China, um território a ser conquistado (e o primeiro passo foi dado)
PublishNews, Leonardo Neto, 06/12/2016
Depois de participar da Feira do Livro de Xangai, autores e ilustradores brasileiros são convidados para turnê pelo interior do país

Volnei Canônica, Marcelo Pimentel, Roger Mello, Mariana Massarani, Graça Lima e Marina Colassanti compuseram a comitiva brasileira na Feira do Livro de Xangai, na China | © Divulgação
Volnei Canônica, Marcelo Pimentel, Roger Mello, Mariana Massarani, Graça Lima e Marina Colassanti compuseram a comitiva brasileira na Feira do Livro de Xangai, na China | © Divulgação

“A China decidiu que vai ser o país número um quando o assunto é literatura infantil e para isso, precisam de uma chancela internacional”, explicou Volnei Canônica, colunista do PublishNews e diretor do Centro de Leitura Quindim, organização que assinou a curadoria do Seminário Internacional da Literatura Infantil Brasileira, que integrou a programação da Feira Internacional do Livro para Crianças de Xangai, na China.

Volnei, que voltou há pouco para o Brasil e já embarcou para a Colômbia, defendeu, em uma conversa com o PublishNews, que o Brasil precisa descobrir a China. “A Feira de Xangai é um território muito pouco explorados pelos brasileiros. Até o ano passado, pelo que tenho notícias, só a Editora Cortez ia para a Feira”, comentou sobre o evento que reuniu, nesta última edição, 350 expositores de 40 países e é a maior feira do gênero em toda a Ásia. “A China é um mercado potencial onde a tiragem inicial de um livro é de, pelo menos, 20 mil exemplares e onde crianças leem, em média, nove livros por ano”, comentou.

Comitiva brasileira na entrada da Feira do Livro Infantil de Xangai | © Divulgação
Comitiva brasileira na entrada da Feira do Livro Infantil de Xangai | © Divulgação

“O país está em um momento em que está deixando de lado o uso de cartilhas e se abrindo para a literatura infantil universal e tem demonstrado um interesse muito grande para o que é feito no Brasil”, comentou Volnei. Prova disso é Roger Mello, um dos que compôs a comitiva que esteve em Xangai no mês passado. Ele já ganhou, em 2014, o prêmio Chen Bochui, considerado o Prêmio Nobel da Literatura Infantil na Ásia; e assina com o chinês Cao Wenxuan, autor vencedor da última edição do Hans Christian Andersen, os livros Borboleta limão e A pena, ainda inéditos no Brasil, e prepara um livro em que conta a história da China.

Além de Roger Mello, estiveram na China a escritora Marina Colasanti e os ilustradores Graça Lima, Mariana Massarani e Marcelo Pimentel. “Conseguimos levantar essa programação em um tempo muito curto. Foram apenas 40 dias e, mesmo assim, fizemos um barulho muito grande em Xangai. Era como se o Brasil fosse o país homenageado na feira”, comentou Volnei ao PublishNews. E isso com um orçamento muito reduzido também. O governo brasileiro, por meio do Itamaraty, apoiou com as passagens, a Feira de Xangai entrou com a hospedagem, alimentação e transporte dentro da cidade, os autores abriram mão dos seus cachês e o Centro de Leitura Quindim, dirigido por Canônica, cuidou da curadoria, tradução dos materiais e organização da viagem. “Essa iniciativa mostra que é possível fazer ações de alto impacto a um custo muito baixo”, defendeu Volnei.

Volnei sustenta ainda que a participação do Brasil em feiras internacionais precisa ir além da ida de autores aos eventos. “É preciso que os nossos autores sejam mais conhecidos no exterior. É preciso fazer uma promoção de seus nomes em escolas, universidades, bibliotecas e em centros culturais. Só a tradução não é suficiente para que o mundo conheça a nossa literatura. É preciso investir na difusão cultural dos nossos autores. Para o editor internacional é importante ver o autor atuando”, defendeu.

Além disso, Volnei acredita que a escolha dos criadores em eventos como este precisa de uma curadoria mais cuidadosa. “Precisamos apresentar escritores e ilustradores que já tenham lastros e novos criadores que estão despontando no mercado, mas que já tenham uma linguagem que pode ter uma boa entrada em outros mercados”, argumentou.

Volnei Canônica, Marina Colasanti e Mariana Massarani em Xangai | © Divulgação
Volnei Canônica, Marina Colasanti e Mariana Massarani em Xangai | © Divulgação
A recepção na China

Volnei adiantou ao PublishNews que todos os criadores que estiveram na Feira de Xangai voltaram para o Brasil com indicação para publicação na China. Além disso, durante a visita, os criadores foram convidados pela megaeditora CCPPG, casa de Roger Mello no país, para visitarem Pequim. Essa ida a Pequim rendeu um outro convite para maio, quando uma nova delegação de criadores brasileiros deverá percorrer uma turnê por cidades no interior da China.

Para Randy Wang, diretor da Feira de Xangai, a ida dos brasileiros a Xangai serviu para mostrar o potencial do mercado chinês. “Nós acolhemos calorosamente nossos visitantes do Brasil e esperamos que a feira tenha mostrado a eles o mercado dinâmico e todas as oportunidades disponíveis na China para editores, autores e ilustradores internacionais”, comentou.

[06/12/2016 10:36:00]