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Na Coreia, Canônica entrevista Marilda Castanha
PublishNews, Volnei Canônica, 22/05/2017
Ilustradora brasileira ganhou prêmio na Coreia do Sul

Nosso colunista Volnei Canônica entrevista Marilda Castanha, única brasileira a ganhar o Nami Concours | © Volnei Canônica
Nosso colunista Volnei Canônica entrevista Marilda Castanha, única brasileira a ganhar o Nami Concours | © Volnei Canônica

Volnei Canônica, diretor do Centro de Leitura Quindim e colunista do PublishNews, está na Coréia do Sul como convidado do NamBook Festival e Nami Concours 2017. O NamBook, idealizado pelo artista coreano Kang Woo Hyon, acontece desde 2005 na Ilha de Nami. Criado em 2013, o Nami Concours faz parte da programação do evento. Na sua 3ª edição (bienal) se inscreveram 1770 participantes de 89 países.

O júri é composto por importantes especialistas e ilustradores: Junko Yokota (Japão/EUA) - presidente do júri, Zohreh Ghaeni (Irã), Roger Mello (Brasil), Anastasia Arkhipova (Rússia), Yusof Ismail (Malásia), Yokiko Hiromatsu (Japão) e Sung-Ok Han (Coréia do Sul).

Uma das premiadas, na categoria Purple Island, foi a ilustradora brasileira Marilda Castanha. O resultado da edição de 2017 você pode conferir no site do concurso.

Volnei envia uma entrevista exclusiva de Marilda para os leitores do PublishNews.

Exposição da obra 'Sem fim' durante o evento na Coreia do Sul | © Volnei Canônica
Exposição da obra 'Sem fim' durante o evento na Coreia do Sul | © Volnei Canônica

Volnei - Qual a importância deste prêmio na sua carreira?

Marilda – Todo prêmio é um reconhecimento. E mesmo completando neste ano 30 anos como ilustradora, ser premiada é sempre um incentivo. Principalmente para não parar de fazer o que decidi há algum tempo: dar prioridade a projetos autorais e dedicando-me também à narrativa visual. É uma resposta para o caminho que escolhi. O caminho do livro ilustrado, da autoria, de uma voz narrativa.

Volnei - Quais outros prêmios internacionais que você já conquistou?

Marilda - Nos anos 1990 ganhei três prêmios. Dois no Noma Concours, no Japão, (Runner up para Pindorama, terra das palmeiras e um Encouragement Prize para Pula, gato) e um Prêmio Octogone, em Paris, também pelo Pindorama. Todo prêmio é sempre muito importante. É sempre uma resposta. Um prêmio internacional como este confirma que a ilustração é uma linguagem internacional. Ter estado na Coréia do Sul para receber este prêmio e perceber as diferentes culturas foi um momento muito especial para mim. A potência de um prêmio internacional é perceber que o livro foi lido, compartilhado e ganha mais visibilidade. O próprio corpo de jurados formado por leitores críticos que estão avaliando o livro já oferece uma forma deste objeto ganhar diferentes olhares, e sair da gaiola. Não é restrito a um só público e é isso que a gente deseja na literatura para a infância. Que o livro saia pelo mundo, que vá embora...

No caso do livro Sem fim (Positivo), que é uma história de metáforas, em que cada ilustração do livro não foi feita por acaso, e sim, com uma proposta, o prêmio sinaliza e afirma aquilo em que nós ilustradores acreditamos: imagem é uma narrativa sem fronteiras culturais.

Marilda Castanha com o Wally de Doncker - Presidente do IBBY - International Board on Books for Young People, na Exposição
Marilda Castanha com o Wally de Doncker - Presidente do IBBY - International Board on Books for Young People, na Exposição
Volnei - Como foi a ideia do livro Sem fim?

Marilda - Desde que eu fiz o livro Pindorama, já tinha a vontade de fazer um livro onde eu pudesse desenhar diferentes árvores. Um dia, o Nelson Cruz, meu marido, que também é ilustrador, me fez uma provocação. Porque eu não desenhava um livro com todas as minhas ilustrações de árvores malucas? O Sem fim é uma conversa entre o homem e a natureza. Às vezes é como uma dança, uma comunicação entre os dois. Na história existe uma caixa que é o elemento que fica o tempo todo nos mostrando que a decisão está em nossas mãos. Tudo que tem na caixa pode construir ou destruir. Depois que eu tinha acabado de fazer as ilustrações do livro eu encontrei o poema Canção mínima, da Cecilia Meirelles.

CANÇÃO MÍNIMA

No Mistério do Sem-Fim,
equilibra-se um planeta.

E no planeta, um jardim;
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro.

entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de uma borboleta.

Uma das estrofes do poema virou a epigrafe do livro. O poema traz essas questões de que tudo é circular e a harmonia do homem e da natureza depende de você. Além disso tudo, este projeto me instigou muito a trabalhar não só com as imagens, mas com recursos gráficos e visuais, como a dobra da página, por exemplo. Tudo que temos no texto gráfico vamos ter no texto de imagem.

Volnei - Como você vê a participação de ilustradores brasileiros em concursos, bienais e feiras internacionais?

Marilda - Vejo que temos que divulgar mais as feiras que não estão centralizadas na Europa. Estamos com o olhar viciado para eventos já estabelecidos. Eventos como a Feira do Livro de Bolonha, a Ilustrarte, e outros são muito importantes. Mas é necessário abrir o nosso leque de participação em outros eventos. Hoje vejo que é importante, possível e necessária a participação em eventos como, por exemplo, a Feira de Guadalajara, Nami Concours, Sharjah Exhibition for Children’s Book Illustrators nos Emirados Árabes, (que teve a participação do ilustrador brasileiro Romont Willy neste ano) Feira de Xangai e Pequim, Bratislava, catálogo Ibero Americano e outros.

A Feira do Livro de Bolonha está bastante voltada para a ilustração que é feita na Europa e por isso, muitas vezes, acaba sendo um limitador e excluindo a ilustração latino-americana. Precisamos cada vez mais nos arriscar e participar de novos concursos e eventos para que diferentes culturas possam ler nossas narrativas. Precisamos insistir. Estar aqui é um grande encontro de ilustradores, da ilustração, de diferentes linguagens e narrativas.

Nami é um concurso para picture books e isso contribui muito para que os brasileiros participem. No Brasil temos muitos escritores / ilustradores. E ilustradores / autores. Este é um fator muito positivo e precisamos aumentar a participação dos brasileiros nestes concursos.

O que eu mais vi nos livros premiados aqui no Nami Concours foi a questão da identidade. Um desenho com assinatura. O concurso Nami privilegia a diversidade. Encontrei trabalhos completamente diferentes entre os premiados. Diferença de técnicas, de produção gráfica, e todos com muita qualidade. Quero ressaltar aqui o livro premiado da ilustradora polonesa Malgorzata Gurowska. É um poema gráfico lindíssimo, contemporâneo, e sem nenhum apelo comercial com uma voz crítica a algumas das situações polêmicas que vivemos atualmente, como a questão dos refugiados, do poder bélico, do autoritarismo. Ver um livro como este ganhar o primeiro prêmio sinaliza e dá voz não só ao ilustrador premiado, mas ao próprio corpo de jurados que o escolheu. Ao que ele pensa e avalia. No fundo foi um grande encontro não só de ideias, mas também de ideais.

Volnei - O ilustrador brasileiro tem medo de se aventurar no mercado internacional?

Marilda- Não. Vejo que muitos participam. Mas o ilustrador brasileiro tem (e tem que ter, pela própria situação econômica e financeira em que vivemos) muito foco de trabalhar para o mercado editorial interno e muitas vezes não temos tempo de participar e dedicar a concursos, principalmente àqueles que pedem trabalhos inéditos. Isso é muito difícil. Estamos sempre muito preocupados, claro, com a demanda - e também a falta de demanda - do mercado interno. Por outro lado, quanto mais pessoas participarem e enviarem seus trabalhos poderemos mostrar a diversidade da ilustração brasileira. No meu caso, fiquei muito estimulada a participar do Nami Concours quando o ilustrador brasileiro Marcelo Pimentel ganhou o prêmio Grand Prix em 2015. Mas o foco não foi ganhar, e sim participar, porque a participação possibilita que a ilustração latino-americana percorra novos espaços.

Volnei - Como está sendo essa experiência na Coréia do Sul?

Marilda - Ótima! Foi um encontro de ilustração e de novos amigos. Traz muita felicidade ver o reconhecimento das nossas ideias. E em um encontro que valoriza a diversidade: ideias diferentes, pessoas e culturas diferentes. Não é somente uma cerimônia de entrega do prêmio. Aconteceu uma cerimônia maravilhosa, mas nos deram a oportunidade dos encontros. Não só entre os ilustradores premiados mas também junto com o próprio corpo de jurados. Achei isto importantíssimo. Informalmente ouvi depoimentos sobre o meu trabalho que foram encorajadores. Conversar com os ilustradores e os jurados é igualmente enriquecedor. Encontrei e conheci pessoas do Irã, Malásia, Inglaterra, Portugal, EUA, Japão, Polônia. Todos com histórias similares. Todos trabalhando para o livro e para a infância. Tive a completa sensação de que não estamos sozinhos!

Marilda Castanha - É ilustradora e escritora. Nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais e passou a sua infância brincando num quintal enorme com bichos, plantas e uma jabuticabeira. Cresceu desenhando e nos anos 80 fez Belas Artes na UFMG. Ainda na faculdade foi "fisgada" pela literatura infantil, e começou a ilustrar. Hoje mora e trabalha em Santa Luzia, MG.

Volnei Canônica é formado em Comunicação Social – Relações Públicas pela Universidade de Caxias do Sul, com especialização em Literatura Infantil e Juvenil também pela Universidade de Caxias do Sul, e especialização em Literatura, Arte do Pensamento Contemporâneo pela PUC-RJ. É Presidente do Instituto de Leitura Quindim, Diretor do Clube de Leitura Quindim e ex-diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas, do Ministério da Cultura. Coordenou no Instituto C&A de Desenvolvimento Social o programa Prazer em Ler. Foi assessor na Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Na Secretaria Municipal de Cultura de Caxias do Sul, assessorou a criação do Programa Permanente de Estímulo à Leitura. o Livro Meu. Também foi jurado de vários prêmios literários.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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