O colunista Afonso Borges do jornal O Globo, publicou no último dia 24, um artigo intitulado "O bibliotecário de meio milhão de livros". Quando a falta de informação ou a negação da manifestação de todas as partes envolvidas é tornada pública, isso pode significar o uso de uma fonte não confiável, leviandade, ou má fé. O resultado é uma declaração inconsistente, que ao expor um fato sem seu contexto gera um factoide.
Entendendo que cada biblioteca brasileira tem um perfil e é um organismo vivo dentro da sua comunidade, não faria sentido dar continuidade à distribuição aleatória de livros, sem levar em consideração os parâmetros básicos que envolvem os processos de formação e desenvolvimento de acervos. Então, a partir de 2011, a Coordenação Geral do SNBP iniciou um processo mais aprofundado de análise das obras recebidas e o interesse destas obras para as diferentes bibliotecas.
Entendendo todo este processo, o Ministério da Cultura, em 2013, decidiu que os proponentes dos projetos da Lei Rouanet deveriam distribuir diretamente os exemplares de livros nas bibliotecas. A partir de então, não seria mais necessário enviar para o MinC fazer a distribuição das obras.
É importante que se torne público para mais pessoas o que já é de conhecimento das bibliotecas públicas e comunitárias brasileiras: no período entre 2012 a 2014 o SNBP distribuiu aproximadamente 430 mil itens conforme quadro abaixo, disponível nos relatórios anuais da Coordenação Geral e disponível também no site do SNBP até o primeiro semestre de 2016.
Outro fato que é de conhecimento de todos que atuam na área da promoção do livro e da leitura, e que acompanham as mudanças e os avanços nas políticas públicas para a área, é que a partir de 2015 o SNBP migrou da Fundação Biblioteca Nacional para a extinta Diretoria do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (DLLLB), mudando toda a sua estrutura e, junto com a DLLLB, se deslocou fisicamente para Brasília.Ainda em 2015, com o início das obras no prédio anexo da Biblioteca Nacional para a construção da Hemeroteca. todos os livros foram embalados e armazenados para posterior distribuição.
Neste período o MinC constituiu um grupo de trabalho para pensar um projeto de doação dos livros que incluía: a Coordenação Geral do SNBP, um representante da Biblioteca Nacional, um assessor da Secretária Executiva e um assessor do Gabinete do ministro da Cultura. Foram realizadas diversas reuniões com os Correios, incluindo o ministro da Cultura, o secretário-executivo do MinC, o presidente dos Correios e o diretor da DLLLB buscando uma possível parceria para a distribuição do acervo remanescente.
Entre o final de 2015 e o início de 2016 o SNBP/DLLLB elaborou um projeto para a distribuição das obras do Porto Maravilha para as bibliotecas públicas e as bibliotecas comunitárias / pontos de leitura, com vistas à qualificação de seus acervos. O projeto daria início ao processo licitatório que visava escolher empresas cujo objeto do contrato social seria de atividade compatível com a ação a ser desenvolvida, detentoras de know-how em trabalhos correlatos, ou em tratamento técnico bibliográfico informatizado para a realização de propostas técnicas e comerciais dos serviços.
A empresa que ganhasse o processo licitatório, seria contratada para executar este serviço e deveria: realizar o Inventário deste material; estabelecer um sistema de despacho/envio para as bibliotecas municipais, contabilizando as saídas do acervo; ter um módulo de emissão de relatórios estatísticos e gerenciais do acervo; formar, segundo as orientações do SNBP, um acervo mixado e embalado.
O projeto previa também que os kits de livros fossem distribuídos da seguinte forma:
Bibliotecas Públicas 600 kits
- Doação para 27 Bibliotecas Públicas Estaduais – kit 2 mil itens
- Doação para 240 Biblioteca Pública municipal – kit 1 mil itens
- Doação para as 342 Bibliotecas públicas municipais dos CEUS – kit com 500 itens;
Bibliotecas Comunitárias 300 kits
- Doação para 250 Bibliotecas Comunitárias/Pontos de Leitura – kit com 500 itens
- Doação para 50 Bibliotecas Comunitárias no Exterior em parceria com o Ministério das Relações Exteriores – kit com 250 itens
Este projeto seria executado em 2016, não fossem as mudanças políticas no nosso país. Inclusive, o Ministério da Cultura já havia destinado ao projeto aproximadamente 4 milhões de recurso do Fundo Nacional de Cultura.
Todas as informações trazidas aqui estão no relatório entregue pela Diretoria do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas na mudança de Governo de 2015. Então, o colunista Afonso Borges, ao escrever que o ex-diretor do Departamento Cristian Brayner encontrou os livros "largados à própria sorte há quatro anos" evitando, segundo as palavras de Borges "uma quase tragédia brasileira" demonstrou, no mínimo, falta de informação e conhecimento sobre o assunto. Já em se tratando do ex-diretor Cristian, seria esperado que compartilhasse a verdadeira história construída nas gestões anteriores, já que teve acesso ao referido relatório da pasta que assumiu.
Volnei Canônica é formado em Comunicação Social – Relações Públicas pela Universidade de Caxias do Sul, com especialização em Literatura Infantil e Juvenil também pela Universidade de Caxias do Sul, e especialização em Literatura, Arte do Pensamento Contemporâneo pela PUC-RJ. É Presidente do Instituto de Leitura Quindim, Diretor do Clube de Leitura Quindim e ex-diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas, do Ministério da Cultura. Coordenou no Instituto C&A de Desenvolvimento Social o programa Prazer em Ler. Foi assessor na Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Na Secretaria Municipal de Cultura de Caxias do Sul, assessorou a criação do Programa Permanente de Estímulo à Leitura. o Livro Meu. Também foi jurado de vários prêmios literários.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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