Por G1 RS


Livro reúne histórias desagradáveis sobre os ônibus de Porto Alegre

Livro reúne histórias desagradáveis sobre os ônibus de Porto Alegre

Para a ONG Minha Porto Alegre, pegar ônibus na capital pode ser comparado a uma história de terror. Diante de relatos de atrasos, pouca oferta, veículos lotados e até violência, a organização de mobilização social criou a campanha 405 Contos de Terror, estimulando os usuários do transporte público porto-alegrense a contarem os casos mais assustadores pelos quais tenham passado.

A organização, que se articula em uma rede de colaboração presente em várias capitais e trabalha em propostas para melhorar a vida na cidade, já reuniu cerca de 70 relatos. São histórias de atrasos de mais de uma hora, assaltos e agressões, ônibus em condições precárias, por exemplo. Muitas delas dão conta de episódios de assédio sofridos por mulheres, segundo adiantou a ONG ao G1.

Quem quiser contar a sua, deve acessar o site e preencher o formulário, identificando o máximo de detalhes possível, como a linha de ônibus e o horário em que aconteceu.

Os "contos de terror" serão compilados em um livro, a ser entregue ao prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Jr, à Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e a cada um dos vereadores e vereadoras da Câmara Municipal.

O título do livro faz referência ao preço da passagem. Segundo um texto no site da campanha, "o serviço prestado não vale a facada diária de R$ 4,05". Além disso, uma iniciativa de financiamento coletivo está no ar, para reunir fundos para imprimir o livro. Devem ser impressos 40 exemplares. A campanha fica no ar até outubro.

Cerca de 70 depoimentos já foram cadastrados no site por usuários insatisfeitos com o transporte público de Porto Alegre — Foto: Divulgação/Minha Porto Alegre

O tom da iniciativa é bem-humorado, mas o assunto é tratado com seriedade. Segundo a coordenadora da ONG, Carolina Soares, a ideia é humanizar as reclamações constantes sobre os problemas enfrentados pela população que precisa do serviço. "A campanha surgiu a partir da constatação de que quem decide [sobre as políticas de transporte] não é quem mais anda de ônibus. Se trata como uma questão meramente de números o que, na verdade, é um direito, o de ir e vir", analisa ela.

"Queremos mostrar para os políticos da área qual é a realidade: os casos de assédio, de assalto, de atraso. Dando nome, mostrando em quais linhas isso acontece", diz Carolina.

Quanto mais histórias chegarem, mais efetiva será a mobilização, acredita a coordenadora. "Buscamos relatos de todas as regiões da cidade", aponta.

Com ações como esta, Carolina acredita que a rede de colaboração criará cada vez mais oportunidades de diálogo com os órgãos de transporte e com a prefeitura. A Minha Porto Alegre estuda o assunto de perto, segundo a coordenadora, é contra o aumento da passagem e vários pontos do pacote de redução de isenções, e tem especial atenção com as condições de transporte nas periferias.

A ideia de relacionar a realidade enfrentada pela população com histórias de terror surgiu em conversas entre a equipe, quando o decreto municipal que extinguiu a gratuidade da segunda passagem para usuários foi publicado, em julho. "Quando ficamos sabemos, falamos: 'que horror!'", lembra Carolina. No site da ação, o decreto é chamado de "decreto do terror".

No fim de agosto, a Justiça derrubou o decreto municipal e reinstituiu a gratuidade da segunda passagem para quem pega dois ônibus em menos de meia hora e paga com bilhete eletrônico. Na terça-feira (5), a Procuradoria-Geral do Município ingressou com um recurso. Ainda não houve uma nova decisão.

Ação através do humor

Vídeo criado pela Minha Porto Alegre mostra usuários vestidos de sardinha andando pelos ônibus da cidade. Ação motivou reunião com a EPTC — Foto: Reprodução/Facebook/Minhas Porto Alegre

Essa não é a primeira campanha a utilizar do humor para chamar a atenção para os problemas dos ônibus da cidade. No ano passado, a rede lançou um vídeo em que usuários fantasiados de lata de sardinha andavam nos coletivos da cidade, em uma alusão à situação dos passageiros das linhas lotadas em horários de pico.

"Na época, o comentário de muitos foi: 'traduziram o que a gente sente dentro do ônibus!'", conta Carolina.

A ideia de evidenciar a dificuldade enfrentada pelos passageiros deu certo. A campanha motivou um encontro com representantes da EPTC, em que esse problema e outros aspectos do transporte público foram discutidos. Este é um dos resultados esperados pela rede.

"Temos mais incidência. [As autoridades] estão mais abertas, e a gente tá sendo cada vez mais rapidamente respondido".

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