Entre trancos e barrancos, chegamos ao fim de 2016
PublishNews, Leonardo Neto, 22/12/2016
Confira a retrospectiva dos principais momentos da indústria do livro no Brasil em 2016

Finalmente, 2016 começa a dar adeus. Para quem trabalha com livros, como não poderia ser diferente das crises vividas pelo País, foi um ano difícil. Quedas nas vendas, como aponta o Painel das Vendas de Livros no Brasil, livrarias e editoras encerrando as suas atividades, demissões, atrasos em pagamentos e, no Congresso Nacional, paralisação de todos os projetos que poderiam beneficiar (ou não) a cadeia produtiva do livro. Mas também teve coisas boas: a renovação da Leonardo da Vinci, no Rio e a retomada de programas de compras governamentais suspensos desde 2014. Separamos alguns dos momentos – dos bons e dos ruins -- mais importantes do ano. Confira:

Governo reativa compras do PNBE e do PNAIC, suspensas desde 2014 | © Eduardo Aigner / MEC
Governo reativa compras do PNBE e do PNAIC, suspensas desde 2014 | © Eduardo Aigner / MEC
Compras de governo e a salvação da lavoura

Se 2016 terá um salvador da lavoura, só 2017 dirá, com a chegada dos dados de pesquisas como a feita pela Fipe. Mas, é inegável que a retomada do PNBE Temático e do PNAIC, estacionados desde 2014, ajudará muitas editoras a fechar 2016 no azul. Depois de atrasos sofridos pelo PNBE Temático e do PNLD, o FNDE, responsável pelas compras de livros, anunciou a retomada do PNAIC, que sozinho reforçará o caixa de editoras em R$ 102 milhões.

2016 e os números

O ano de 2016 foi rico em números. O Instituto Pró-Livro divulgou os resultados da Pesquisa Retratos da Leitura, que apontou uma tímida melhora nos índices de leitura do brasileiro. A pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro apelidada de Pesquisa Fipe apontou que a indústria editorial sofreu, no ano passado, a maior queda dos últimos 13 anos e depois mostrou que entre 2005 e 2016, o segmento viveu uma década perdida, com performance abaixo do crescimento do PIB no mesmo período.

Durante 2016, o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e a Nielsen mantiveram a parceria e publicaram mensalmente o Painel das Vendas de Livros no Brasil, que tem apontado sucessivas quedas nas vendas na comparação com o ano anterior.

Em relação ao resto do mundo, o Brasil também perdeu espaço. A corrosão do Real frente moedas estrangeiras – Dólar e Euro – tirou o País do ranking global das maiores editoras do mundo.

Senadora Fátima Bezerra lidera a Frente Parlamentar Mista de Defesa do Livro | © Divulgação
Senadora Fátima Bezerra lidera a Frente Parlamentar Mista de Defesa do Livro | © Divulgação
O livro e o Congresso Nacional

Diante do turbulento ano político, muitos dos projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional relacionados à cadeia do livro ficaram em estado de hibernação. O PL 49/2015, que pretende regulamentar o preço do livro no Brasil, não andou muito. Em fevereiro, o senador Ricardo Ferraço (PSDB / ES) jogou a toalha e desistiu de ser o relator do projeto na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. Na sequência, ainda em fevereiro, o senador Lindbergh Farias (PT / RJ) assumiu a relatoria. De lá para cá, nada mais aconteceu.

Em maio, no mesmo dia em que o Senado votava o pedido de admissibilidade do pedido de impeachment da então presidente Dilma, uma comitiva que incluía o então secretário-executivo do Plano Nacional do Livro e Leitura, José Castilho Marques Neto, e o então diretor do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca do MinC, Volnei Canônica, entregou à senadora Fátima Bezerra (PT / RN) o Projeto de Lei que institui a Política Nacional de Leitura e Escrita. O projeto começou a tramitar no Senado e ganhou relatoria do senador Paulo Paim (PT / RS), na Comissão de Educação, Cultura e Esportes (CE), onde tem decisão terminativa, ou seja, assim que o relatório de Paim for aprovado pela CE, segue para a Câmara dos Deputados – sem ter que passar pelo Plenário do Senado. Em setembro, a Lei Castilho, como ficou apelidada, foi aberta para consulta popular. Até o fechamento desta edição, o placar estava 1.083 votos favoráveis à lei versus 12 contra.

Ainda no Congresso, o deputado Vicentinho (PT / SP) apresentou um projeto de lei que restringe a impressão de livros no exterior e a importação de papel para livros comprados pelo governo. De imediato, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) se posicionou contrária ao projeto. Outro projeto que está estacionado no Congresso é o que quer obrigar que livrarias separem pelo menos 30% de suas vitrines para livros escritos por autores nacionais. O projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados e foi para a CE do Senado, onde desde outubro e até hoje espera pela nomeação de um relator.

Com a conclusão da venda dos ativos editoriais da Saraiva para a Somos Educação, Claudio Lensing assumiu os selos técnicos e trade da Editora Saraiva | © Divulgação
Com a conclusão da venda dos ativos editoriais da Saraiva para a Somos Educação, Claudio Lensing assumiu os selos técnicos e trade da Editora Saraiva | © Divulgação
Consolidação

O movimento de consolidação do mercado editorial – visto por muitos como irreversível – teve passos importantes durante 2016. O ano começou com a conclusão da compra dos ativos editoriais da Saraiva pela Somos Educação. Em julho, a editora alemã Thieme comprou a Revinter, editora brasileira especializada em livros médicos. Mais recentemente, a Alta Books anunciou que estava absorvendo parte do catálogo da Elsevier. Em setembro, a SBS comprou a Bookess, plataforma de autopublicação pioneira no mercado brasileiro.

O ano para as entidades do livro

O ano foi de se posicionar. Além de ter ido contra o projeto de lei que restringiria a impressão e compra de papel no exterior, a CBL foi incisiva com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) na cobrança do pagamento do PNBE Temático. A entidade se posicionou ainda, de forma incisiva, contra o aumento do preço do papel e logo ganhou apoio da Associação Nacional dos Distribuidores de Papel (Andipa).

Na Associação Nacional de Livrarias (ANL), houve mudanças na direção. Depois da renúncia de Afonso Martin, que encerrou as atividades da sua livraria, novas eleições foram convocadas e Bernardo Gurbanov assume prometendo renovação. Em dezembro, Gurbanov lidera a redação do Manual de boas práticas do setor livreiro.

Daniel Louzada assume e reabre a livraria Leonardo da Vinci, no Rio de Janeiro | © Divulgação
Daniel Louzada assume e reabre a livraria Leonardo da Vinci, no Rio de Janeiro | © Divulgação
Livrarias

A Saraiva, dona de um marketshare de 25%, segundo a GfK, foi protagonista de uma das novelas mais quentes do ano. Em maio, um grupo de sócios minoritários capitaneados pelo coreano Mu Hak You se levantou contra a administração da varejista. A família Saraiva acusou You de invadir a sede da empresa enquanto o investidor, que conquistou cadeiras no Conselho de Administração e no Conselho Fiscal, divulgava uma possível insolvência da companhia. Em outubro, depois de perder espaço, o coreano joga a toalha e começa a reduzir a sua participação societária na empresa.

No Rio de Janeiro, Daniel Louzada assume a Leonardo da Vinci e dá cara nova à tradicionalíssima livraria carioca. A Vila e a Saraiva expandem suas redes. A Vila com nova loja em Londrina (PR) e a Saraiva com nova unidade em Franca (SP). A Blooks fechou parceria com a Kobo e passa a vender livros digitais pela plataforma da empresa nipo-canadense.

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[22/12/2016 11:44:00]