Poesia para quem precisa
PublishNews, Paulo Tedesco, 27/04/2017
Paulo Tedesco fala, dessa vez, sobre a poesia, 'o mapa da condição humana'

Por aqui já abordei a importância da ficção bem como do editor para que compreendamos o livro nesses tempos tão contemporâneos. Meu plano, sempre que possível, é abordar um pouco dos diferentes gêneros sem os tecnicismos de muitos dos críticos literários ou de abordagens por demais acadêmicas.

A ideia aqui não é entrar em polêmica com a crítica acadêmica ou literária. Ela tem gigantesca utilidade na defesa da literatura dentro do contexto de uma nação. Mas sim de levantar algumas questões, a exemplo da importância da ficção, para que se veja a fundamental importância dos gêneros literários e, em especial, suas sutilezas, considerando essa teia de livros e opiniões críticas que formam o curioso complexo da produção editorial e livreira, da leitura e formação educacional e artística de todo um povo.

Desta vez, porém, ingresso em outro território, tão o mais problemático do que o da ficção: o da poesia. Pois poesia é um termo amplo e dado a opiniões que não só variam através dos tempos como despertam suscetibilidades por vezes exageradas e desproporcionais. Enfim, esse é o espírito da vida brasileira, sempre atento a detalhes aparentemente inessenciais, mas que, ao fim, adernam para respostas interessantes e não menos complexas.

Diz um bom amigo, professor de literatura dos bons, cronista e poeta, e que por esses dias está a lançar seu novo livro de poesias, Pedro Gonzaga, que “a poesia é espécie de mapa da condição humana”. E foi essa frase, pinçada de uma de suas crônicas, que me moveu a trabalhar esse assunto num espaço tão ímpar como esse. Afinal, a mim, a frase do Pedro Gonzaga respondia, com alguns anos de atraso, uma das primeiras perguntas que me fazia quando adentrava no mundo adulto, e em especial nos negócios: existe guia ou manual de uso para a vida?

Vejam que a pergunta, embora boba e frugal, traz junto aquela impressionante dúvida que surge a todos que enfrentam terrenos absolutamente íngremes na fase adulta. Pois a ingenuidade, própria da juventude que acredita num futuro razoavelmente lógico e previsível, repentino, na maturidade, encontra desafios a abalar a mais profunda das convicções. E, claro, tudo pode piorar quando se abandona a perspectiva de um emprego fixo para singrar nos mares do empreendedorismo ou ainda do mundo empresarial.

Não é preciso dizer que o impensado nos traz na solidão, quando, para ficarmos num exemplo, nos encontramos responsáveis pela família e com responsabilidades, e, ao mesmo tempo, percebemos a vida e a liberdade dragadas por um sistema, para que tudo possa, quem sabe, seguir adiante.

E as perguntas se sucedem, e se agravam, se aprofundam e é preciso enfrentar as obrigações. E nesse instante é que a poesia, como espécie de mapa da condição humana, como bem disse o Pedro, surge a dar respostas, porque essas estão nas entrelinhas e nos desdobramentos dos sentidos, na reviravolta do olhar e na apreensão infantil, e muito criativa e a mais sincera possível, do instante. Pois a ficção importa, sem dúvida, mas é a poesia que dá o sentido para o universo.

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[27/04/2017 09:19:00]