O poder do crowdfunding
PublishNews, Leonardo Neto, 30/11/2017
Plataformas de financiamento coletivo dão fôlego a projetos de livros e esse segmento cresce de forma sistemática. O PublishNews teve acesso aos números do Catarse e da Kickante.

O financiamento coletivo surgiu como uma alternativa para que escritores independentes consigam entrar e se manter no mercado editorial. Mas não só para eles. Editores também entraram na onda. Prova disso é a editora independente Piu, que tem viabilizado seus projetos via financiamento coletivo. Fernanda Scherer, uma das fundadoras da editora (a outra é Paula Taitelbaum), inclusive, foi uma das vencedoras do último Prêmio Jovens Talentos da Indústria do Livro justamente por um projeto exitoso nesse modelo de negócio. Outra editora que tem apostado nesse modelo de negócios é a Ex Machina, de Bruno Costa, que apostou alto na edição de Contos reunidos do mestre do horror cósmico, resultado de quatro anos de trabalho em cima da obra de H. P. Lovecraft (1890 - 1937).

Candice Pascoal estreou na lista dos mais vendidos com 'Seu sonho tem futuro', realizado via financiamento coletivo | © Divulgação
Candice Pascoal estreou na lista dos mais vendidos com 'Seu sonho tem futuro', realizado via financiamento coletivo | © Divulgação

Isso chamou a atenção das plataformas que decidiram criar departamentos dedicados exclusivamente para projetos editoriais. A Kickante, por exemplo, montou uma assessoria de marketing gratuita e especializada para ajudar o escritor nesse processo. A plataforma tem apurado crescimentos constantes nesse segmento. Se em 2014, a Kickante apurou R$ 254 mil, em 2016, essa cifra saltou para R$ 1,9 milhão. A própria fundadora e CEO da Kickante, Candice Pascoal, utilizou este recurso para o pré-lançamento do seu livro: Seu sonho tem futuro. A campanha do livro, que mostra justamente como tirar projetos do papel, arrecadou R$ 90 mil reais, 300% da meta inicial. O sucesso foi tanto que chamou a atenção da Editora Gente que publicou a obra que veio parar na lista de mais vendidos do PublishNews.

Raíssa Pena, responsável pelos projetos editoriais da Catarse | © Arquivo Pessoal
Raíssa Pena, responsável pelos projetos editoriais da Catarse | © Arquivo Pessoal

Outra plataforma que tem dedicado sua atenção a esse segmento é o Catarse. Recentemente, a empresa contratou uma pessoa para cuidar apenas dos projetos editoriais. No seu dia a dia, Raíssa Pena acompanha de perto os realizadores antes, durante e depois das campanhas, para auxiliar no desenho de estratégias e das melhores práticas para conversar com cada comunidade.

A pedido do PublishNews, Raíssa levantou os dados referentes a esse setor. Desde a sua fundação e até o último dia 28, a plataforma já tinha ajudado a captar R$ 15,8 milhões para projetos de publicações. Essa cifra financiou mais de 1,2 mil projetos em literatura, fotografia, quadrinhos, arte, arquitetura e urbanismo. Só no ano passado, foram R$ 4,05 milhões, crescimento de 60% em relação ao ano anterior, quando foram apurados R$ 2,53 milhões. E esse número deve crescer em 2017. De janeiro até agora, o Catarse já movimentou R$ 5,6 milhões e ainda tem um pouco de chão para chegar ao fim do ano. E o que esperar de 2018, Raíssa? “É bastante difícil chegar a uma projeção para 2018, uma vez que o segmento está pulverizado em categorias com comunidades muito diferentes (fotógrafos, poetas, jornalistas, escritores, designers, ilustradores). Mas acredito que devamos conseguir em 2018 um crescimento em torno de 50% em relação a este ano”, diz entusiasmada.

O recorde brasileiro de financiamento coletivo dentro da plataforma foi o livro Kabbalah hermética, o quarto projeto de Marcelo Del Debbio na plataforma. Ele arrecadou R$ 347,6 mil com apoio de 1.086 pessoas. O projeto de Debbio é um ponto muito fora da curva. Em média, campanhas no Catarse arrecadam R$ 16.630, valor acima da média das metas pedidas, que é de R$ 12,6 mil. “Para esse dado fazer sentido, no entanto, é importante saber duas coisas. Primeiro, que essas médias variam de livros que arrecadaram R$ 1 mil até os que arrecadaram R$ 100 mil. Além disso, é importante dizer que 97% das campanhas bem-sucedidas alcançaram 25% ou mais da meta na primeira semana, ou seja: o que realmente importa é como o realizador se prepara e não exatamente a média de sucesso de uma categoria”, explica Raíssa.

O financiamento coletivo pode ser um bom negócio para quem produz, mas é também para quem compra. “As pessoas que participam de um financiamento coletivo têm a sensação insubstituível de estar participando do processo. Isso é muito importante. Os fãs / leitores sentem que estão incluídos no processo do livro e estão sendo prestigiados com a chance de adquirir primeiro (e, claro, mais barato). Mais do que uma pré-venda, é uma estratégia de fortalecimento de comunidade muito valiosa”, defende Raíssa.

E levando em consideração o lado do produtor de conteúdos (seja ele o autor ou o editor que busca o financiamento coletivo como forma de viabilizar o seu projeto), o crowdfunding apresenta alguns benefícios que são difíceis de serem encontrados no modelo tradicional de publicação, explica Raíssa: “numa pré-venda por financiamento coletivo, é possível reduzir ou até eliminar os tradicionais 50 ou 60% que ficam com as distribuidoras, já que os próprios realizadores são os responsáveis por entregar os livros pedidos como recompensa. Além disso, a editora ou o autor precisa arcar com uma quantidade de exemplares menor e que já tem destino certo, eliminando o risco de produzir grandes tiragens que ficariam paradas em estoque”. Além disso, a executiva aponta que atualmente 40% dos apoiadores de campanhas do Catarse são pessoas da própria comunidade, que já apoiaram projetos semelhantes anteriormente. “Ou seja: você vai expor o livro a uma base de aproximadamente 460 mil pessoas que apoiam campanhas de maneira frequente no Catarse”, pontua.

[30/11/2017 11:14:00]