cadastramento” nas vendas de livros (vou fazer também este texto sem usar a palavra proibida no desafio da Raquel). Essas pesquisas, disponíveis no site da Nielsen, apontaram para o fato de que um cadastro de qualidade pode aumentar mais de 150% as vendas! Num próximo artigo, falarei com mais detalhes sobre estas pesquisas, inclusive mostrando alguns gráficos. Só para se ter uma ideia, a capa pode aumentar mais de 50% as vendas, e os dados básicos corretamente cadastrados — ISBN, Título, Classificação, Formato, Preço, Autor — podem produzir um aumento de mais de 170%, dependendo da categoria do livro.

Acredito, então, que está clara a importância do bom cadastro de um livro. Pois bem, vou ressaltar aqui algumas coisas que você não deve fazer quando cadastrar os seus livros. E pra começar, fica um alerta: cadastramento de livro é dinâmico; é vivo. Você precisa constantemente rever os dados, com atenção especial a sinopses e palavras-chave. Aliás, estão aí mais dois temas pra gente falar depois: sinopses e palavras-chave.

Vamos lá. Ponto de partida: nunca encare o serviço de cadastrar um livro como uma BUROCRACIA chata, que você só vai fazer pra se livrar dela o mais rápido possível. Não é trabalho demais e não é uma chatice. Com a ferramenta certa, um bom cadastro inicial de um livro vai levar menos de 10 minutos!

E não é trabalho do livreiro, do distribuidor ou de outros players. Antes de mais nada, é uma questão de PATERNIDADE. Editores, muitas vezes, se referem ao livro como um filho; então uso esta figura pra dizer: ninguém conhece melhor a criança do que os pais. Qual o tamanho, o peso, a idade, a cor dos olhos, dos cabelos? Do que a criança gosta e do que não gosta?… É o editor quem trabalha com o livro por meses, lê e relê cada linha, conhece o autor, sabe falar das ilustrações e, melhor do que ninguém, pode categorizar determinado livro.

Mais um erro a evitar – e desse eu gosto de falar: não é CASTIGO DE ESTAGIÁRIO! Não ria. Muita gente coloca aquele estagiário que pisou na bola, ou, no mínimo, o mais chato ou o mais novo, para cadastrar seus livros. Biiiiig mistake, diriam os gringos. Ele não conhece o livro (não é o pai!), normalmente não tem experiência no mercado (por isso é estagiário) e, por mais que se esforce, não vai ser fácil sair um bom cadastro das mãos dele — e provavelmente não vai sair mesmo.

Outro erro comum no cadastramento de livros: pensar que seu LEITOR É BIBLIOTECÁRIO. Não. Ele não é. Ele não vai procurar “A Moreninha” como “Moreninha, A”! Ele viu a capa, leu o título na lista do vestibular, alguém mencionou o livro pra ele. O cadastro do livro precisa ter em mente que o leitor é um consumidor comum, procurando por um produto. Não fique bravo comigo, mas livro é sim um produto! É cultura, é educação, tem papel fundamental na sociedade. Mas ele precisa ser vendido. Então é um produto. E pra ser comprado por alguém, precisa ser achado. É a tal da “encontrabilidade”, essa palavra esquisita que não tem nem no dicionário inglês (lá vêm os gringos de novo, que usam a expressão “discoverability”). Para o nosso amigo leitor encontrar o nosso livro, primeiro ele precisa procurar; e o que ele vai usar para procurar? As palavras e as informações que ele tem na sua mente, na maioria das vezes colocadas lá pelo “modo visual”.

Vou ser mais prático e dar algumas dicas sobre o título cadastrado: não use ABREVIAÇÃO. Se você tiver o livro “American English Edition 1 — Student Book” e o cadastrar como English AE1 — SB, quem procurar por American English, por exemplo, não vai encontrar. E, convenhamos, seria uma expressão normal de usar para encontrar tal livro. ACENTUAÇÃO e PADRÃO DE ESCRITA: outros dois deslizes em cadastramento de títulos. Sempre use acentuação completa e correta. E mantenha o padrão de seus títulos. As boas práticas sugerem que apenas a primeira letra do título e os nomes próprios devem ser registrados em maiúsculas. Se você optar por fazer diferente, não é o fim do mundo, claro! Mas não cadastre cada título de um jeito diferente.

Tá ficando meio comprido, mas quero dar mais algumas poucas dicas. Aguente aí!

Sobre autor (ou autores): NOME COMPLETO, com todos os sobrenomes, na ordem normal de escrita. Repito, seus leitores não são bibliotecários. Inclua TODOS os autores no cadastro. Muitas vezes encontramos apenas um dos autores cadastrado. Se o leitor procurar pelo nome do outro, adivinha o que ele vai encontrar! E os outros colaboradores? Organizador, coordenador, ilustrador, tradutor… As boas ferramentas de cadastro permitem que você cadastre todos esses. Não tenha preguiça. Mais cinco minutos do seu tempo vão significar mais alguns exemplares vendidos daquele título.

Estou terminando. Tenho mais duas dicas. É rapidinho!

a: não pare no nível zero da categorização. Seja o BISAC ou o Thema que você vai usar para classificar o seu livro, é fundamental ser o mais detalhado possível. E muitos livros se encaixam em mais de um código, então faça uso disso. Esta é uma das primeiras chaves para que seu livro seja encontrado. Trate dela com carinho.

Segunda e última dica: PALAVRA-CHAVE. Título, autor e editora NÃO são palavras-chave. Então, o que são palavras-chave? Por definição, elas são “uma lista de termos que podem ser associados com um título e usados por mecanismos de buscas e outras aplicações”. Podem incluir, dentre outras coisas, nomes de personagens, locais, localidades e regiões, termos descritivos mais amplos, informação adicional sobre temas cobertos pelo livro, títulos e autores relacionados, e muito mais. Vamos falar com mais detalhes sobre este tema em outra oportunidade.

Já falei demais por hoje. Se chegou até aqui é porque está mesmo interessado no assunto. Então, mãos à obra! E se precisar de uma força, entre em contato.

Até breve!


* Ricardo Costa é Managing Director do Books in Print Brasil e Representante da Feira de Frankfurt para a América do Sul. Por seis anos, foi sócio-diretor do PublishNews (www.publishnews.com.br). Além de um apaixonado pelo mundo do livro, é viciado em séries de TV e se mete a cozinheiro (sim, cozinheiro, porque “chef” agora é coisa de TV) nas horas vagas, que são poucas! Ricardo é formado em Análise de Sistemas e tem especialização em Publishing, com experiência em desenvolvimento de negócios no mercado editorial. Trabalhou por seis anos como diretor editorial e de marketing e outros três anos como consultor em desenvolvimento de negócios editoriais; antes disso, foi gerente de produto na HBO Brasil.


[30/11/2017 10:59:00]