Clarice, Scliar, Suassuna e Drummond se encontram em Passo Fundo
PublishNews, Leonardo Neto, 23/03/2017
Jornada de Passo Fundo, que acontece em outubro, anuncia destaques da sua programação

Crianças esperam na fila para entrar nas tendas da última edição da Jornada, realizada em 2013 | © Divulgação
Crianças esperam na fila para entrar nas tendas da última edição da Jornada, realizada em 2013 | © Divulgação

O que os anos de 1927, 1937, 1977 e 1987 têm em comum? Foram anos que marcaram, de uma forma ou de outra, a história literária brasileira. Em 1927, nascia Ariano Suassuna; em 1937, Moacyr Scliar; em 1977, morria Clarice Lispector e em 1987, era a vez de Carlos Drummond de Andrade nos deixar. Respectivamente 90, 80, 40 e 30 anos. Todas dadas redondas. Essas efemérides vão marcar a programação da 16ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo que acontecerá entre os dias 2 e 6 de outubro.

Cancelada, com grande comoção da comunidade literária nacional, na sua última edição que era prevista para 2015, a Jornada volta à cena com uma nova curadora. A professora Fabiane Burlamaque substituiu a também professora Tânia Rösing, que idealizou a Jornada em 1981 ao lado do escritor Josué Guimarães.

Clarice Lispector vai dar nome ao complexo de tendas onde acontecem a Jornadinha, o braço infantil do evento que reúne 20 mil crianças nos dias do evento; a grande lona, com capacidade para 2 mil pessoas, será batizada com o nome de Ariano Suassuna; o espaço de exposições (onde terá a exposição de Mariana Valente a partir da obra de Clarice) ganhará o nome de Moacyr Scliar e o galpão onde são montados a feira e o espaço para autógrafos vai receber o nome de Carlos Drummond de Andrade.

Fabiane Burlamarque promete 'jornalizar' Passo Fundo em 2017 | © Redes Sociais
Fabiane Burlamarque promete 'jornalizar' Passo Fundo em 2017 | © Redes Sociais
“Com essas homenagens, queremos mostrar que precisamos trabalhar na escola não só os autores convidados, mas também esses autores canônicos, como é o caso de Clarice, Suassuna e Drummond e autores que são muito caros para a Jornada, como é o caso de Scliar”, defendeu Fabiane. Em 1981, o escritor gaúcho foi um dos autores convidados da primeiríssima Jornada.

Em evento acontecido na última terça-feira (21), em Porto Alegre, a nova curadora apresentou alguns destaques da programação. Entre os autores que já confirmaram presença estão Conceição Evaristo, Marina Colasanti, Affonso Romano de Sant´Anna, Laerte, Michel Laub, Julián Fuks, Daniel Kondo, Lúcia Hiratsuka, Heloísa Prieto e Ondjaki.

Prêmio Zaffari Bourbon

O Prêmio Passo Fundo de Literatura – instituído e concedido pela Prefeitura de Passo Fundo, patrocinado pela rede de shopping centers e de supermercados gaúchos e que já levou a Passo Fundo Chico Buarque e Mia Couto e, na sua última edição, Ana Maria Machado – está com o futuro incerto. Segundo a professora Fabiane, a prefeitura ainda estuda formas de manter a entrega do prêmio durante a Jornada, como acontece desde a sua primeira edição, em 1999. O concurso de contos Josué Guimarães, que homenageia um dos fundadores da Jornada e é organizado e mantido pela própria Jornada, está mantido.

A escultura 'Árvore das Letras' foi um marco da Capital Nacional da Literatura | © Acervo da UPF
A escultura 'Árvore das Letras' foi um marco da Capital Nacional da Literatura | © Acervo da UPF
“Jornalizando” Passo Fundo

Em 2014, antes mesmo do fatídico cancelamento da edição de 2015 e ainda sob a batuta de Tania Rösing, a Jornada encomendou a uma consultoria um diagnóstico. O relatório entregue sugeriu que a Jornada deveria ultrapassar os muros da Universidade de Passo Fundo, quem a realiza. “Quando a gente se propõe a ouvir, a gente tem que dar um retorno. Então, nesse ano em que ficamos parados, ficamos em um ‘silêncio produtivo’. Fomos repensar todas as ações, de como teríamos que voltar”, disse ao PublishNews a nova curadora.

“Respondendo a essa demanda da sociedade, resolvemos ‘jornalizar’ Passo Fundo para que a cidade se sentisse protagonista da Jornada”, comentou Fabiane. “Vamos manter a semântica da Jornada, com as suas tendas, e vamos manter a sua essência, que é a formação de leitores, mas estamos fazendo alguns projetos com os quais vamos ‘jornalizar’ a cidade”, completou.

Um desses projetos, adiantou Fabiane, será o lançamento de um aplicativo para celular que traça “rotas leitoras” pela cidade. Por meio de geolocalização e de QR Codes espalhados pela cidade, os usuários podem percorrer os “caminhos literários” da Capital Nacional da Literatura, título que Passo Fundo ostenta desde 2006.

Outra novidade, que já tinha sido anunciada pelo PublishNews em setembro do ano passado, é a ação Livros na mesa: leituras boêmias, que propõe debates e discussão aberta, para a comunidade em geral, em bares da cidade e espaços culturais no período da Jornada, após as 22h. Até o momento, três bares já confirmaram a parceria: Backstage Pub, Maktub e Quina. A ideia é de que a atividade englobe shows musicais, conversa informal entre escritores e leitores com sessões de autógrafos e lançamentos de livros, entre outras atividades. “Queremos que os autores circulem informalmente pelos bares. Não é uma extensão da lona, mas queremos promover a interação entre a cidade e os autores convidados”, comentou.

A 16ª edição, conta com os patrocínios do Banrisul, da Corsan, da Companhia Zaffari e do Bourbon e com o apoio do Ministério da Cultura, além da parceria cultural do Sesc, dentre outras empresas e órgãos.

[23/03/2017 11:36:02]