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Principais atrações da Bienal do Livro, escritoras também dominam vendas

Nas mesas e nas listas de mais vendidos, mulheres foram destaque no evento
Uma das principais atrações internacionais da Bienal do Livro, Paula Hawkins atraiu centenas de fãs no Riocentro Foto: Analice Paron / Agência O Globo
Uma das principais atrações internacionais da Bienal do Livro, Paula Hawkins atraiu centenas de fãs no Riocentro Foto: Analice Paron / Agência O Globo

RIO - Um dos principais termômetros do mercado editorial, a 18ª Bienal do Livro do Rio, que termina neste domingo, seguiu a tendência de outros eventos literários e multiplicou sua presença feminina. Mais numerosas na programação geral (42%, contra 36% na edição passada), as escritoras dominam os dois principais espaços da feira: correspondem a 11 das 19 atrações dos Encontros com Autores e a 27 dos 50 convidados da arena #SemFiltro, que atraíram multidões. As grandes estrelas internacionais que passaram pelo Riocentro são quase todas mulheres, como as americanas Jenny Han, Abbi Glines e Karin Slaughter, a britânica Paula Hawkins e a australiana Gayle Forman.

Uma representatividade que, segundo os balanços parciais das editoras, está se refletindo nas vendas. Até o fechamento desta edição, apenas um autor homem aparecia na lista dos dez mais do Grupo Record, o poeta paulistano Zack Magiezi, cujos livros atraem justamente o público feminino. De resto, brilharam nomes como a niteroiense FML Pepper (única brasileira escolhida pela Amazon americana entre as 12 personalidades femininas do mundo que fizeram diferença na literatura em 2015), a britânica Paula Hawkins e a paulista Carina Rissi. Na Rocco, as mulheres também ocupam todas as primeiras posições, com veteranas (JK Rowling, Clarice Lispector, Thalita Rebouças, Margaret Atwood) e representantes da nova geração (Marie Lu e Veronica Roth). Já na Intrínseca, quatro mulheres ocupam a segunda metade da lista, incluindo Jojo Moyes, a escritora que mais vendeu livros no Brasil em 2016. A britânica, aliás, ganhou um espaço só dela no estande da editora.

— Vejo um crescimento consistente de mulheres em filas de autógrafos — diz Rafaella Machado, gerente de marketing do Grupo Record. — E, com o feminismo em alta, elas têm preferido ler livros escritos por mulheres. Buscam uma representação mais multifacetada da mulher. Muitas vezes, os homens as representam, em seus livros, de uma maneira muito idealizada ou sexualizada. A gente não quer mais ser a princesa que é salva, a gente quer salvar o príncipe.

Dados do Instituto Pró-Livro para o projeto Retratos da Leitura no Brasil, de 2015, apontam que mulheres leem mais do que homens no país. Segundo a pesquisa, que é realizada a cada quatro anos, 59% das mulheres se dizem leitoras, enquanto, para os homens, a porcentagem cai para 52%. Como na última edição, o público da Bienal foi majoritariamente feminino: 62% dos visitantes eram mulheres.

— Acho que 90% do meu público é de mulheres — diz Carina Rissi, que eletrizou o público jovem da arena #SemFiltro em sua mesa desta sexta. — Elas se identificam com minhas personagens, que são reais. É como se o leitor estivesse lendo a história de uma amiga, de uma irmã, de uma vizinha. Aquela ideia da mulher perfeita ruiu. As minhas heroínas estão sempre errando, apresentando defeitos, têm sempre problemas de relacionamento, neuras, traumas...

— É gratificante ver, na área da ficção, o crescimento das vendas dos livros escritos por mulheres, sobre mulheres, para mulheres — diz Nana Vaz de Castro, gerente de aquisições da Sextante, que editou sucessos da Bienal, como "Pegando Fogo", de Abbi Glines (convidada internacional da evento), e "Confissões de uma garota excluída, mal-amada e um pouco dramática", de  Thalita Rebouças. — O desafio é conciliar o apetite voraz das leitoras, sempre em busca de novas histórias, com o calendário de lançamentos. Por sorte, nossas autoras tendem a ser muito prolíficas, e novos títulos nunca faltam. Embora a crítica literária tradicionalmente despreze essa literatura de entretenimento, os altos números de venda e o entusiasmo dos leitores em eventos como a Bienal mostram que estamos no caminho certo.

Mais do que volume de produção, o foco nas mulheres também se vê na concepção dos livros. Neste ano, a Bienal mostrou que gêneros como thriller e terror não apenas não são mais dominados por homens, como também podem ganhar um novo fôlego — e um novo público — quando passam pela sensibilidade de uma escritora. Uma das maiores atrações do evento, Paula Hawkins atraiu centenas de fãs em sua mesa no último sábado. Seus thrillers conquistaram o público feminino ao abordar temas como a violência contra as mulheres. Mesmo caso de Karin Slaughter, que fala neste sábado, às 15h, na arena Maracanã (Pavilhão Verde).

Editora de Karin, que já vendeu mais de 16 milhões de livros no mundo todo, a HarperCollins só tem escritoras nas primeiras posições de sua lista de mais vendidos no evento. Um de seus selos, o Harlequin, tem como slogan “Todo o poder feminino”. Diretoa de marketing e vendas da casa, Daniela Kfuri acredita que os temas relacionados às mulheres estiveram em alta nesta Bienal.

— A gente sente que, no caso da Karin, por exemplo, a temática ajuda muito — diz Daniela. — Ela fala sobre violência contra a mulher, está muito forte na voz dela, e isso é um assunto do qual se evitava falar até há pouco. As mulheres estão querendo falar sobre isso.

Além de consagrar nomes já esperados, esta edição da Bienal também viu o surgimento de novas escritoras. Foi o caso da americana Jenna Evans Welsh, cujas boas vendas de seu romance de estreia, “Amor & gelato”, surpreenderam até a Intrínseca, sua editora brasileira.

— Parece ter caído de vez no gosto dos leitores, com uma velocidade que não esperávamos, por ser um livro novo e ter tido pouco tempo de boca a boca — diz Lucas Telles, editor de aquisições da Intrínseca. — Mesmo assim, teve muita procura no estande. Acho que casou com o público jovem e feminino da Bienal.