Nos 50 anos da Disal, diretor declara: ‘estamos prontos para quando a economia voltar a crescer’
PublishNews, Leonardo Neto, 08/12/2016
Francisco Canato falou com o PublishNews sobre as cinco décadas da empresa que dirige e fez um panorama da distribuição de livros no Brasil

Francisco Canato: 'Nos últimos três anos, apesar desse momento de crise, investimos e estamos prontos para quando a economia voltar a crescer' | © Divulgação
Francisco Canato: 'Nos últimos três anos, apesar desse momento de crise, investimos e estamos prontos para quando a economia voltar a crescer' | © Divulgação

Em 1967, dois editores brasileiros – Ênio Matheus Guazzelli, da Editora e Livraria Pioneira, de São Paulo, e Reynaldo Bluhm, da Ao Livro Técnico, do Rio de Janeiro – perceberam que tinham uma oportunidade nas mãos: criar uma distribuidora de livros. Nessa altura da história do livro no Brasil, poucos se aventuravam a empreender uma iniciativa como essa. Foi aí o início da história da Disal que, em 2017, completa 50 anos. “Ênio e Reinaldo entraram com livros e Carlos Cohn, da livraria Palácio do Livro, que ficava na Praça da República, entrou com prateleiras, algumas máquinas Remington e calculadoras Olivetti, uma kombi velha e três funcionários que trabalharam conosco até quase o fim de suas vidas”, lembra Francisco Canato, hoje diretor da empresa.

Oito anos mais tarde, em 1975, a distribuidora vivia o seu primeiro turning point. “A Disal já distribuía livros de algumas editoras e percebemos que havia uma necessidade de trazer livros de idiomas, principalmente em inglês, para atender escolas”, recorda Francisco, que foi conduzido ao cargo de diretor comercial da empresa justamente nesse ano. A decisão refletiu na história da Disal, que hoje é um dos principais importadores e distribuidores de livros e materiais didáticos para o ensino de idiomas no Brasil. Conta com mais de 300 editoras e 300 mil títulos comercializados.

Fachada da atual sede da empresa, em São Paulo | © Divulgação
Fachada da atual sede da empresa, em São Paulo | © Divulgação
O momento atual e os desafios da distribuição de livros no Brasil

Francisco se orgulha em dizer que, nos 50 anos de história da Disal, a companhia teve prejuízo uma única vez, em meados da década de 1980. “Foi um prejuízo pequeno. Nesses anos todos, nunca tivemos dívidas em banco, nunca descontamos um título sequer”, disse. Mas, o diretor – que enfrentou os anos duros da ditadura militar e viveu todos os planos econômicos pós-redemocratização – observa que esses tempos atuais não estão sendo fáceis. “Com toda honestidade, não vi uma crise como essa que estamos vivendo agora. Não é só a crise na economia. É uma crise de valores”, observa.

“Mas a Disal não para. Nos últimos três anos, apesar desse momento de crise, investimos e estamos prontos para quando a economia voltar a crescer. Melhoramos nossos processos, conseguimos enxugar a nossa estrutura e estamos abrindo novas filiais [de livrarias próprias] o que nos possibilita conquistar novos mercados”, observou. Em janeiro, Francisco adiantou ao PublishNews que abrirá duas novas unidades: em Campinas, no interior paulista, e em São Caetano, na Grande São Paulo.

Direção da Disal no início da história da empresa que, em 2017, completa 50 anos | © Divulgação
Direção da Disal no início da história da empresa que, em 2017, completa 50 anos | © Divulgação
Contudo, o distribuir pontua que o atual modelo da cadeia do livro não se sustenta. “Há 30 anos, fiz uma palestra em Caxambu e, lá, fiz um paralelo entre as indústrias farmacêutica e a do livro. Da mesma forma que a indústria farmacêutica tem o propagandista, que visita os médicos, a do livro tem o promotor, que visita as escolas. A diferença é que o propagandista não vende o remédio e o promotor faz a venda direta nas escolas”, observou. Francisco observa que, desde a sua palestra em Caxambu, a indústria farmacêutica viu crescimentos que chegaram a 20% ao ano e uma a ampliação significativa dos seus pontos de vendas. Quadro bem diferente da indústria editorial. “Antes desta prática [da venda direta de livros, sobretudo os didáticos], as livrarias ganhavam dinheiro com o período escolar e usava isso para se manter durante o ano. Hoje isso não é mais possível”, completou.

Além disso, o distribuidor defende que algumas práticas precisam mudar. “A consignação, por exemplo, se tornou uma prática corrente. O que poucos percebem é que quando o livreiro compra, ele vai ter um esforço maior para vender. O esforço de uma mercadoria em consignação é diferente. O setor vai ter que se redescobrir e livreiros e editores precisam ser mais parceiros”, decretou.

Veja algumas fotos históricas da Disal

Setor de expedição da empresa nos anos 1990 | © Divulgação
Setor de expedição da empresa nos anos 1990 | © Divulgação

Até 1993, a Disal ficava no número 302 da rua Vitória, no centro de São Paulo | © Divulgação
Até 1993, a Disal ficava no número 302 da rua Vitória, no centro de São Paulo | © Divulgação

Depois de 1993, a empresa se mudou para o número 486 da mesma rua Vitória, ampliando o seu espaço de 800 m² para 2 mil m² | © Divulgação
Depois de 1993, a empresa se mudou para o número 486 da mesma rua Vitória, ampliando o seu espaço de 800 m² para 2 mil m² | © Divulgação

De 2001 até 2011, a Disal ficou instalada em um prédio próprio na Rua Marques de São Vicente. Depois se mudou para o atual endereço, na Marginal Tietê | © Divulgação
De 2001 até 2011, a Disal ficou instalada em um prédio próprio na Rua Marques de São Vicente. Depois se mudou para o atual endereço, na Marginal Tietê | © Divulgação

Os sócios e diretores da empresa: Renato Guazzelli, filho de Ênio Matheus Guazzelli, fundador da empresa, e Francisco Canato | © Divulgação
Os sócios e diretores da empresa: Renato Guazzelli, filho de Ênio Matheus Guazzelli, fundador da empresa, e Francisco Canato | © Divulgação

[09/12/2016 09:16:00]